Coronavírus: Instituto de Virologia de Wuhan estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 6 de maio de 2020 às 07h54.
Última atualização em 6 de maio de 2020 às 16h08.
Apontado pelo governo dos Estados Unidos como o local de origem do novo coronavírus, o Instituto de Virologia de Wuhan estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou ter uma "enorme quantidade de evidências" de que o vírus saiu de um laboratório desta cidade do centro da China, onde foi detectado pela primeira vez no fim de 2019.
O canal estatal chinês CCTV chamou as acusações de "insanas" e a Organização Mundial da Saúde (OMS) as denunciou como "especulativas", ante a ausência de provas.
De acordo com a grande maioria dos pesquisadores, o coronavírus foi transmitido ao ser humano por um animal. Os cientistas chineses apontaram um mercado de Wuhan no qual eram vendidos animais selvagens vivos.
Recentemente, os pesquisadores do instituto contribuíram para o melhor conhecimento da COVID-19 durante seu surgimento em Wuhan.
O estudo, publicado em fevereiro em uma revista científica, concluiu que a sequência do genoma do novo coronavírus é similar em 80% a da SARS (Síndrome Respiratória Agudo Grave), que deixou 774 mortos e no mundo em 2002-2003, e em 96% ao coronavírus do morcego.
Com o passar dos anos, os cientistas do instituto assinaram dezenas de estudos e artigos sobre os vínculos entre estes mamíferos e o surgimento de doenças na China.
De acordo com muitos pesquisadores, o novo coronavírus tem origem sem dúvidas no morcego. De todos os modos, eles acreditam que passou para outra espécie, como o pangolim, antes de chegar ao homem.
Um fato notável é que dois pesquisadores do instituto participaram em 2015 em um estudo internacional com várias universidades americanas durante o qual se criou um agente patógeno para analisar a ameaça de um vírus parecido ao SARS.
O instituto possui a maior coleção de cepas de vírus na Ásia, com 1.500 espécimes diferentes, de acordo com seu site oficial.
Também tem um laboratório P4 (por "patógeno de classe 4", os mais perigosos). Este tipo de laboratório é uma instalação de alta segurança que pode abrigar cepas de vírus conhecidos, como o do ebola.
Existem no mundo quase 30 laboratórios P4. O de Wuhan, inaugurado em 2018, foi construído em colaboração com a França e com o objetivo de reagir de maneira mais rápida ao surgimento de doenças infecciosas.
O instituto dispõe desde 2012 de um laboratório P3, que geralmente estuda vírus menos perigosos, como os coronavírus.
Difícil afirmar. De acordo com o jornal Washington Post, a embaixada dos Estados Unidos em Pequim, após várias visitas ao instituto, alertou em 2018 as autoridades americanas sobre medidas de segurança aparentemente insuficientes no instituto de Wuhan.
O instituto afirma que recebeu em 30 de dezembro mostras do vírus até então desconhecido que circulava em Wuhan (e identificado depois como SARS-CoV-2), que obteve a sequência de seu genoma em 2 de janeiro e que enviou as informações à OMS no dia 11 do mesmo mês.
O diretor do Instituto de Virologia, Yuan Zhiming, desmentiu de maneira categórica em abril que o laboratório seja a origem do novo coronavírus.
Em uma entrevista à revista Scientific American, a pesquisadora Shi Zhengli, uma das principais virologistas chinesas e vice-diretora do P4, afirmou que a sequência do genoma do SARS-CoV-2 não correspondia com nenhum dos coronavírus de morcegos estudados em seu instituto.
Os cientistas apontam o fato de que nenhuma prova sustenta a hipótese de um vazamento do Instituto de Virologia de Wuhan.
Ao mesmo tempo, nenhuma prova forma mostra que procede do mercado suspeito de ter vendido animais selvagens vivos.
Um estudo chinês, publicado na revista The Lancet em janeiro, indicou que o primeiro paciente conhecido da COVID-19 não tinha qualquer vínculo com este mercado.
O professor Leo Poon, da Universidade de Hong Kong, afirmou que o consenso da comunidade científica é que o vírus não foi criado pelo homem. Mas ele pediu esclarecimentos sobre sua origem.
"É importante em termos de saúde pública, porque queremos saber como surgiu e aprender com esta experiência", destacou.