Trump e Melania: alguns acreditam que a primeira-dama busca apenas se opor às posições polêmicas do marido e ressaltar aquilo que ela não aprova (Kevin Lamarque/Reuters)
EFE
Publicado em 23 de agosto de 2018 às 09h09.
Washington - A primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, decidiu se envolver em uma campanha contra o assédio nas redes sociais, uma iniciativa que seria louvável não fosse o fato de seu marido, Donald Trump, ter tornado os insultos pelo Twitter uma de suas principais ferramentas políticas.
Melania decidiu dedicar a posição que exerce na campanha "Be Best" (Seja Melhor) com o objetivo de promover iniciativas que incentivem as crianças a melhorar seus comportamentos na vida real e nas redes sociais.
No entanto, o projeto, apresentado nesta semana, recebeu um tsunami de críticas devido à contradição evidente entre as intenções de Melania e as atitudes de Trump, que na semana passada usou o Twitter para chamar uma ex-assessora de "cadela" e "escória".
A porta-voz da primeira-dama, Stephanie Grisham, afirmou que a campanha é sincera e que Melania só busca ajudar as crianças a lidar com muitos dos assuntos com os quais elas lidam hoje.
"Ela está ciente das críticas, mas elas não a impedirão de fazer o que considera que é correto. O presidente está orgulhoso do compromisso de Melania com a infância e a apoia em tudo que ela faz", afirmou a porta-voz.
Esta não é a primeira vez que a primeira-dama promove uma causa totalmente oposta às ações do marido. Caso similar já havia ocorrido quando Melania foi à fronteira para visitar as crianças imigrantes que tinham sido separadas de seus pais ao chegar ao país, um resultado pela política de "tolerância zero" do governo Trump.
Na ocasião, Melania se tornou o centro das atenções ao usar em uma visita ao Texas uma jaqueta que trazia a seguinte mensagem nas costas: "I really don't care. Do you?" (Realmente não me importo. E você?)
Em Washington, alguns acreditam que a primeira-dama busca apenas se opor às posições polêmicas do marido e ressaltar aquilo que ela não aprova. No entanto, outros consideram que esta é uma estratégia política da Casa Branca para "limpar a barra" do presidente.
Os primeiros usam como argumento o pouco apoio que Melania teve do presidente para promover as iniciativas. Sobre o ciberassédio, por exemplo, o "The New York Times" publicou uma matéria na semana passada afirmando que Trump pediu a esposa para desistir do projeto.
No entanto, a maioria dos analistas vê o paradoxo como uma tentativa do governo americano de minimizar as polêmicas criadas pelo próprio presidente.
"Há um esforço em utilizar Melania para neutralizar os tweets agressivos e ofensivos do presidente. Mas ninguém acha que isso funcionará", afirmou Steffen Schmidt, professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Iowa, à Agência Efe.
"Só os trumpistas mais apaixonados acham isso aceitável. É estranho e inédito na política", avalia o especialista.
O respeitado comentarista Chris Cilizza, da "CNN", que na infância foi vítima de assédio, questionou por que a primeira-dama não pede o presidente para moderar a linguagem nas redes sociais.
"Se ela se importa tanto (com o ciberassédio), por que não pedir ao marido para deixar de fazê-lo? Ou pelo menos tentar diminuir o ritmo?", escreveu Cilizza em um recente artigo.
"Se há uma boa resposta para a pergunta, não a ouvimos nem da primeira-dama nem de sua equipe. E esse silêncio afeta gravemente um trabalho muito bom sobre um tema importante que ela está tentando fazer. O que é realmente infeliz", disse o comentarista. EFE