Mundo

Comunidade internacional critica decisão de Trump sobre Irã

Irã e Rússia se manifestaram duramente contra a decisão de Trump e garantiram que continuarão a respeitar o acordo

Trump: "Pode um presidente sozinho anular um acordo multilateral e internacional?", disse Rohani (Kevin Lamarque/Reuters)

Trump: "Pode um presidente sozinho anular um acordo multilateral e internacional?", disse Rohani (Kevin Lamarque/Reuters)

A

AFP

Publicado em 13 de outubro de 2017 às 18h00.

Não demoraram a surgir as reações internacionais ao anúncio feito pelo presidente americano, Donald Trump, nesta sexta-feira (13), de não certificar no Congresso dos EUA o acordo nuclear com o Irã, uma decisão que pode colocar o pacto em risco.

Irã e Rússia se manifestaram duramente contra a decisão de Trump e garantiram que continuarão a respeitar o acordo.

Em pronunciamento transmitido pela televisão, o presidente iraniano, Hassan Rohani, declarou que "os Estados Unidos estão mais sozinhos do que nunca contra o acordo nuclear e mais do que nunca em seus complôs contra o povo iraniano".

"Pode um presidente sozinho anular um acordo multilateral e internacional? Aparentemente, não sabe que este acordo não é um acordo bilateral entre o Irã e os Estados Unidos", alfinetou Rohani.

"O acordo nuclear não é modificável, não se pode acrescentar a ele nenhum artigo, nenhuma nota", ensinou, garantindo que, "enquanto responder aos nossos interesses, permaneceremos no acordo nuclear e cooperaremos com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)".

"Mas, se um dia nossos interesses não forem satisfeitos, não hesitaremos um único segundo e reagiremos", advertiu.

Classificando-a de "retórica agressiva e ameaçadora", o Ministério russo das Relações Exteriores denunciou a estratégia e ressaltou que o acordo segue "intacto".

Em nota, a Chancelaria considerou que a decisão de Trump "não terá impacto direto sobre a aplicação" do texto, sendo "um elemento do debate doméstico" nos EUA.

União Europeia (UE), Paris, Berlim e Londres também se disseram "comprometidos" com o quadro atual.

"Permanecemos comprometidos com o JCPOA (acrônimo do acordo) e com sua plena aplicação por todas as partes", afirma um comunicado conjunto da primeira-ministra britânica, Theresa May; da chanceler alemã, Angela Merkel; e do presidente francês, Emmanuel Macron.

"Estamos preocupados com as implicações que poderão se derivar", acrescentaram, referindo-se à decisão de não certificação por parte de Trump.

"Incentivamos o governo e o Congresso americano a levarem em conta as implicações que sua decisão teria para a segurança dos Estados Unidos e para seus aliados", advertiu o texto conjunto.

Na mesma linha, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, testemunhou que o acordo nuclear com o Irã "está funcionando e mantém suas promessas" e que o presidente americano, Donald Trump "não tem" o poder de pôr fim à iniciativa P5+1 (EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha).

"Não podemos nos permitir, como comunidade internacional, e em particular a Europa, desmontar um acordo que funciona e mantém suas promessas", ressaltou Mogherini, poucos minutos depois do anúncio de Trump.

"O presidente dos Estados Unidos tem muitos poderes, mas não este", apontou, explicando que "este acordo não é um acordo bilateral, nem é um tratado internacional".

"Que eu saiba, nenhum país no mundo pode pôr fim sozinho a uma resolução adotada no Conselho de Segurança das Nações Unidas, e adotada por unanimidade", completou a chefe da diplomacia europeia.

Mais diplomático, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse esperar que o acordo nuclear iraniano sobreviva à decisão de Trump.

"O secretário-geral realmente espera que se mantenha", assegurou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

Guterres - completou seu porta-voz -, considera que o pacto "é uma conquista muito importante para consolidar a não-proliferação nuclear e avançar para a paz e a segurança globais".

Israel e sauditas aprovam

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, celebrou a "corajosa decisão" de Trump.

"Felicito o presidente Trump por sua corajosa decisão de enfrentar o regime terrorista iraniano", afirmou Netanyahu, em um vídeo divulgado em inglês pouco depois do discurso do presidente dos EUA.

"Se o acordo [nuclear] com o Irã continuar sem mudanças, uma coisa é certa: em alguns anos, o pior regime terrorista disporá de um arsenal de armas nucleares, o que constitui um enorme perigo para nosso futuro coletivo", advertiu o primeiro-ministro.

Netanyahu alega que o acordo permitirá ao Irã desenvolver seus programas nucleares, escondendo-se atrás do que foi firmado. Diante desse quadro, o premiê pede que seja anulado, ou profundamente modificado.

"O presidente Trump simplesmente criou a oportunidade para remodelar esse mau acordo, de repelir a agressão iraniana e de fazer frente a seu apoio criminoso ao terrorismo", insistiu Netanyahu.

Para Riad, tratou-se de uma "estratégia firme".

"A Arábia Saudita apoia e saúda a estratégia firme proclamada pelo presidente Trump em relação ao Irã e a sua política agressiva", declarou o governo em um comunicado.

O reino saudita reiterou seu "compromisso para trabalhar junto com seus sócios nos Estados Unidos e em todo mundo para enfrentar os perigos da política iraniana sobre a paz e sobre a segurança mundiais".

"O Irã se aproveitou economicamente da suspensão das sanções", após o acordo, para "desestabilizar a região e reforçar seu programa balístico", completou o reino.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)Irã - PaísUnião Europeia

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia