Em um gesto de solidariedade com a Argentina, os líderes decidiram proibir que barcos com a bandeira das Ilhas Malvinas atraquem em portos do Mercosul (Norberto Duarte/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de dezembro de 2011 às 07h40.
Montevidéu - Os países do bloco Mercosul autorizaram na terça-feira seus membros a elevar individualmente as tarifas de importação, buscando proteger suas indústrias de uma avalanche de "importações depredatórias" impulsionadas pela crise global.
Reunidos na cúpula semestral do bloco, os líderes de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai concordaram em flexibilizar sua união aduaneira para combater o que a presidente Dilma Rousseff definiu como "uma avalanche de importações depredatórias que comprometem o crescimento e o emprego." O Mercosul também decidiu criar comissões para buscar acelerar o demorado ingresso da Venezuela no bloco, impedido pelo Congresso do Paraguai, e para atender o pedido do Equador para juntar-se à união aduaneira sul-americana.
Além disso, em um gesto de solidariedade com a Argentina, os líderes decidiram proibir que barcos com a bandeira das Ilhas Malvinas, um arquipélago cuja soberania os argentinos reclamam à Grã-Bretanha, atraquem em portos do Mercosul.
As economias sul-americanas tiveram um crescimento veloz nos últimos anos, mas sua expansão enfrenta uma desaceleração por causa do impacto da crise global.
Dilma advertiu contra efeitos indesejados dessa crise e convocou seus colegas a "ações articuladas" para evitar a entrada no Mercosul de produtos que não encontrem mercado por causa da temida recessão global.
"Temos razões para nos preocupar com a perspectiva de uma recessão global em meio a uma brusca contração. Devemos ser precavidos contra todas essas possibilidades", disse Dilma.
Nesse sentido, foi decidido na reunião de mandatários "ampliar o alcance da lista de produtos incluídos na tarifa externa comum (TEC), o que permitirá "uma gestão flexível, integrada e estratégica do comércio regional", acrescentou.
A TEC é a coluna vertebral da união aduaneira e sua flexibilização permitirá a seus membros um manejo mais independente da política de defesa comercial.
"Estamos vivendo uma situação preocupante na economia internacional com a crise na zona do euro, a deterioração das dívidas soberanas e a fragilização dos sistemas financeiros dos países desenvolvidos", afirmou Dilma, que recomendou políticas coordenadas para combater o dumping e o subfaturamento.
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, também advertiu sobre os efeitos da crise global. "Esta crise manifesta o limite da reprodução financeira especulativa em que prevalecem os interesses dos mercados e das empresas", afirmou.
Comoção - A programação da cúpula do Mercosul sofreu um grande atraso por causa da morte de um jovem funcionário argentino integrante da comitiva da presidente Cristina Kirchner.
Iván Heyn, economista e subsecretário de Comércio Exterior da Argentina, de 33 anos, foi encontrado morto em um quarto do luxuoso hotel Radisson, onde habitualmente ficam as comitivas estrangeiras na capital uruguaia.
Ao saber do falecimento, atribuído pelas autoridades a um suicídio, Cristina abandonou temporariamente a sala onde deliberavam os mandatários do bloco. A foto costumeira dos participantes da cúpula foi suspensa.
Assistiram à cúpula do Mercosul os presidentes da Venezuela e do Equador, Hugo Chávez e Rafael Correa, que buscam que seus países sejam admitidos como membros plenos do bloco.
O Mercosul ainda firmou um acordo de livre comércio com a Autoridade Palestina, que se soma aos já vigentes com Israel e Egito.
Por esse convênio, terão desoneração imediata produtos de interesse exportador prioritário palestino, como azeite de oliva, alimentos, pedras e mármores.