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Congresso dos EUA não foi consultado sobre ataque à Síria

Os EUA lançaram ontem (6) mísseis contra a base militar síria em Shayrat, perto da cidade de Homus

Congresso americano: o governo Trump justificou a ação independente, ressaltando a "emergência e a urgência de uma ação militar direta", após a acusação do uso de armas químicas pelo governo sírio (Douglas Graham/Getty Images)

Congresso americano: o governo Trump justificou a ação independente, ressaltando a "emergência e a urgência de uma ação militar direta", após a acusação do uso de armas químicas pelo governo sírio (Douglas Graham/Getty Images)

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Agência Brasil

Publicado em 7 de abril de 2017 às 16h32.

Após o lançamento de mísseis pelos Estados Unidos contra a base militar síria em Shayrat, perto da cidade de Homus, apoiadores e críticos do governo de Donald Trump no Congresso se posicionaram sobre o ação "surpresa", efetuada na madrugada de hoje (7) no horário local sírio.

A maioria dos congressistas manifestou apoio.

Entretanto, muitos criticaram o fato de que Trump não consultou o Congresso antes da iniciativa.

O senador republicano John McCain, um forte crítico da administração Trump, emitiu um comunicado conjunto, assinado também pela senadora Lindsey Graham, da Carolina do Norte.

"Saudamos as habilidades e profissionalismo das Forças Armadas norte-americanas que realizaram os bombardeios na Síria", diz o texto, divulgado na noite desta quinta-feira (6).

O líder da minoria democrata no Congresso, Chuck Schumer, apoiou a decisão de Trump com relação ao ataque, mas pontuou que o parlamento deveria ter sido consultado antes de lançar os mísseis.

"Sabemos que Bassar al-Assad [presidente da Síria] cometeu atrocidades[...], ele terá de pagar e agora é a hora certa de fazer isso", declarou.

O governo Trump justificou a ação independente, ressaltando a "emergência e a urgência de uma ação militar direta", após a acusação do uso de armas químicas pelo governo sírio na última terça-feira (4).

A senadora republicana da Califórnia, Bárbara Lee chamou o bombardeio de "ato de guerra" em sua conta no Twitter e disse que o Congresso deve discutir a ação para um posicionamento sobre o tema.

Já o senador Bernie Sanders, ex-candidato presidencial e representante da ala mais progressista do partido Democrata, escreveu em sua conta no Facebook que Bassar al-Assad está no topo da lista dos "criminosos de guerra" devido ao uso de armas químicas contra civis no país.

Ele disse que, embora a situação na Síria seja "inimaginável", os Estados Unidos como maior potência mundial têm a responsabilidade de explicar ao mundo e ao povo norte-americano quais os objetivos da escalada militar iniciada com os bombardeios.

"Precisamos saber como este ataque se encaixa no objetivo mais amplo de uma soluação política, que é a única maneira de acabar com esta guerra devastadora", afirmou Sanders. Ele lembrou também que a Constituição norte-americana exige que o presidente vá ao Congresso para pedir autorização para este tipo de ação.

O ex-presidente Barack Obama não se pronunciou sobre os ataques, bem como a ex-candidata democrata, Hillary Clinton.

Repercussão

Na mídia norte-america, os ataques foram criticados pelo fato de o Congresso não ter sido consultado, mas vários artigos e reportagens relativizaram a necessidade de consulta.

O El País publicou um artigo em que destaca que Donald Trump sai como "vencedor" depois de sua primeira intervenção militar, que também é a primeira dos Estados Unidos diretamente contra o governo sírio desde o ínicio da guerra.

O The Washington Post considerou o ataque, realizado em plena reunião bilateral com a China, um recado estratégico do governo Trump aos chineses, que não querem ceder à pressão norte-americana sobre outro tema que preocupa o país e o mundo: o programa de mísseis nucleares da Coreia do Norte.

A China resiste ao pedido dos Estados Unidos de interromper a parceria com a Coreia do Norte para pressionar o país a interromper os planos nucleares.

Por sua vez, a China também afirmou que não concorda com o ataque à Síria sem que a ONU tenha autorizado a ação.

A imprensa norte-americana também comentou a mudança de posicionamento de Donald Trump em relação ao tema. A CNN lembrou que, anteriormente, Trump era contrário a um ataque direto ao governo de Bashar al-Assad.

A rede afirmou que a mudança na visão de Trump pode ter começado mesmo antes do ataque químico de terça-feira.

Para alguns analistas, uma intervenção direta vinha sendo estudada há algum tempo pelo Pentágono e a Secretaria de Estado, sob o comando de Rex Tillerson.

Mas outros meios de comunicação não acreditam na hipótese de que o ato tenha sido premeditado.

O USA Today ouviu funcionários (não identificados) que afirmaram que as imagens de civis, sobretudo crianças, teriam incomodado profundamente o presidente Trump e que isso o teria motivado a determinar o ataque.

O New York Times disse que Trump atuou "no instinto" e assumiu um dos maiores riscos para a sua política externa.

Entretanto, em sua análise, o jornal admite que se a intuição de Trump estiver certa, o efeito pode ser positivo para a popularidade do presidente, que em quase 80 dias de governo registra índices de aprovação inferiores a 40%.

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