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Cresce a prática de autoaborto no Texas

Médicos alertam para o risco do aumento da prática no extremo sul dos Estados Unidos após o fechamento de várias clínicas

Estudantes da Universidade do Texas durante um protesto a favor do direitos das mulheres pelo aborto, em Austin (Jana Birchum/Getty Images)

Estudantes da Universidade do Texas durante um protesto a favor do direitos das mulheres pelo aborto, em Austin (Jana Birchum/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2014 às 22h13.

Austin - A mulher grávida consegue o remédio sem receita, toma a quantidade indicada por rumores populares e perde em casa o feto. Médicos e especialistas do Texas alertam para o risco do aumento da prática no extremo sul dos Estados Unidos após o fechamento de várias clínicas de aborto.

A legislação que restringe o aborto no Texas, que entrou em vigor em outubro, endureceu as condições para médicos e pacientes, e desde então várias clínicas fecharam.

Estima-se que atualmente apenas 24 clínicas ofereçam o serviço no Texas, quase a metade do que em 2011, segundo dados das organizações provedoras.

"As restrições da lei do aborto costumam provocar um crescimento do 'autoaborto'", alertou à Agência Efe Dan Grossman, pesquisador da Ibis Reproductive Health e um dos maiores estudiosos da prática nos Estados Unidos.

No sul do Texas, ressaltou, se somam à norma um dos níveis de pobreza mais elevados do país, a popularidade das técnicas de aborto induzido entre a população latina, a proximidade com o México para contrabandear medicamentos e uma notável porcentagem de mulheres sem documentos.

As duas únicas clínicas do vale do rio Grande, na fronteira com o México, que tem 1,3 milhão de habitantes, mais de 85% deles latinos, fecharam. Elas não conseguiram, como determina a nova lei, que um hospital da região - boa parte deles tem afiliação religiosa - autorizasse seus médicos a realizar abortos.

"Há mulheres que tratam de terminar desesperadamente por si mesmas com a gravidez", advertiu Andrea Ferrigno, vice-presidente da Whole Woman's Health, entidade que administrava a última clínica que fechou ali.


"Um remédio que é administrado sem supervisão médica e com fins diferentes ao que foi elaborado pode levar a hemorragias e a abortos incompletos", lamentou.

A fórmula mais utilizada é o uso de remédios que contenham Misoprostol, remédio para úlcera que tem como efeito secundário a indução do aborto, comumente utilizado em países onde é ilegal. No Brasil ele é conhecido comercialmente como Cytotec, e está proibido desde 1998.

"O Misoprostol é vendido sem receita em alguns mercadinhos do Texas e do México", explicou o médico Lester Minto, de outra clínica que fechou na região. Também há mulheres texanas que recorrem a ervas, substâncias tóxicas e até golpes na barriga.

O Departamento de Saúde do Texas, consultado pela Efe, disse não dispor de dados relativos aos "autoabortos" e uma porta-voz lembrou que há clínicas que ainda operam em todo o estado.

Sem centros no vale do rio Grande, as mulheres têm que percorrer em média quatro horas de estrada de ônibus, o que encarece o preço do aborto e as força a perder dias de trabalho e a se explicar à família.

Além disso, no caminho elas correm o risco de se deparar com pontos de controle de imigração, frequentes nas estradas do interior do Texas, o que faz com que migrantes ilegais desistam da viagem.

Outras optam por atravessar até o México e em alguns casos se arriscarem a ser presas na volta aos Estados Unidos, uma prática que o relatório "Nosso Texas", publicado em 2013, já advertia.

Dan Grossman ressaltou que, antes da nova lei do aborto, o Texas já contava com níveis de aborto induzido superiores à média nacional.

Segundo ele, 7% das texanas que iam até uma clínica de aborto tinham recorrido antes a substâncias de indução, na fronteira esse número alcança 12%, enquanto no país nem chega a 2%.

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