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Companhia, refeições e cuidados médicos: idosas japonesas solitárias cometem crimes para irem presas

População mais velha do país sofre com pobreza e abandono

Idosas recorrem às prisões para terem qualidade de vida no Japão (CNN/Reprodução)

Idosas recorrem às prisões para terem qualidade de vida no Japão (CNN/Reprodução)

Agência o Globo
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Publicado em 19 de janeiro de 2025 às 17h14.

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A realidade na maior prisão feminina do Japão é semelhante à de diversas casas de repouso ao redor do mundo: centenas de residentes idosas, com seus rostos e mãos enrugados, andando lentamente pelos corredores. Na Prisão Feminina de Tochigi, localizada ao norte de Tóquio, os funcionários ajudam algumas detentas a comer, tomar medicamentos e tomar banho.

A alta população carcerária mais velha expõe feridas abertas do Japão, como o envelhecimento geral da sociedade japonesa e a questão da solidão desta grande parcela populacional, relata a rede americana CNN. Guardas explicam que estas questões são tão graves que parte das prisioneiras idosas escolhem continuar presas.

— Há até pessoas que dizem que pagarão 20 mil ou 30 mil ienes (cerca de R$ 778 a R$ 1.167) por mês (se puderem) para viver aqui para sempre — disse Takayoshi Shiranaga, um oficial da prisão de Tochigi, durante entrevista à CNN.

A detenta Yoko, de 51 anos, foi presa cinco vezes nos últimos 25 anos, acusada de tráfico de drogas. Ela afirma que, toda vez que retorna, a população carcerária parece ficar mais velha.

— (Algumas pessoas) fazem coisas ruins de propósito e são pegas para que possam voltar para a prisão novamente, se ficarem sem dinheiro — afirma Yoko (pseudônimo usado para proteger sua identidade).

Em Tochigi, uma em cada cinco detentas é idosa, e a prisão ajustou seus serviços para levar em conta a idade deles. No Japão, o número de prisioneiros com 65 anos ou mais quase quadruplicou de 2003 a 2022 — e isso também alterou a forma que o encarceramento é conduzido no país.

— Agora temos que trocar suas fraldas, ajudá-los a tomar banho, a comer — disse Shiranaga à rede americana.

— A essa altura, parece mais uma casa de repouso do que uma prisão cheia de criminosas condenadas.

Entre os principais crimes cometidos por presidiários idosos, o furto é destaque, especialmente entre as mulheres. Em 2022, mais de 80% das mulheres idosas presas em todo o país estavam na cadeia por roubo, de acordo com dados do governo japonês.

Muitas fazem isso para sobreviver — 20% das pessoas com mais de 65 anos no Japão vivem na pobreza, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em comparação com uma média de 14,2% nos 38 países membros da organização.

Akiyo, uma detenta de 81 anos, com cabelos grisalhos curtos e mãos salpicadas de manchas da idade era uma das detentas que estava cumprindo pena por furto de alimentos.

— Há pessoas muito boas nesta prisão — disse Akiyo (pseudônimo usado para proteger sua identidade) à CNN.

— Talvez esta vida seja a mais estável para mim.

Dentro de Tochigi, as detentas recebem refeições regulares, assistência médica gratuita e cuidados com os idosos, além da companhia que não têm do lado de fora. Akiyo conhece muito bem o fardo do isolamento e da pobreza. Esta é a segunda passagem da idosa pela prisão, depois de ter sido presa anteriormente, aos 60 anos, por roubar comida.

— Se eu fosse financeiramente estável e tivesse um estilo de vida confortável, definitivamente não teria feito isso — admitiu.

Quando cometeu seu segundo furto, Akiyo estava vivendo de uma pensão “muito pequena” que era paga apenas a cada dois meses. Com menos de R$ 250 sobrando e há duas semanas do próximo pagamento, “tomei uma decisão ruim e furtei uma loja, pensando que seria um problema menor”, afirmou ela.

Além da pobreza, outro problema que aflige a população idosa japonesa é o abandono familiar, o que resulta na falta de apoio quando são reintegrados à sociedade. Parte do problema para os ex-detentos é a falta de apoio quando voltam à sociedade, disse Megumi, uma agente penitenciária em Tochigi, que a CNN identificou apenas pelo primeiro nome para fins de privacidade.

— Mesmo depois de serem libertados e voltarem à vida normal, eles não têm ninguém para cuidar deles — relatou Megumi, agente penitenciária em Tochigi.

— Há também pessoas que foram abandonadas por suas famílias depois de cometerem crimes repetidamente, elas não têm um lugar para onde voltar.

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