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Conflito na Líbia ameaça disparar emigração no sul da Tunísia

Entre os que devem realizar essa transição para o país vizinho, estão 50 mil tunisianos que trabalhavam em território líbio

Fila de refugiados da Líbia: 75% dos tunisianos que saíram da Líbia são do sul de seu país (Joel Saget/AFP)

Fila de refugiados da Líbia: 75% dos tunisianos que saíram da Líbia são do sul de seu país (Joel Saget/AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2011 às 11h49.

Ben Guerdan, Tunísia - O conflito civil na Líbia ameaça disparar o fluxo de emigrantes rumo à Europa provenientes do sul da Tunísia, região que vivia do comércio com o país vizinho, onde o fechamento da fronteira comum deixou dezenas de milhares de pessoas sem trabalho.

A esses candidatos à emigração clandestina se somam, pelo menos, 50 mil tunisianos que trabalhavam na Líbia, que em sua maioria procedem do sul da Tunísia. O conflito no país limítrofe obrigou-os a retornar como refugiados a sua região de origem.

Tal como disse à Agência Efe o especialista em movimentos migratórios e catedrático de sociologia Mehmid Mabrouk, "75% dos tunisianos que perderam trabalho na Líbia são oriundos do sul da Tunísia, de cidades como Gabes, Tataouine, Sidi Bouzid e Kasserine".

Responsável de uma comissão criada pela Liga Tunisiana de Direitos Humanos para investigar o fenômeno da emigração em massa que há um mês se dirige à ilha italiana de Lampedusa, Mabrouk disse acreditar que "a situação na Líbia aumentará esse fluxo".

"Nos últimos três dias, outras 2 mil pessoas se dirigiram a Lampedusa, aonde já tinham chegado cerca de 5 mil tunisianos em ondas migratórias anteriores que, como a atual, tinham partido em embarcações dos principais portos da região, Zarzis, Gabes e Sfax", apontou o especialista.

Ele indicou que os preços para uma passagem nessas embarcações clandestinas variam entre 2 mil e 3 mil dinares tunisianos - entre R$ 2,36 mil e R$ 3,54 mil - e que aqueles que pagam esse dinheiro o fazem unicamente para sobreviver, não por razões de caráter político.

"Haverá mais ondas (de migração) pela guerra na Líbia", insistiu o especialista.


O impacto econômico e social pelo conflito civil em território líbio tem seu melhor reflexo em Ben Guerdan, cidade de 60 mil habitantes, a 30 quilômetros da Líbia e onde as autoridades locais qualificam a situação de "desastrosa".

"Aqui, 80% da população vivia do comércio com a Líbia, de ir ao país vizinho para comprar todo tipo de produtos para depois vendê-los aqui", explicou à Agência Efe o chefe do Serviço de Orçamento e Contabilidade da Comuna, Mustafa Temtem.

"Desde que o Governo líbio fechou a fronteira, toda essa gente ficou sem meio de subsistência", acrescentou o funcionário, que revelou que essa economia comercial subterrânea atenuava o índice oficial de desemprego, que antes da guerra chegava a 60%.

"Sem poder recorrer nem à economia comercial subterrânea, o índice real de desemprego é agora impossível de calcular", afirmou.

Um dos candidatos a emigrar à Europa, o jovem Lamjed Fedil, de 31 anos, afirmou que todas as manufaturas vendidas em Ben Guerdan, desde eletrodomésticos até chocolates, vinham da Líbia, mas, "com o fechamento da fronteira, os preços subiram".

"O pior é a gasolina, que também vinha da Líbia e que, em 15 dias, quase dobrou de preço. Antes da guerra, o galão de 20 litros custava 15 dinares tunisianos (R$ 17,7), hoje você não encontra por menos de 27 dinares (R$ 31,88)", declarou Fedil. "Isso hoje, quem sabe quanto custará amanhã?".

"A verdade é que quase todos queremos emigrar, quase ninguém quer ficar aqui, principalmente os jovens", admitiu Fedil, que há dois anos concluiu curso superior de Informática na Universidade de Sfax, e desde então está desempregado.

O título de informático de Fedil é um sinal de progresso familiar que, no entanto, não garante nenhum futuro.

Fedil pertence à primeira geração de sua família que obtém título universitário. "Meus avôs e meus pais foram agricultores, se limitavam a lavrar a terra", comenta. "Eram pessoas simples, mas tinham trabalho".

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