Abdullah bin Hamad Al-Attiyah cumprimenta Maite Nkoana-Mashabane na COP18 em Doha: cúpula espera reunir 17 mil pessoas (REUTERS/Fadi Al-Assaad)
Da Redação
Publicado em 28 de novembro de 2012 às 15h46.
São Paulo - O Qatar, país escolhido para sediar a próxima Conferência das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas, a COP18, entre 26 de novembro e 7 de dezembro, não poderia ser mais simbólico sob o ponto de vista dos desafios e contradições que cercam o enfrentamento do aquecimento global.
Com sua economia baseada no petróleo – é o maior exportador mundial de gás natural – esse pequeno emirado do Oriente Médio, situado no nordeste da península arábica e envolvido pelo Golfo Pérsico, é também o maior emissor per capita de CO2 – 50 toneladas anuais por pessoa.
O índice é três vezes maior que o dos americanos. Mas com uma população pouco maior que a de Guarulhos e um território que é metade do estado de Sergipe, o Qatar não aparece nos gráficos que apontam os maiores emissores. Segundo o governo, suas emissões corrrespondem a apenas 0,2% do total mundial. Apesar da riqueza – e da poluição – gerada pelos combustíveis fósseis, ele também não foi obrigado pelo Protocolo de Kyoto a reduzi-las, por ser considerado um país em desenvolvimento. No entanto, desde 1990, elas já aumentaram cinco vezes.
A abundância de um recurso se reflete no uso que se faz dele. No Qatar, a energia elétrica, oriunda em sua maior parte da queima de gás natural, é fornecida de graça para as residências. Isso também acontece com a água, 75% é obtida a partir de um custoso sistema de dessalinização, movido a gás natural. Apesar de viver no deserto, com uma reserva hídrica que dura apenas dois dias, a população tem um dos maiores consumos per capita de água – 400 litros diários. No último relatório Planeta Vivo, lançado em maio deste ano pelo WWF e a Global Footprint Network, o Qatar é líder entre os dez países com a maior pegada ecológica do mundo.
Ao mesmo tempo, a nação que sediará a Copa em 2022 tem feito altos investimentos rumo a um caminho mais verde. Durante a Rio+20, o presidente do Programa de Segurança Alimentar do Qatar apresentou os projetos de sustentabilidade do país, entre eles, um ambicioso investimento para a geração de energia solar. O objetivo é usá-la para gerar 3 milhões de metros cúbicos de água dessalinizada por dia, com a intenção de empregar sua maior parte na produção de alimentos por hidroponia. Atualmente, 90% da comida vêm de fora.
Nesta 18ª Conferência do Clima, como anfitrião e presidente dos trabalhos, o Qatar tem a missão de definir o processo de ação climática até 2015, particularmente o nível de ambição das novas metas de emissões de carbono, que deverão ser estabelecidas para todos os países, e seu cumprimento a partir de 2020. Esse será o foco da cúpula, que espera reunir 17 mil pessoas.
Como declarou a comissária europeia da ONU para a Convenção do Clima, Connie Hedegaard, a liderança do Qatar nesta conferência pode ter um papel positivo no debate internacional, “ao sinalizar para o mundo que uma economia tradicional, baseada no petróleo, pode se diversificar, sem prejuízos, a partir de soluções mais inteligentes, a começar pelas energias renováveis, como estratégia de longo prazo. Isso pode tornar o Qatar um líder interessante para toda a região”.