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Faixa de Gaza: como é a vida em um palco de guerra

Sem água tratada, energia só 12 horas por dia, mais de 40% desempregados. Conheça o lugar onde moram 1,76 milhão de pessoas e que é palco de conflitos há mais de 50 anos

Palestinos recuperam seus pertences de casa fortemente danificada em ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa)

Palestinos recuperam seus pertences de casa fortemente danificada em ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (REUTERS/Ibraheem Abu Mustafa)

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Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2014 às 14h27.

São Paulo - Quase um mês depois do início dos ataques, Israel retirou seu exército da Faixa de Gaza na manhã desta terça-feira, respeitando o cessar-fogo de 3 dias acertado na noite de ontem

O cessar-fogo foi aceito em resposta a um pedido do Egito, que media as negociações de paz.

Desde domingo, representantes das principais milícias aceitaram um documento base para começar as negociações para o fim do bloqueio israelense que já dura 7 anos. 

A ideia é que nos próximos dias uma delegação israelense vá ao Cairo dar continuidade às negociações de um acordo global que acabe com o conflito.

No entanto, minutos antes da entrada em vigor do cessar-fogo, milícias palestinas dispararam vários foguetes contra as principais cidades israelenses. 

Em Gaza, o comércio reabriu e começam a chegar caminhões com alimentos, remédios e todo tipo de ajuda humanitária. Os danos na região já ultrapassam os US$ 5 bilhões e a reconstrução de Gaza - se o conflito enfim terminar - deve levar anos.

Veja a seguir um raio-x da Faixa de Gaza e o porquê ela é constante palco de conflito entre israelentes e palestinos:

População

Cerca de 1,76 milhão de pessoas vivem na Faixa de Gaza. Mais de 25% deles têm parentes na Cisjordânia e 15% têm parentes em Jerusalém Oriental ou em Israel. 

A movimentação de pessoas para a Cisjordânia é proibida por Israel - só há excessões para "casos humanitários excepcionais".

No primeiro trimestre de 2014, a taxa de desemprego foi de 40,8%. Entre os jovens (entre 15 e 29 anos), 6 em cada 10 não tem trabalho

Mais de 70% da população recebe ajuda humanitária

5 em cada 10 moradores têm menos de 18 anos. 

Gaza é uma das regiões com maior densidade populacional do mundo: são mais de 4,5 mil pessoas por quilômetro quadrado

Infraestrutura

A escassez de combustível e eletricidade resulta em quedas de energia de até 12 horas por dia, todos os dias.

Mais de 90% da água do aquífero de Gaza não é seguro para o consumo humano sem tratamento

Trabalhador palestino leva água para uma família em Gaza: os recursos hídricos são escassos ou contaminados já que o esgoto não é tratado (Warrick Page/Getty Images)

Hamas

O Hamas conquistou a maioria dos assentos parlamentares nas eleições da Autoridade Palestina (que compreende Cisjordânia e Gaza) de 2006.

Depois das eleições, o Hamas entrou em confronto com o Fatah, facção laica que comanda a Autoridade Palestina e que não aceitou o resultado das eleições.

Em Gaza, o Hamas conseguiu expulsar o Fatah e tomar o poder da região

Desde então, não foram realizadas eleições no território palestino.

Membros do Hamas comemoram a vitória sobre o Fatah e a tomada da Faixa de Gaza em junho de 2007. O grupo passou a controlar a polícia e a segurança, inclusive nas fronteiras. (Abid Katib/Getty Images)

O grupo é um dos vários grupos islâmicos militantes palestinos e, em seu estatuto, não reconhece a existência do Estado de Israel. O Hamas defende a criação de um único Estado palestino que ocuparia a área onde hoje estão Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Seu nome é a sigla em árabe para Movimento de Resistência Islâmica. A agremiação surgiu após o início da primeira Intifada (revolta palestina) contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, em 1987.

Para Israel, EUA, União Europeia, Canadá e Japão, o grupo é considerado uma organização terrorista. 

Histórico

Refugiados palestinos na Faixa de Gaza em novembro de 1956. (Moshe Pridan/GPO via Getty Images)

Em 1948, a Faixa de Gaza recebeu os primeiros palestinos refugiados com a criação do Estado de Israel. Em 1967, a região passou para o domínio israelense, que começou a instalar assentamentos no território. 

Em 1994, Israel retira suas tropas da Faixa de Gaza e é criada a Autoridade Nacional Palestina, que assume o controle administrativo da região.

Mais de 10 anos depois, em 2005, Israel começa a remover os assentamentos de colonos israelenses em Gaza. Mesmo assim, Israel manteve o controle da população palestina, além do espaço marinho e aéreo de Gaza. 

Em 2007, no entanto, quando o Hamas tomou o poder em Gaza, como retaliação, Israel impôs o bloqueio total à região. As fronteiras foram fechadas, ninguém pode entrar ou sair. Há embargo econômico, terrestre, aéreo e marítimo. 

A crise atual

No dia 7 de julho, Israel lançou uma grande operação militar na Faixa de Gaza chamada "Borda de Proteção", com o objetivo de interromper o lançamento de foguetes palestinos contra Israel e de destruir a infraestrutura militar do Hamas e de outros grupos armados.

Isso marcou o fim do cessar-fogo que estava em vigor desde novembro de 2012 e já vinha sendo desobedecido desde dezembro do ano passado. 

As tensões aumentaram ainda mais após o sequestro e assassinato de três jovens israelenses no sul da Cisjordânia, em 12 de Junho, que o governo israelense atribuiu ao Hamas. 

A morte de um jovem palestino de Jerusalém Oriental, sequestrado e queimado vivo no dia 2 de julho, também contribuiu para a escalada de violência que se seguiu.

O novo conflito encontra uma Palestina mais vulnerável e instável. O desemprego aumentou drasticamente desde meados de 2013.

Os serviços básicos também foram prejudicados devido a uma crise de energia, com quedas de energia de 12 horas por dia.

Os números do novo conflito

1.717 palestinos mortos até a última sexta-feira. Destes 1.716 eram civis: 377 crianças e 196 mulheres.

67 israelenses foram mortos: 64 soldados, 2 civis e 1 estrangeiro.

8,26 mil pessoas feridas, sendo que 2,5 mil são crianças e 1,6 mil são mulheres

Refugiados palestinos na Faixa de Gaza em novembro de 1956. (Divulgação/ OCHA)

373 mil crianças palestinas precisam de apoio psicológico.

485 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e estão morando em abrigos de emergência ou com outras famílias. 

Mais de 25% da população de Gaza pode ficar sem casa. 

Refugiados palestinos na Faixa de Gaza em novembro de 1956. (Reprodução/ OCHA - ONU)

141 escolas foram danificadas por bombardeios de Israel

24 postos de saúde/hospitais danificados

9,7 mil casas destruídas

1,8 milhão de pessoas têm acesso reduzido ou nenhum acesso a água ou saneamento

2 horas de energia elétrica por dia durante o atual conflito

No vídeo abaixo, a OCHA (braço da ONU para a coordenação de assuntos humanitários) faz um resumo da situação. As legendas estão em inglês:

//www.youtube.com/embed/T_EY9YL1yCU?rel=0

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