Mundo

Como os americanos enxergam a demissão de Comey por Trump

Levantamento do Instituto Gallup mostra que episódio, embora controverso, não impactou o índice de aprovação de Trump, que permanece em 41%

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: maioria dos americanos é contra a demissão de James Comey do FBI (Yuri Gripas/Reuters)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: maioria dos americanos é contra a demissão de James Comey do FBI (Yuri Gripas/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 17 de maio de 2017 às 11h32.

São Paulo – A demissão de James Comey, então diretor do FBI, pelo presidente Donald Trump não foi bem vista pela maioria dos americanos. É o que mostrou um levantamento conduzido pelo Instituto Gallup de pesquisas conduzido entre 10 e 11 de maio, dias depois do surpreendente anúncio da dispensa.

De acordo com a consulta, 46% dos americanos reprova a demissão de Comey, enquanto 39% aprova a decisão do presidente republicano. 15% dos entrevistados disse não ter uma opinião sobre o tema.

Embora note que a maioria dos cidadãos se posicione de modo desfavorável sobre a demissão de Comey, a Gallup lembra que o episódio não impactou o índice de aprovação de Trump, que segue em 41%.

Quando se olha para a opinião de republicanos e democratas, os números mostram o quanto esses grupos estão em lados opostos nessa polêmica: 79% dos primeiros se posicionaram favoravelmente, enquanto 78% dos democratas foram contra.

Entre os independentes, nota-se uma tendência de alinhamento com os democratas, uma vez que 45% deles reprovou o ato de Trump. Esse grupo também reúne a maioria das pessoas que disse não ter uma opinião, 24%.

Trump x Clinton

A pesquisa conduzida pelo Gallup fez ainda uma comparação com outro momento histórico polêmico da política americana, quando o então presidente Bill Clinton agiu similarmente ao demitir William Sessions do posto de diretor do FBI em 1993.

Na ocasião, 44% dos americanos disse aprovar a dispensa, contra 24% que se manifestou contra a decisão do presidente democrata. A aprovação de Clinton estava no mesmo patamar que a observada atualmente por Trump, em 41%.

Os republicanos ficaram divididos nesse tema: 34% deles reprovou e 34% aprovou o ato. 57% dos democratas apoiou a decisão de Clinton, assim como 42% dos independentes.

A diferença de opinião em casos aparentemente semelhantes, explica a entidade, pode ser explicada pelo contexto de cada uma dessas demissões. “A demissão de Comey foi muito mais controversa”, notou o Instituto, especialmente por conta da confusão causada pela Casa Branca sobre as razões da dispensa.

Primeiro, a Casa Branca alegou tê-lo demitido por recomendação do procurador-geral, que criticou a atuação de Comey no caso dos e-mails de Hillary Clinton. Depois, afirmou que ele havia perdido a confiança de sua equipe e, por fim, disse que a investigação do FBI sobre a ligação da campanha de Trump com a Rússia visava descreditar a vitória republicana.

Já no caso de Clinton, a entidade percebe que as razões por trás da demissão de Sessions despertaram menos paixões partidárias, uma vez que a dispensa do então diretor foi baseada em um relatório do Departamento de Justiça. O documento questionava a ética da autoridade em temas fiscais e levantava dúvidas sobre um possível mau uso de propriedades do governo.

Impeachment

A controvérsia gerada pela demissão de Comey pode não ter afetado diretamente a popularidade de Trump, mas parece ter dividido os americanos sobre um possível processo de impeachment.

Outra pesquisa, essa conduzida pela empresa Public Policy Polling, aponta que 48% dos americanos querem o início de um processo de impeachment contra o presidente em razão do episódio ante 41% que se opõem ao julgamento político de Trump. Apenas 43% dos entrevistados acreditam que o presidente irá finalizar o seu mandato.

Repercussão

A demissão de Comey aconteceu na semana passada e gerou comparações com o escândalo de “Watergate”, que culminou com a renúncia de Richard Nixon em 1972. Apesar das tentativas da Casa Branca de explicar o caso, ele segue esquentando com a revelação de novos detalhes.

A polêmica não dá sinais de que será esquecida tão cedo pela imprensa americana e membros do Congresso, que agora pedem a abertura de uma investigação independente sobre os laços da campanha de Trump com a Rússia.

Nesta semana, outros dois episódios contribuíram para tornar o clima na Casa Branca ainda mais pesado. Na segunda-feira, o jornal The Washington Post revelou que Trump teria disponibilizado informações sigilosas durante encontro com autoridades russas. A Casa Branca nega e até Vladimir Putin, presidente russo, se envolveu dizendo estar pronto para liberar a transcrição dessa reunião.

Ontem, terça-feira, foi a vez de o The New Times, que divulgou um memorando escrito por Comey no qual relatava que Trump teria pedido que encerrasse a investigação sobre Michael Flynn, ex-conselheiro de segurança nacional do governo. Flynn demitido por ter escondido a dimensão de sua relação com o embaixador da Rússia nos Estados Unidos, Sergei Kislyak.

Acompanhe tudo sobre:DiplomaciaDonald TrumpEspionagemEstados Unidos (EUA)FBIRússiaVladimir Putin

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia