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Conflito armado colombiano deixou mais de 260.000 mortos em 60 anos

Paramilitares de extrema direita, com 94.754 mortes, são principais suspeitos dos assassinatos, enquanto se atribui às guerrilhas de esquerda 36.683 casos

Farc: guerrilha pegou em armas em insurgência contra o Estado em 1964 (Mario Tama/Getty Images)

Farc: guerrilha pegou em armas em insurgência contra o Estado em 1964 (Mario Tama/Getty Images)

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AFP

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 16h29.

O conflito armado na Colômbia deixou 262.197 mortos em seis décadas, 82% deles civis, segundo um relatório oficial atualizado e divulgado nesta quinta-feira (2).

"A grande maioria das vítimas fatais que a guerra deixou era de membros da população civil: 215.005 civis contra 46.813 combatentes", informou o estatal Centro Nacional de Memória Histórica (CNMH).

Entre 1996 e 2004, período em que se deu a expansão paramilitar, ocorreram mais de 200.000 mortes, explicou a veículos de imprensa o sociólogo Andrés Suárez, que chefiou a investigação.

Os paramilitares de extrema direita, com 94.754 homicídios, são os principais suspeitos dos assassinatos, enquanto se atribui às guerrilhas de esquerda 36.683 mortes e aos agentes do Estado, 9.804, apontou o relatório.

Os outros assassinatos correspondem a grupos egressos da desmobilização de 2006 das milícias de extrema direita, atores não identificados e desconhecidos.

"É importante reconhecer as responsabilidades de todos para reivindicar justiça e verdade", acrescentou Suárez.

O CNMH havia publicado há seis anos o primeiro informe oficial sobre a guerra civil, denominado "Basta ya" (Já chega), em que contabilizava 220 mil mortos entre 1958 e 2012.

O relatório divulgado nesta quinta-feira amplia a cifra de 1958, quando se encerrou a violência entre liberais e conservadores que deixou centenas de milhares de mortos, a 2018, e integrou novas fontes, o que resultou no aumento do número de assassinatos.

As guerrilhas das Farc e o ELN pegaram em armas em insurgência contra o Estado em 1964.

Sequestros e estupros

O organismo revelou, ainda, novas cifras de sequestros, um dos crimes mais abominados pelos colombianos. Este crime passou de 27.023 para 37.094 vítimas, a grande maioria pelas mãos das Farc e do ELN.

Também aumentou a cifra das vítimas de violência sexual: 15.687 entre 1958 e 2018 contra 1.754 reportadas no informe de seis anos atrás.

Neste trecho, o documento não se aprofunda sobre os supostos responsáveis.

O estudo dá conta, ainda, dos menores de 18 anos recrutados por diversos grupos armados, que somam 17.804. No documento anterior havia dados de 5.156 crianças e adolescentes recrutados entre 1988 e 2012.

A entidade também documentou os casos dos chamados "falsos positivos", um eufemismo condenado internacionalmente para se referir às execuções de civis cometidas pela força pública entre 2002 e 2008, em meio ao feroz combate à guerrilha liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe: 2.292 casos, informou Suárez.

Mas o centro manteve em 80.514 o número de desaparecidos nos confrontos, uma cifra que quase triplica a das ditaduras como as de Brasil, Argentina e Chile no século XX (umas 32.300, segundo dados oficiais nestes países).

O informe será entregue à Jurisdição Especial para a Paz (JEP), sistema de Justiça surgido do acordo que no ano passado desarmou e transformou em partido as Farc para julgar guerrilheiros e militares por crimes cometidos durante os enfrentamentos.

Também à Comissão da Verdade e à Unidade de Busca de Pessoas dadas por desaparecidas, duas entidades criadas no pacto assinado no final de 2016 pelo governo de Juan Manuel Santos com a ex-guerrilha comunista.

O fim daquele que foi o grupo insurgente mais poderoso da América aliviou a conflagração colombiana, ao evitar no ano passado 3.000 mortes, desarmar 7.000 combatentes e reduzir os sequestros a cifras históricas.

No entanto, no território da quarta maior economia da América Latina ainda está ativo o Exército de Libertação Nacional (ELN).

O governo colombiano do presidente em fim de mandato, Juan Manuel Santos, e o ELN concluíram as negociações de paz esta semana em Cuba sem ter alcançado um cessar-fogo, deixando o futuro do processo nas mãos do presidente eleito Iván Duque, que será empossado em 7 de agosto.

Também há grupos criminosos de origem paramilitar e narcotraficantes, que disputam a receita obtida com o tráfico de drogas e de economias ilegais.

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