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Confirmação do suicídio de Allende conclui episódio da história chilena

Existia também uma versão de que o presidente havia sido morto pelos militares golpistas

Salvador Allende: especialistas estrangeiros ajudaram na perícia do ex-presidente (Luigi Mamprin)

Salvador Allende: especialistas estrangeiros ajudaram na perícia do ex-presidente (Luigi Mamprin)

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Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2011 às 17h50.

Santiago - A confirmação da perícia que o presidente chileno Salvador Allende se suicidou no dia 11 de setembro de 1973, durante o bombardeio ao Palácio de La Moneda, contribuiu para fechar um emblemático episódio da história recente do país, sobre o qual pairavam algumas dúvidas.

O Serviço Médico Legal (SML) do Chile divulgou nesta terça-feira o resultado de um relatório científico, solicitado pela Justiça, que concluiu que o presidente se matou durante o golpe militar liderado por Augusto Pinochet, tal como sustentava a versão mais conhecida, defendida também por sua família.

"O presidente Allende (...) diante das circunstâncias extremas em que viveu, tomou a decisão de se suicidar antes de ser humilhado ou viver qualquer outra situação", disse sua filha, Isabel Allende.

A senadora socialista agradeceu o trabalho dos especialistas e declarou que a conclusão dará tranquilidade à família, que sempre acreditou na versão dos médicos de que Allende estava sozinho em seu escritório no momento de sua morte e não houve intervenção de terceiros.

Frente à versão do suicídio surgiu a hipótese de que o ex-presidente poderia ter sido assassinado pelos militares golpistas que atacaram La Moneda (sede de Governo) após bombardeá-lo e incendiá-lo, ou que falhou ao tentar suicídio e acabou sendo morto por um de seus colaboradores próximos.

O documento foi entregue ao juiz da Corte de Apelações de Santiago Mario Carroza, encarregado da investigação judicial, que agora deverá estudá-lo e cotejá-lo com outras diligências que ordenou de forma paralela.

O relatório, de mais de cem páginas, foi elaborado pelo SML e cinco especialistas estrangeiros, com a colaboração da Polícia de Pesquisas, e a conclusão foi unânime. Os exames confirmam "um só ferimento" que causou a morte de Salvador Allende, disse o diretor do SML, Patrício Bustos.


De acordo com o tanatólogo espanhol Francisco Etcheverria, "a lesão que existe no encéfalo aconteceu em consequência de um disparo com arma de fogo, com um fuzil que estava praticamente apoiado na mandíbula, na parte inferior, no queixo".

O perito balístico britânico David Pryor corroborou que a arma empregada foi um fuzil AK-47, presente do líder cubano Fidel Castro, que foi perdido após o golpe. O especialista afirmou que "há evidência de duas balas", ambas percutidas em um mesmo movimento, pois estava em posição automática, que permite disparar várias balas por segundo.

"Há dois cartuchos da mesma arma, mas foi encontrada apenas uma bala. Não temos nenhuma pista de onde está a segunda", acrescentou.

Bustos explicou que o trabalho pericial teve quatro fases: a comprovação da identidade do corpo exumado, a causa de morte (ferimento de projétil), a forma (suicídio) e a circunstância (golpe militar).

Durante este processo foram realizados exames odontológicos e genéticos e perícias antropológicas e balísticas, nas quais colaboraram antropólogos, arqueólogos, geneticistas e especialistas em balística e em ciência legista.

"Esperemos que isto seja uma etapa importante na busca pela verdade, como em outros casos de violações aos direitos humanos, para dar espaço à Justiça, que é o que necessita a sociedade chilena", concluiu o diretor do SML.

Atendendo a um pedido do Governo chileno, os exames foram observados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que validou "completamente e com total certeza a qualidade deste processo", disse seu representante, Felipe Donoso.

Carroza ouviu nas últimas semanas vários oficiais da Força Aérea para averiguar o nome dos pilotos que bombardearam La Moneda e ordenou exames em dois fuzis diante da possibilidade que um deles seja o usado por Allende.

Com estas diligências e o relatório entregue nesta terça-feira, o juiz deverá estabelecer a verdade judicial que fechará um dos episódios mais sangrentos da história do país, que 38 anos depois ainda continuava imerso em dúvidas.

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