Reunião do clima em Paris: foram 13 dias de intenso debate para um desfecho inédito (Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2015 às 17h11.
O final de semana foi de celebração em Paris: líderes mundiais saudaram a aprovação do texto final da Conferência Mundial do Clima (COP21) sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa.
Foram 13 dias de intenso debate para um desfecho inédito: pela primeira vez na História, representantes de 195 países chegaram a um acordo global sobre o clima.
Para o jornal britânico Guardian, não há dúvidas: o acordo é um sucesso diplomático - e um trunfo e tanto para Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores da França e presidente designado da COP21.
O documento prevê limitar o crescimento da emissão de gases de efeito estufa, estabelecendo um teto para o aquecimento global e criar um fundo de US$ 100 bilhões, financiado pelos países ricos, a partir de 2020.
O acordo também indica que devem ser “perseguidos esforços para limitar o aumento da temperatura acima de 1,5º C” e "bem abaixo dos 2ºC" .
A redução do aquecimento pretende evitar fenômenos extremos como ondas de calor, seca, cheias ou subida do nível do mar.
A meta intermediária foi, segundo o Valor, a maneira de contemplar as pequenas ilhas, que queriam um compromisso de 1,5º C e também os países que resistiam a isso, como China e Índia, que preferiam se manter nos 2º C.
Ainda que o texto não defina precisamente o que terá que ser feito, cientistas ouvidos pelo Financial Times sugerem que até 2050 os países não poderão emitir mais dióxido de carbono do que pode ser absorvido pelo meio ambiente.
Segundo Mohamed Adow, da Christian Aid, feito o acordo, agora é hora de trabalhar pela transição.
“Agora é inevitável para todos os Estados entrarem em uma transição para um caminho de baixas emissões. Se não o fizerem voluntariamente, serão obrigados.”
Tim Gore, da Oxfam, disse que o estabelecimento da meta de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius “é vitória moral importante”, mas necessita de “um aumento da ação nos próximos anos”.
Gore afirmou ter sentido “grande decepção” pelo fato de não estarem claras as garantias de financiamento da adaptação ao calendário climático.
Para Marta Sfredo, do Zero Hora, o acordo é viável, mas esbarra no aspecto financeiro.
"Ficou prolongado até 2025 o compromisso dos países desenvolvidos — os que mais geraram gases de efeito estufa até agora — de aportar US$ 100 bilhões ao ano para garantir que aqueles em desenvolvimento — que têm mais necessidade de industrialização e mais dificuldade de "descarbonizar" suas economias — possam suavizar os efeitos do aquecimento global", escreveu a colunista. Após 2025, no entanto, o sistema ainda está em aberto.
Outro ponto que pode dificultar o cumprimento das metas, segundo reportagem daFolha de S.Paulo, é o fato de que a meta não será obrigatória nem será verificada.
O aspecto, no entanto, é uma das condições para que os EUA se comprometam com a meta, visto que o Congresso americano não ratifica quaisquer acordos que imponham obrigações legais sobre o clima.
Para driblar a dificuldade, o jeito foi impor um balanço, que deve ser feito a cada cinco anos. Dessa forma, cada país vai rever suas metas e fazer um retrospecto do que tem sido feito.
De acordo com o Indian Express, o acordo só foi possível porque todos os países aceitaram que todos iriam perder um pouco, ganhar um pouco e se comprometer.
"Nenhum país ou grupo teve uma vitória expressiva em quaisquer questões contenciosas. Ao mesmo tempo, cada um deles tem algo para se vangloriar."
Matt McGrath, da BBC, também vê o acordo com otimismo, apesar dos "discursos e clichês" vistos na capital francesa nas últimas duas semanas.
"Há dinheiro para os países mais pobres se adaptarem, há mecanismos de revisão para aumentar a meta ao longo do tempo. Isso é fundamental, se o negócio é atingir o objetivo de manter o aquecimento bem abaixo de 2ºC", afirma.