Madri - A infecção por ebola de uma auxiliar de enfermagem na Espanha, primeiro caso de contágio fora da África, provocava nesta terça-feira temores de uma propagação do vírus e levou Bruxelas a pedir explicações ao governo espanhol.
A preocupação e a incredulidade reinavam após o anúncio do contágio - apesar de todas as medidas de segurança anunciadas - de uma técnica de enfermagem que tratou em um hospital de Madri de dois missionários infectados pelo ebola na África e que faleceram ali.
A auxiliar Teresa, de 44 anos, segundo a imprensa, foi transferida durante a noite de um hospital de Alcorcón, um subúrbio no sul de Madri, ao mesmo Hospital La Paz-Carlos III onde os religiosos estiveram internados.
Outras três pessoas foram hospitalizadas ali desde segunda-feira: o marido da infectada, que por sua proximidade apresentava um alto risco de contágio; uma enfermeira do La Paz, que não teve febre, apenas diarreia, e um engenheiro espanhol que trabalhava na Nigéria.
Enquanto isso, as autoridades se esforçavam para localizar as pessoas que mantiveram contato com a mulher e colocaram 52 pessoas sob vigilância.
"Não podemos colocar uma venda nos olhos, há uma pessoa com ebola que esteve em contato com outras pessoas", declarou Fernando Simón, coordenador do centro de Alertas e Emergências do Ministério da Saúde à rádio privada Cadena Ser.
"A possibilidade de contágio existe, é baixa, mas existe", disse.
A mulher, casada e sem filhos e que estava de férias, havia comunicado no dia 30 de setembro ao seu centro que se sentia mal, mas não foi hospitalizada até domingo.
O que falhou
"Houve evidentemente um problema em algum momento", considerou Frederic Vincent, porta-voz da Comissão Europeia, que pediu ao ministério da Saúde espanhol que esclareça o ocorrido.
Apesar deste caso, não há inquietação em Bruxelas, afirmou, garantindo que a propagação do vírus "na Europa continua sendo uma hipótese altamente improvável".
A auxiliar de enfermagem espanhola, que havia se apresentado como voluntária para tratar o segundo dos missionários, repatriado com ebola de Serra Leoa no dia 22 de setembro e falecido três dias depois, fez tudo o que disseram a ela, explicou seu marido, contactado pelo jornal El Mundo.
Na opinião do sindicato de enfermeiros espanhóis, as medidas de segurança foram ineficazes durante a hospitalização dos missionários.
"Houve algumas falhas que denunciamos com o primeiro caso", explicou à AFP Charly Manuel Torres, porta-voz do sindicato CSIF. "Uma das falhas que foi vista é que continua sem ministrar cursos, sem passar o protocolo de atuação às pessoas novas", acrescentou.
Com seus uniformes de trabalho brancos ou verdes, grupos de profissionais se manifestaram em frente aos hospitais de La Paz, Carlos III e Alcorcón. "Ana Mato, renúncia!", gritavam em referência à ministra da Saúde.
Esforçando-se para enviar uma mensagem tranquilizadora, as autoridades criaram uma comissão de acompanhamento e abriram uma linha de telefone e um e-mail para esclarecer as dúvidas da população.
Apelo de Obama
Segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), a febre hemorrágica do ebola deixou 3.439 mortos na África ocidental de 7.478 casos registrados em cinco países: Serra Leoa, Guiné, Libéria, Nigéria e Senegal.
Também foi registrado um pequeno surto na República Democrática do Congo e na segunda-feira apareceu uma doença aparentada, a febre Marburg, em Uganda, com um morto e oito casos suspeitos.
A esses números soma-se um caso nos Estados Unidos, descoberto na semana passada, quatro dias depois que o doente, primeiro diagnosticado fora da África, chegou procedente da Libéria.
O presidente americano, Barack Obama, ressaltou na segunda-feira que os riscos de epidemia de ebola nos Estados Unidos são muito fracos, garantindo que a qualidade do sistema de saúde é capaz de controlar sua propagação.
Considerou, no entanto, que diante do avanço da epidemia na África Ocidental a resposta da comunidade internacional está sendo insuficiente e anunciou que pressionará seus colegas para que se envolvam mais nesta luta.
A União Africana (UA) já havia exigido antes mais meios contra o vírus. Os países africanos mais afetados por esta epidemia de febre hemorrágica "não têm equipes de saúde suficienes e uma parte sucumbiu à doença", declarou a presidente sul-africana da Comissão da UA, Nkosazana Dlamini-Zuma.
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1. O que é ebola?
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1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
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2. A origem
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2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
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3. A epidemia atual
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3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
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4. Os sintomas
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4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
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5. Transmissão
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5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
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6. O tratamento
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6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
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7. Como se proteger
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7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
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8. Epidemia global
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8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
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9. Vacina experimental
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9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
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10. Fronteiras fechadas
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10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
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11. Não há mercado para a vacina
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11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
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12. Medicação
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12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
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13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
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13/13 (Reuters)