Xi Jinping: o presidente é o líder comunista que conseguiu concentrar mais poder em suas mãos desde a morte de Mao Zedong em 1976 (Lintao Zhang/Getty Images)
EFE
Publicado em 17 de outubro de 2017 às 11h16.
Última atualização em 17 de outubro de 2017 às 11h18.
Pequim - A grande dúvida em relação ao 19º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), que começa nesta quarta-feira, é se dele sairá o sucessor de Xi Jinping para governar o gigante asiático na próxima década, ou se, pelo contrário, o atual presidente do país e secretário-geral do partido decidirá se perpetuar no poder.
Xi, de 64 anos, é o líder comunista que conseguiu concentrar mais poder em suas mãos desde a morte de Mao Zedong em 1976, e o 19º Congresso será um teste para comprovar se sua intenção é se transformar em uma espécie de novo "Grande Timoneiro", a alcunha pela qual Mao Tsé-Tung ficou conhecido após a Revolução Chinesa.
Em seus cinco anos de governo, Xi realizou uma administração muito mais personalista que a de seu antecessor, Hu Jintao, na qual protagoniza a propaganda do regime, enquanto cargos que antes eram considerados importantes, como os de primeiro-ministro e vice-presidente, são hoje secundários.
Além disso, sua administração é acompanhada de certo fomento ao culto a sua personalidade que, sem chegar aos níveis do maoísmo durante a Revolução Cultural, levou Xi a aparecer em grandes cartazes nas ruas, em canções viralizadas na internet e ao fato de muitos chineses se referirem ao governante pelo apelido de "Xi Dada" ("Papai Xi").
Nesse contexto, o 19º Congresso será importante por duas razões: ver de que forma serão incluídas as teorias de Xi na constituição do PCCh, o que significa "imortalizá-lo" na história do regime, e quais serão os novos líderes que passarão a fazer parte da cúpula que sairá das reuniões.
De acordo com o analista espanhol de política internacional Xulio Ríos, que integra o grupo de análise Observatório de Política da China, o "xiísmo" será "reconhecido nos estatutos, algo que habitualmente ocorre 'a posteriori', depois que o líder deixa o poder", um sinal do interesse do atual presidente chinês em consolidar seu domínio.
Este "xiísmo" inclui lemas que não rompem muito com o comunismo tradicional chinês, como, por exemplo, a "busca do sonho chinês" e o "rejuvenescimento nacional".
Outro aspecto importante a ser observado no Congresso será a sucessão de Xi. No início de seu mandato em 2012, acreditava-se que ele sairia de cena com 10 anos de governo, em 2022, assim como ocorreu com seu antecessor Hu. No entanto, seu individualismo e a escassa divisão de poderes com outros líderes na cúpula do partido geram muitas dúvidas.
A prova é que, após cinco anos de Xi no comando, ainda não há grandes favoritos nas apostas para sucedê-lo, algo que sim ocorria quando Hu estava na metade de seu mandato e o próprio Xi, então vice-presidente, já era visto como o futuro secretário-geral do PCCh e presidente da China.
Nas últimas décadas, as regras não escritas do regime estabeleciam que, aos 68 anos, os líderes devem sair de cena, por isso que Xi, atualmente com 64 anos, teria que deixar a Secretaria Geral do PCCh no 20º Congresso, em 2022, e a presidência da China no ano seguinte, após dois mandatos.
Segundo os observadores, a chave para saber se Xi o fará ou não é o atual Congresso: se algum dos integrantes atuais do alto escalão não deixar a cúpula tendo ultrapassado a idade de 68 anos, isto abrirá um precedente para que Xi faça o mesmo.
Em particular, acredita-se que Wang Qishan, o aliado de Xi que liderou uma dura campanha anticorrupção com punições para 1,4 milhão de funcionários do partido, poderia se manter no novo Comitê Permanente do PCCh apesar de já ter 69 anos, e isso indicaria que o presidente poderia fazer o mesmo no Congresso seguinte.
"Em teoria, é possível um terceiro mandato (de Xi), mas cabe ressaltar que esta possibilidade tem muitas resistências internas", destacou Ríos para a Agência Efe.
Outra opção seria que Xi assentasse no Congresso as bases para continuar no poder, mesmo diante de sua hipotética saída da presidência em 2023, mantendo a Secretaria Geral do PCCh, algo similar ao que foi feito por Deng Xiaoping, líder máximo da China nos anos 1980, que se manteve no comando, mas "nas sombras", nos anos 1990.
Para isso, alguns analistas sugerem que Xi poderia restaurar a importância do cargo de "presidente do PCCh", que desapareceu em 1989 e foi ocupado por Mao entre 1943 e 1976, mais de três décadas.