Antissemitismo: o antissemitismo cresce na Polônia alimentado pela crise dos refugiados vivida pela Europa e pela atitude de políticos locais (David Silverman/Getty Images)
EFE
Publicado em 17 de agosto de 2017 às 12h22.
Varsóvia - A comunidade judaica na Polônia teme por sua segurança por causa do aumento do antissemitismo no país, onde antes da II Guerra Mundial viviam cerca de 3,3 milhões de judeus, ou 10% da população polonesa na época, um número que atualmente ficou reduzido a apenas 10.000 pessoas.
Devido a esse temor, representantes da comunidade judaica local decidiram escrever para o politico mais influente do país, Jaroslaw Kaczynski, líder do partido governista Lei e Justiça, para pedir que condene o antissemitismo crescente.
"Nos vemos obrigados a escrever esta missiva diante da inquietação por nossa segurança consoante a situação no país se torna para nós mais perigosa", afirmam na carta os líderes da comunidade judaica na Polônia, Leslaw Piszewski, e na capital Varsóvia, Anna Chipczynska.
Ambos ressaltam que "as atitudes antissemitas aumentaram na Polônia nos últimos meses, junto com uma radicalização de parte da sociedade que contribui para atitudes agressivas, de ódio e violência contra a comunidade".
A denúncia não é nova, já que, em janeiro, um estudo apresentado pelo Centro de Pesquisa sobre Preconceitos da Universidade de Varsóvia revelou que o ódio aos judeus aumentou nos últimos dois anos, especialmente entre jovens, e alertou para um "alarmante" aumento do discurso antissemita na internet.
O antissemitismo cresce na Polônia alimentado pela crise dos refugiados vivida pela Europa e pela atitude de políticos locais e veículos de imprensa, enquanto aumenta também o número de agressões com motivação xenofóbica, segundo o mesmo estudo.
Exemplos dessas atitudes de ódio, especialmente antissemitas, são frequentes na Polônia, onde regularmente ocorrem, por exemplo, profanações de cemitérios judeus, com pichações ou destruição de lápides, afirmou à Agência Efe o diretor da "Nigdy Wiecej", Rafal Pankowski, uma ONG que desde 1996 luta contra o racismo e a xenofobia no país centro-europeu.
Pankowski definiu os dados como "alarmantes" e destacou que desde meados de 2015 acontecem cinco ou mais agressões xenofóbicas ou racistas por dia, enquanto que em anos anteriores o número de incidentes desse tipo era de cinco a dez por semana.
A carta dirigida a Kaczynski lembra que recentemente um parlamentar do Lei e Justiça, Bogdan Rzonca, se perguntou no Twitter "por que há tantos judeus que defendem o aborto apesar do Holocausto".
Outro exemplo do que a comunidade judaica considera antissemitismo crescente foi protagonizado por uma jornalista da rede de televisão pública polonesa, que destacou as raízes judaicas de um senador ao mesmo tempo que criticava suas decisões como politico.
"Nos preocupamos com nossa segurança e o nosso futuro na Polônia, não queremos voltar à mesma situação do ano de 1968", ressalta a carta.
Apesar da escassa presença de judeus na Polônia atual, a consciência coletiva de muitos poloneses ainda se situa no cenário anterior à II Guerra Mundial, quando eles representavam cerca de 10% da população do país, ou 3,3 milhões de pessoas.
Apenas 300 mil sobreviveram ao Holocausto, e a maioria se mudou depois da guerra para Israel.
Em 1968, data à qual a carta faz menção, ocorreu o êxodo em massa de aproximadamente 35 mil judeus poloneses dos 40 mil que restavam após a II Guerra Mundial.
O êxodo foi o resultado de uma onda de antissemitismo instigada pelas autoridades da Polônia comunista como parte de uma campanha que serviu para desviar a atenção pública da crise política e econômica vivida pelo país.
Após a queda do comunismo, alguns judeus decidiram retornar à Polônia e outros que assimilaram costumes da população local como medida de proteção voltaram a adotar suas tradições de maneira pública.