Confronto entre a polícia e apoiadores do presidente egípcio deposto Mohamed Mursi: manifestantes foram dispersados em sua maioria com bombas de gás lacrimogêneo (Khaled Desouki/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2014 às 14h49.
Cairo - Três pessoas, incluindo uma jornalista, morreram nesta sexta-feira no Cairo durante confrontos entre a polícia e manifestantes que protestavam contra a decisão do ex-chefe do exército Abdel Fattah al-Sissi de se candidatar à presidência, informou a imprensa.
A jornalista Mayada Achraf, que trabalhava para o jornal privado Al-Dustur, foi morta com um tiro na cabeça quando cobria uma manifestação no bairro de Aïn Chams, no norte do Cairo, informou uma fonte da segurança, acrescentando que outras duas pessoas morreram no mesmo protesto.
Al-Dustur confirmou em seu site a morte da jornalista.
Partidários do presidente deposto Mohamed Mursi tomaram as ruas do Cairo, Alexandria e outras cidades egípcias para manifestar sua revolta com o chefe militar que depôs o líder islamita há nove meses.
Os manifestantes foram dispersados em sua maioria com bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia.
Dezenas de manifestantes pró-Mursi também fizeram uma corrente humana ao longo de vários quilômetros no norte da província de Beheira.
Os opositores de Sisi também queimaram um imenso retrato do militar na cidade de Port Said, segundo a agência Mena.
Na quarta-feira, o então ministro da Defesa do Egito, comandante do Exército e homem forte do país, marechal Abdel Fatah al-Sissi anunciou, em um discurso à Nação, que se candidatará à presidência nas próximas eleições.
Al-Sissi deixou suas funções no Exército e no governo interino para se apresentar como candidato.
Considerado o grande favorito nas eleições, previstas para os próximos meses, Al-Sissi foi quem arquitetou a destituição, em 3 de julho do ano passado, do presidente islâmico Mohamed Mursi.
Desde então, as forças de segurança mataram mais de 1.400 pessoas, em sua grande maioria manifestantes favoráveis a Mursi, segundo a organização Anistia Internacional.
Na segunda-feira, a Justiça egípcia condenou 529 pessoas à pena de morte - incluindo 366 foragidos - por ações terroristas desde a queda de Mursi. O julgamento durou dois dias.
Na terça, outros 683 partidários de Mursi começaram a ser julgados, entre eles Mohamed Badie, o guia supremo da Irmandade Muçulmana, a influente confraria à qual pertence o presidente deposto e declarada "organização terrorista" pelas novas autoridades egípcias.
Com crescente popularidade, ele é comparado, por seus simpatizantes, ao carismático líder egípcio Gamal Abdel Nasser, que se tornou, nos anos 1950-60, promotor do pan-arabismo e do Movimento dos Não-Alinhados.
Além da popularidade, o marechal Al-Sissi e o também militar Nasser têm outro ponto em comum: a sangrenta repressão realizada contra a Irmandade Muçulmana. Diferentemente de Nasser, em seus raros discursos, Al-Sissi fala em árabe egípcio, no lugar do árabe clássico.
Al-Sissi, de 59 anos, entrou no governo durante a presidência de Mursi, em agosto de 2012. Sua designação alimentou as especulações sobre a lealdade da instituição militar aos novos dirigentes islâmicos, aos quais era hostil anteriormente.
Frente ao clamor popular gerado por Al-Sissi, muitos pesos-pesados da classe política anunciaram que não pretendem se apresentar, se o militar for candidato. Entre eles, estão o ex-secretário-geral da Liga Árabe Amr Musa e Hamdin Sabahi, uma figura histórica da esquerda que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial de 2012 e que classificou o general de "herói popular".
Já para os partidários de Mursi, que continuam protestando quase que diariamente, "Al-Sissi é um assassino".
Um dos líderes da Irmandade Muçulmana disse à AFP que "não haverá estabilidade" na presidência do general Abdel Fattah al-Sissi.