Fila em Hong Kong: número de casos na China já supera 4.500 (Tyrone Siu/Reuters)
AFP
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 06h50.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 06h52.
São Paulo — Vários países, como Estados Unidos, França e Japão, se mobilizam para retirar seus cidadãos de Wuhan, região que é o epicentro da epidemia de coronavírus que provocou 106 mortes na China e tem mais de 4.500 pessoas infectadas.
Wuhan, cidade do centro do país que onde o novo coronavírus foi detectado em dezembro, e quase toda a província de Hubei estão isoladas do mundo desde quinta-feira por ordem das autoridades para tentar frear a epidemia. Quase 56 milhões de habitantes estão confinados.
O confinamento deixou milhares de estrangeiros retidos na região. Para retirá-los, Estados Unidos, França e Japão preparam operações de emergência.
O governo japonês anunciou que enviará um avião nesta terça-feira a Wuhan para retirar 200 cidadãos do país e aproveitará a oportunidade para entregar "máscaras e trajes de proteção" às autoridades locais.
Médicos estarão a bordo e as pessoas com sintomas como febre alta serão levadas diretamente para o hospital no desembarque. Quase 650 japoneses de Wuhan expressaram o desejo de retornar ao país e o governo planeja novos voos de repatriação.
Um voo para retirar funcionários do consulado dos Estados Unidos em Wuhan deve partir na manhã de quarta-feira (hora da China) com destino à Califórnia, anunciou o Departamento de Estado. Outros assentos serão oferecidos a cidadãos americanos "dependendo dos lugares disponíveis".
A França também prepara uma operação para retirar seus cidadãos e outros europeus da região. Uma lista de 500 pessoas já foi estabelecida pelo consulado local, mas o número pode chegar a 1.000, já Wuhan recebe muitos estudantes franceses, além das fábricas da Renault e PSA.
As pessoas retiradas serão submetidas a um período de quarentena.
O número de vítimas fatais aumentou para 106 e o de casos confirmados supera 4.500 na China, de acordo com o balanço oficial atualizado. A cidade de Pequim informou na segunda-feira a primeira morte provocada pelo coronavírus, um homem de 50 anos que retornara de Wuhan.
Outros 50 pacientes foram registrados no resto do mundo e mais de 10 países foram afetados pelo vírus, na Ásia, Austrália, Europa e América do Norte.
Na segunda-feira, a Alemanha confirmou o primeiro caso de contágio e se tornou o segundo país afetado na Europa, depois da França.
A propagação do vírus aumenta a ansiedade e a série de medidas de contenção. Muitos países reforçaram a precaução nas fronteiras. A Mongólia fechou a passagem terrestre com a China.
A Malásia proibiu a estadia de pessoas procedentes de Hubei. Vários países recomendaram que seus cidadãos evitem viajar para esta província, mas a Alemanha ampliou o conselho para toda a China. O governo dos Estados Unidos fez o mesmo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera a ameaça "alta", mas sem ativar um alerta de saúde internacional, afirmou na segunda-feira que ainda não sabe se os infectados são contagiosos antes de apresentar os sintomas da doença, o que contradiz as declarações de funcionários da área de saúde da China.
A ameaça de propagação é considerável. O prefeito de Wuhan admite que cinco milhões de pessoas deixaram a cidade de 11 milhões de habitantes antes do Ano Novo chinês, celebrado em 25 de janeiro.
As autoridades chinesas decidiram prolongar por três dias, até 2 de fevereiro, o feriado de Ano Novo (sete dias de recesso), para adiar as viagens de retorno para suas cidades de centenas de milhões de trabalhadores migrantes e reduzir o risco de propagação da epidemia.
Além disso, o início do semestre letivo nas escolas e universidades foi adiado, informou o ministério da Educação, sem divulgar a nova data de recomeço das aulas.
A Administração Nacional de Imigração também recomendou aos moradores da China continental que adiem os planos de viagem ao exterior.
"Reduzir os deslocamentos entre fronteiras ajuda a controlar a epidemia", afirmou a agência, que explicou ter adotado a recomendação "para proteger a saúde e a segurança de chineses e estrangeiros".
Wuhan parece uma cidade fantasma. Lojas permanecem fechadas e as autoridades proibiram a circulação de veículos não essenciais.
Nos hospitais, a situação permanece caótica: os pacientes precisam esperar por horas antes do atendimento. A construção de dois hospitais, com 1.000 leitos cada, deve terminar na próxima semana.
O primeiro-ministro Li Keqiang visitou a cidade na segunda-feira para verificar a situação.
"A capacidade de propagação do vírus aumentou, mas não é tão potente como a SARS", afirmaram autoridades chinesas, em referência à síndrome respiratória aguda grave, que deixou centenas de mortos no país no início dos anos 2000.