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Como Trump influencia eleições de outros países —e ajuda seus opositores

Candidatos que se posicionaram contra medidas do líder americano tiveram vitórias no Canadá e Austrália

O presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do premiê canadense Mark Carney, na Casa Branca
 (Jim Watson/AFP)

O presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do premiê canadense Mark Carney, na Casa Branca (Jim Watson/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 12 de maio de 2025 às 15h51.

Desde que tomou posse, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem influenciado o resultado de eleições de outros países. Candidatos contrários a ele têm ganhado força, e vencido disputas, em países como Canadá e Austrália.

O caso mais emblemático é o de Mark Carney, eleito premiê do Canadá no final de abril. Seu partido, o Liberal, estava com aprovação tão ruim que o premiê Justin Trudeau renunciou ao cargo, em janeiro, e abriu espaço para uma nova eleição.

No entanto, Trump passou a ameaçar anexar o Canadá e impôs tarifas de importação sobre o país vizinho, que tem as cadeias de produção profundamente integradas aos EUA.

Os ataques impulsionaram um senso de patriotismo no Canadá, que ajudou os liberais a recuperarem a popularidade. "Isso foi muito ruim para o Partido Conservador, que manifestava apoio aos republicanos. A associação com Trump começou a custar muito caro. A eleição deixou de ser sobre mudança e passou a ser como gerir Trump e os efeitos dele sobre a economia", disse Mauricio Moura, professor da Universidade George Washington, em entrevista ao programa Macro em Pauta Internacional. Assista abaixo.

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"Na Austrália, aconteceu o mesmo. Dois meses atrás, os conservadores estavam liderando as pesquisas, mas eles haviam comemorado a vitória de Trump e elogiaram o trabalho de Elon Musk na Casa Branca. Aí o serviço público se revoltou e teve uma virada. Os trabalhistas levaram a maioria", conta Mauricio.

Moura aponta ainda o caso da Alemanha, em que o partido AfD, de extrema-direita, perdeu apoio após Musk e o vice-presidente dos EUA, JD Vance, pedirem votos para a legenda. Nas eleições de fevereiro, o partido terminou em segundo lugar e ficou de fora do governo.

Efeito mesmo sem eleições

O professor destaca ainda que governantes que se colocaram contra Trump, mesmo sem estarem disputando eleições, tiveram ganhos de popularidade, como o líder ucraniano Volodymyr Zelensky e a presidente mexicana Claudia Sheinbaun.

"Zelensky estava com uma popularidade negativa, ou seja, mais desaprovação do que aprovação, até ele aparecer sentado lá na Casa Branca [e tomar bronca de Trump]. Depois disso, a popularidade dele subiu 20 pontos percentuais. Quando a gente vê os estudos na Ucrânia, as pessoas dizem que até não gostam do presidente, mas que isso não se faz com ninguém. A população ucraniana se solidarizou com o Zelensky", disse Moura.

'Champions League' da atenção

Na conversa, Moura disse ainda que a guerra comercial lançada por Trump tem um grande efeito indireto: atrair uma quantidade enorme de atenção para ele.

"É praticamente a 'Champios League' da atenção. Com as tarifas, ele tem atenção de toda a imprensa, que só fala nisso. Dos chefes de Estado que obviamente tem que procurá-lo ativamente, e do empresariado, que tem que ir lá bater na porta pedir a benção", afirma.

Moura conta que esse conceito veio do livro novo do jornalista Michael Wolff, "All or Nothing: How Trump Recaptured America", lançado nos EUA em fevereiro.

"Ele tem uma construção sobre o Donald Trump que é a seguinte: Trump tem dois dois focos. Um é a geração de atenção, ele precisa de atenção precisa sentir que está nas manchetes e é o centro das atenções. As tarifas garantem isso", aponta.

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