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Confirmação do suicídio de Allende marca os 39 anos do golpe

O governo chileno não realizou atos para lembrar a data, como os governos anteriores de centro-esquerda, e pediu aos cidadãos para lembrarem esta data em um clima de paz


	Estátua de Salvador Allende: A data foi recordada com homenagens às vítimas da ditadura
 (Richard Espinoza/Wikimedia Commons)

Estátua de Salvador Allende: A data foi recordada com homenagens às vítimas da ditadura (Richard Espinoza/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 11 de setembro de 2012 às 18h39.

Santiago do Chile - A confirmação judicial do suicídio do presidente Salvador Allende e alguns incidentes isolados marcaram nesta terça-feira as celebrações do 39º aniversário do golpe militar de Augusto Pinochet no Chile.

O governo, o primeiro de tendência conservadora no país desde 1990, não realizou atos para lembrar a data, como os governos anteriores de centro-esquerda, e pediu aos cidadãos para lembrarem esta data em um clima de paz.

No entanto, o dia começou com alguns incidentes isolados. No distrito de San Bernardo, no sul de Santiago, grupos de encapuzados levantaram uma barricada e tentaram atacar uma delegacia dos Carabineiros (polícia chilena), o que resultou na prisão de três pessoas.

Além disso, alguns jovens interditaram a avenida ''11 de setembro'', no bairro da Providencia. A polícia desocupou uma escola nas proximidades que tinha sido invadida ontem e dez pessoas foram detidas, entre elas nove alunos do colégio.

A data foi recordada com homenagens às vítimas da ditadura, como a realizada diante do monumento a Salvador Allende em frente ao Palácio de la Moneda (sede do governo chileno) com a presença de parentes do presidente e representantes de grupos de esquerda, inclusive os partidos Comunista e Socialista.

''Meu avô foi um homem coerente com seus ideais, sempre lutou por uma sociedade mais justa e acho que esse legado está mais vigente do que nunca'', afirmou a socialista Maya Fernández Allende, neta do presidente.

''Hoje em dia são os movimentos sociais, os estudantes, que assumiram a luta para terminar com a desigualdade em nosso país'', disse Maya, candidata à prefeitura do município de Ñuñoa nas eleições de 28 de outubro.


Em coincidência com o aniversário, a Corte de Apelações de Santiago ratificou a decisão de concluir a investigação judicial, iniciada no final de 2011 pelo juiz Mario Carroza, que confirmou o suicídio de Allende durante o bombardeio do Palácio de la Moneda.

A investigação foi aberta após a apresentação, em 2011, por parte do Ministério Público, de 726 queixas por casos de violação dos direitos humanos que nunca antes tinham sido investigados, e que incluiu a exumação dos restos mortais do líder socialista.

Uma equipe interdisciplinar de peritos concluiu em julho de 2011 que a causa da morte se deu por uma ''lesão perfurante na cabeça por projétil de arma de fogo de alta velocidade'', o que em medicina legal pode ser atribuído ao suicídio.

''A família está contente que o Poder Judiciário tenha reafirmado o que de alguma forma já sabíamos, mas desta vez cientificamente'', declarou a senadora e filha do ex-presidente, Isabel Allende.

No Congresso, entretanto, um deputado do partido conservador União Democrática Independente, Ignacio Urrutia, tachou Allende de ''covarde''.

''Aos covardes que se suicidaram nesse dia também vamos prestar uma homenagem? Ao covarde que se suicidou nesse dia também?'', afirmou o deputado enquanto se mantinha um minuto de silêncio em memória dos mortos no dia 11 de setembro de 1973.


Para hoje está prevista a celebração dos ''velatones'' (ritual de acendimento de velas) em diversos pontos emblemáticos como o Estádio Nacional, o edifício número 38 da Rua Londres e a Villa Grimaldi, antigos centros de reclusão e tortura.

A presidente do Agrupamento de Familiares de Detidos e Desaparecidos, Lorena Pizarro, afirmou que ''aqueles que esquecem correm o risco de voltar a repetir'' e pediu que os violadores de direitos humanos não fiquem ''impunes''.

Segundo os últimos números conhecidos, 76 agentes da ditadura foram condenados por violações de direitos humanos, dos quais 67 estão efetivamente na prisão, embora estas sejam de caráter especial e contem com muito mais comodidade do que as prisões comuns.

Entre 1973 e 1990, os anos do governo Pinochet, 3.200 pessoas morreram, das quais mil continuam desaparecidas, e outras 38 mil foram torturadas ou sofreram prisão política e tortura, segundo registros oficiais. 

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