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Coreia do Norte anuncia morte acidental de diplomata

Kim Yang-Gon, diplomata de carreira, trabalhou para as três gerações da dinastia dos Kim, que governam com mão de ferro a Coreia do Norte há seis décadas


	Kim Yang Gon: em seu comunicado, o KCNA apresenta o falecido como "o camarada mais querido e mais digno de confiança de Kim Jong-Un"
 (Han Jae-Ho / Reuters)

Kim Yang Gon: em seu comunicado, o KCNA apresenta o falecido como "o camarada mais querido e mais digno de confiança de Kim Jong-Un" (Han Jae-Ho / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2015 às 11h51.

Um dos principais diplomatas norte-coreanos, considerado muito próximo ao dirigente Kim Jong-Un, morreu em um acidente de trânsito, anunciou nesta quarta-feira a agência KCNA, uma morte que poderá afetar os esforços de reconciliação com a Coreia do Sul.

"O camarada Kim Yang-Gon, um secretário do Partido dos Trabalhadores e membro do birô político do Comitê Central do partido, morreu em um acidente de circulação às 06H15 de terça-feira, aos 73 anos", indicou o KCNA, sem precisar as circunstâncias do acidente.

Kim Yang-Gon, diplomata de carreira, trabalhou para as três gerações da dinastia dos Kim, que governam com mão de ferro a Coreia do Norte há seis décadas.

Em seu comunicado, o KCNA apresenta o falecido como "o camarada mais querido e mais digno de confiança de Kim Jong-Un", que presidirá nesta quinta-feira funerais de Estado.

A agência classifica, além disso, de "grande perda" para o partido e o povo norte-coreanos, elogiando a "admirável lealdade e competência" de Kim Yang-Gon.

Ele desempenhou um papel-chave na realização de uma conferência em 2007 entre o então líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Il, e o presidente sul-coreano da época, Roh Moo-Hyun.

"Ninguém pode substitui-lo"

Depois da morte repentina de Kim Jong-Il em 2011, Kim Yang-Gon se converteu em um conselheiro próximo ao novo líder, a quem aconselhava sobre as relações intercoreanas e internacionais em geral.

Em agosto, foi um dos dois delegados norte-coreanos nas negociações com o Sul, que permitiram frear uma perigosa escalada entre os dois países.

Estas discussões resultaram no acordo de 25 de agosto, em virtude do qual Pyongyang e Seul se comprometeram em promover intercâmbios, especialmente em termos civis.

O acordo permitiu novas reuniões entre famílias coreanas separadas desde a Guerra da Coreia (1950-1953), apesar de as negociações posteriores terminarem sem resultados tangíveis em inúmeros pontos de discórdia entre Norte e Sul.

Neste contexto, a morte de Kim poderá prejudicar os esforços de diálogo entre ambas Coreias.

"Terá um impacto negativo nas relações intercoreanas", analisa Yang Moo-Jin, professor da Universidade de Estudos norte-coreanos de Seul.

O anúncio da morte de Kim Yang-Gon, considerado um político moderado, também preocupa a Coreia do Sul sobre uma possível nova manobra do vizinho do Norte, onde outros dirigentes morreram em supostos acidentes de trânsito.

O diplomático Kim Yong-Sun, que contribuiu para a organização da histórica cúpula de 2000 entre o presidente sul-coreano Kim Dae-Jung e Kim Jong-Il, também perdeu a vida em um acidente de trânsito em 2003.

Ri Je-Gang, outro alto dirigente, teve a mesma sorte em 2010, quando se dizia que estava mergulhado numa luta de poder com Jang Song-Thaek, tio do dirigente Kim Jong-Un.

O próprio Jang, que sobreviveu a um acidente de carro em 2006, morreu em dezembro de 2013 executado por traição.

A agência sul-coreana Yonhap afirma que a explicação para tantos acidentes pode ser a propensão dos dirigentes de dirigir após festas regadas a muito álcool.

Número dois

Por outro lado, o ex-braço direito do líder norte-coreano Kim Jong-Un voltou a fazer parte do círculo mais íntimo do poder depois de ter ficado afastado por um tempo.

De acordo com vários analistas, a mudança de sorte de Choe Ryong-Hae indica que o jovem líder aceitou submeter-se a uma linha mais suave de comportamento, depois de ganhar fama de ser intratável e responsável pela eliminação de vários altos comandantes.

A reabilitação de Choe ficou evidente com o anúncio da lista de pessoas presentes no funeral de Estado de Kim Yang-Gon.

"As reabilitações de altos comandantes este ano fazem pensar que Kim Jong-Un pode estar recuando em seu reinado de terror", comentou Cheong Seong-Chang, do Instituto Sejong de Seul.

Choe, um vice-marechal considerado por muito tempo o número dois do regime, foi enviado no mês passado para uma fazenda para ser reeducado, segundo os serviços de inteligência sul-coreanos.

Segundo Seul, o dirigente foi castigado pelo vazamento de água em uma central de energia.

Outro militar punido e que reaparece na lista do funeral é Won Dong-Yon, vice-diretor de um departamento dirigido pelo falecido Kim Yang-Gon.

De acordo com Cheong, Kim Jong-Un habría reabilitou Won para substituir Kim Yang-Gon.

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