Comissão sobre invasão do Capitólio: episódio é visto até hoje como um dos momentos mais críticos da história da política norte-americana (Drew Angerer/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 13 de junho de 2022 às 06h00.
Mais de um ano depois da insurreição no Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, o caso volta ao centro do debate americano neste mês. Acontece nesta segunda-feira, 13, uma segunda das várias audiências públicas marcadas sobre o episódio, que apresentarão à população norte-americana os resultados da investigação de uma comissão bipartidária no Congresso.
A primeira audiência aconteceu na última quinta-feira, 9, e começou com a tensão elevada. Logo de cara, o presidente da comissão, Bennie Thompson (Democrata), disse que o ataque ao Capitólio foi uma tentativa de golpe do ex-presidente Donald Trump — “uma conspiração de várias etapas com o objetivo de derrubar o governo eleito”, nas palavras do deputado.
Enquanto a quinta-feira trouxe os primeiros depoimentos, o dia hoje deve ter como foco especialmente a recusa do ex-presidente Trump (do Partido Republicano) em aceitar o resultado da eleição, que teve vitória do atual presidente, Joe Biden (do Partido Democrata).
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Entre os depoimentos que devem ser exibidos e que foram coletados pela comissão, estão o de um procurador de Atlanta, na Geórgia, que renunciou após se recusar a dizer que houve fraude nas eleições do estado.
Outro ouvido é um ex-editor de política da Fox News, Chris Stirewalt. Na Fox, cuja linha editorial é mais favorável a Trump e ao Partido Republicano, Stirewalt anunciou (corretamente) ao vivo a projeção de que Biden havia ganhado a eleição no Arizona, o que teria irritado a campanha de Trump.
A comissão também deve mostrar evidências e depoimentos que comprovariam que a equipe de Trump sabia desde o início de novembro (isto é, logo após a eleição) que não houve fraude. O grupo decidiu seguir acusando irregularidades inexistentes para insuflar apoiadores, o que terminaria culminando na invasão ao Capitólio pouco mais de um mês depois.
Ao longo dos últimos 11 meses, os deputados democratas e republicanos na comissão ouviram centenas de testemunhas e assistiram a horas de gravações sobre aquele dia.
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A invasão ao Capitólio é vista até hoje como um dos momentos mais críticos da história da política norte-americana.
Na ocasião, centenas de pessoas invadiram o Congresso enquanto congressistas votavam a confirmação da vitória de Biden — um rito que, historicamente, é apenas protocolar, mas virou motivo de caos nacional com as acusações de fraude perpetuadas pelos apoiadores de Trump. Ao todo, sete pessoas morreram após a invasão, incluindo dois oficiais de segurança que se suicidaram.
As audiências públicas ocorrerão ao longo de todo o mês de junho. Os eventos têm recebido grande atenção nos EUA, com transmissão ao vivo das principais redes de televisão norte-americanas (com exceção da Fox News, que novamente não transmitirá a audiência desta segunda-feira).
As audiências são importantes por serem a conclusão da longa investigação da comissão parlamentar, mas ainda não está claro o quanto podem, na prática, resultar em punições aos envolvidos na invasão do Capitólio.
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As lembranças do 6 de janeiro são sempre um ponto delicado para o Partido Republicano, que ainda tem Trump em seus quadros e uma vez que parte da legenda apoiou as acusações do ex-presidente. As audiências acontecem meses antes de eleições legislativas de meio de mandato marcadas para janeiro. A expectativa até agora é que os republicanos reconquistem algumas cadeiras no Congresso e façam os democratas perderem a atual maioria, o que não deve mudar apesar do desgaste da comissão.
A comissão bipartidária também tem membros republicanos, nomes que foram mais abertamente contra as investidas de Trump na época da invasão. O deputado Adam Kinzinger, do estado de Illinois e um dos republicanos na comissão, voltou a criticar duramente Trump em entrevista nesse fim de semana. “Eu acho que ele não acreditava nisso [que houve fraude]. E eu acho que as pessoas ao redor dele não acreditavam. Isso tudo foi sobre manter o poder, indo contra a vontade da população americana”, disse.