Ricardo Anaya, Obrador e Jose Antonio Meade são os três principais candidatos à presidência do México (Edgard Garrido/Reuters)
AFP
Publicado em 29 de junho de 2018 às 11h21.
A seguir, o perfil dos principais candidatos à eleição presidencial do México, que acontece no próximo domingo (1º):
Se existe uma qualidade que todos reconhecem no candidato da esquerda Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, é sua tenacidade, que será colocada à prova pela terceira vez neste domingo.
"Com esta mesma convicção, atuarei como Presidente da República. Beirando a loucura de maneira obcecada", declarou, ao ser ratificado como candidato da coalizão liderada por seu partido Morena.
Seus admiradores confirmam. "Creio que é um homem, cuja qualidade principal é a tenacidade. É um homem incansável", afirma o historiador mexicano Paco Ignacio Taibo II.
López Obrador busca se distanciar da classe política que governou o México por quase um século e se apresenta como um combatente contra a corrupção.
Diz que será um presidente austero: não usará aviões reservados a presidentes e pretende converter a residência presidencial em um centro cultural.
"Vou doar metade do salário atual do Presidente da República", assegura.
Essa luta contra a corrupção calou fundo entre os mexicanos, fartos dos excessos e dos escândalos da administração de Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
López Obrador chama seu movimento de "a quarta transformação do México" e se compara a heróis nacionais como Benito Juárez (1806-1876), figura-chave na construção da República no século XIX.
No entanto, muitos criticam sua falta de propostas concretas para governar em plena era de Donald Trump.
"Nunca foi claro. Centrou qualquer solução em torno de sua figura e capacidade pessoal de resolver as coisas", comenta o analista político Fernando Dworak.
Algumas críticas vão de "populista" a "grande perigo para o México" pelo receio de que possa seguir os passos de Hugo Chávez na Venezuela.
Muitas de suas propostas para mudança radical no México dispararam alguns alarmes, principalmente entre empresários como o magnata Carlos Slim.
Seu projeto para o período 2018-2024 inclui reduzir os salários dos funcionários públicos em 50%, não aumentar impostos nem a dívida pública e o fim da reforma energética.
López Obrador adora frases polêmicas e exalta sua vasta experiência, embora formada mais por derrotas do que por vitórias.
Em 2006 e 2012, concorreu à Presidência do México, sem sucesso.
Originário de Tabasco (sudeste), iniciou carreira política nas fileias do PRI, mas depois se uniu ao Partido da Revolução Democrática (PRD).
Em 1994, tentou, em vão, o governo de seu estado natal. Muitas vezes foi dado como morto na política, mas sempre deu a volta por cima, nunca deixando de contar com o apoio de sua mulher e de seus três filhos.
Apelidado de "jovem maravilha" por sua meteórica ascensão política, Ricardo Anaya busca ser presidente do México com a promessa de governar se inspirando mais na liderança do Vale do Silício do que na velha política.
Com 39 anos, Anaya é um dos candidatos presidenciais mais jovens do México contemporâneo e aparece em segundo lugar em todas pesquisas. É o principal oponente de Andrés Manuel López Obrador.
Anaya, do conservador Partido Ação Nacional, é impulsionado por uma aliança de direita e esquerdas. Costuma fazer comícios como se fosse uma apresentação digna da Apple.
Domina o inglês e o francês, possui uma agilidade mental que muitos classificam de "assombrosa". É o preferido dos eleitores mais jovens.
O apelido "Jovem maravilha" foi dado pelos jornalistas que cobriram seu trabalho como líder da Câmara de Deputados (2013- 2014).
Pessoas próximas o descrevem como ambicioso, perfeccionista e muito preparado. Já outros desconfiam de um perfil político maquiavélico. Alguns dizem que esse tipo de opinião é, na verdade, um pouco de inveja.
"Peña Nieto o detesta, o vê com profunda antipatia. Dizem que é porque Ricardo passou de um político negociador a um político de oposição muito dura, frontal, quase radical", afirma o ex-presidente do Partido da Revolução Democrática (PRD, esquerda), Agustín Basave, que negociou com Anaya a aliança entre PRD e PAN para vencer nas eleições estaduais de 2016.
No entanto, importantes figuras do PAN, como o ex-presidente Felipe Calderón e sua esposa, a candidata presidencial independente Margarita Zavala, pintam Anaya como um político inescrupuloso e desleal.
A maior crítica em relação a ele é a acusação de que estaria envolvido em uma operação imobiliária com recursos ilícitos, investigada pelo Ministério Público.
Já sua mentora política, a senadora Marcela Torres, enfatiza sua determinação, que fez com que ele, aos 17 anos, batesse em sua porta motivado a trabalhar com a juventude de seu estado natal de Querétaro (centro).
Mesmo de família próspera, cultiva uma imagem austera, com ternos sóbrios. Seu único enfeite é uma pulseira de artesanato com a palavra "México" escrita.
Pai de três filhos, é casado com a namorada dos tempos da faculdade.
Ninguém questiona sua inteligência, sua capacidade na administração pública e seu carácter sério. No entanto, José Antonio Meade, um político sem militância, não conseguiu se livrar do peso do governista PRI e de seus escândalos de corrupção. Com isso, chega às eleições com poucas chances.
Com 49 anos, a candidatura de Meade aconteceu de forma inesperada. Há pouco mais de um ano, poucos acreditariam que fosse escolhido candidato do PRI.
O destino do então secretário da Fazenda foi anunciado em agosto de 2017, quando o PRI modificou seus estatutos para abrir as portas para um candidato externo, sem militância, estratégia idealizada por Peña Nieto, segundo a escritora e colunista Martha Anaya.
Meade era ol "homem puro", cuja missão seria "limpar a imagem do PRI". Um candidato capaz de "enfrentar o discurso de honestidade x corrupção de López Obrador".
Mesmo assim, o "mexicano comum" não conseguiu se distanciar da imagem do PRI e muito menos de Peña Nieto, que deixa o poder com recorde de impopularidade.
Para o analista político Fausto Pretelin, a candidatura de Meade seria viável apenas se ele se distanciasse de Peña Nieto, mas isso não aconteceu, apesar de "demonstrar ser o candidato mais brilhante da disputa eleitoral".
Meade também não conseguiu se conectar com o eleitorado, e seu discursou não empolgou. Nas pesquisa, ele aparece em terceiro lugar.
De ascendência irlandesa e libanesa, Meade cresceu em uma família católica muito envolvida com as artes. Seu pai ocupou cargos públicos e é militante do PRI.
Meade nunca teve a intenção de se filiar a um partido. Trabalhou nas duas presidências do conservador Partido Ação Nacional, que governou de 2000 a 2012, e chefiou quatro pastas: Energia, Relações Exteriores, Desenvolvimento Social e Fazenda, sempre gozando de muito respeito por parte de quem trabalhou com ele.
Estudou Direito na Universidade Nacional Autônoma do México e Economia no Instituto Tecnológico Autônomo do México (ITAM). "Pepé", como é chamado pelos amigos, tem um perfil discreto e austero, embora costume fazer piadas com as manchas de seu rosto, resultado do vitiligo, e seu leve excesso de peso.
Jaime Rodríguez, "El Bronco", o candidato "ranchero" das presidenciais mexicanas, fez história em 2015 ao ser o primeiro candidato independente a virar governador e, apesar de não ter qualquer possibilidade de vencer no domingo, sua campanha foi um grande entretenimento durante todo o processo eleitoral, com seus memes viralizando nas redes sociais.
Rodríguez, de 60 anos, nasceu em Galeana, Nuevo León, norte do México, em uma família grande e pobre.
"Fui amamentado por minha mãe que teve dez filhos e não aconteceu nada com ela. Minha mãezinha continua bonitona, lindona", declarou em uma campanha para promover a amamentação materna.
Engenheiro agrônomo, foi muito criticado por se ausentar de seu cargo de governador desde que começou a campanha pela presidência.
Em janeiro de 2017, Jaime Rodríguez era apoiado por um em cada três cidadãos de seu Estado, cinco pontos a menos do que a média dos 32 governadores em nível nacional, de acordo com uma pesquisa da firma Consulta Mitofsky.
Uma das coisas mais criticadas em sua administração de Nuevo León, onde se encontra Monterrey, polo industrial do país, foi a incapacidade de diminuir a violência. Em resposta, ele sempre menciona que também já foi uma vítima do crime organizado.
"Eu enfrentei o crime organizado. Minha filha de dois anos foi sequestrada, tentaram me matar duas vezes e meu filho mais velho morreu nas mãos da delinquência organizada", afirma ele no site "El Bronco".
Rodríguez militou por mais de 30 anos no governista PRI e sempre usa botas, calças de caubói, colete e chapéu de couro.
Ele costuma dizer que fala claramente com as pessoas do povo. Diz que acredita tanto na instituição casamento que já se casou três vezes, e tem seis filhos.
Sua última esposa tem 25 anos a menos do que ele. Afirma que não se interessa por fazer fortuna porque assim "nenhum safado vai ficar de olho" em seu dinheiro.
Mas sua paixão por cavalos de raça valeram a ele críticas sobre o gasto excessivo que isso poderia representar para os cofres do governo de Nuevo León.
"Meu cavalo não me custa muito (...) Come menos do que minha véia coroa (mãe). Então me sai muito mais barato do que minha véia", debochou.
Na última pesquisa do jornal "Reforma" publicada esta semana, ele aparece com 3% dos votos.