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Como o ex-ministro do Afeganistão virou entregador na Alemanha

Sayed Sadaat trabalha como entregador de comida e ganha pouco mais de um salário-mínimo no país

Afeganistão: a história do ex-ministro afegão ganhou destaque com o caos que se desenrolou no país após o Talibã tomar o poder (JENS SCHLUETER/AFP/Getty Images)

Afeganistão: a história do ex-ministro afegão ganhou destaque com o caos que se desenrolou no país após o Talibã tomar o poder (JENS SCHLUETER/AFP/Getty Images)

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André Martins

Publicado em 30 de agosto de 2021 às 12h48.

Última atualização em 30 de agosto de 2021 às 14h14.

Sayed Sadaat, de 50 anos, foi ministro das Comunicações do Afeganistão antes de se mudar para a Alemanha em dezembro de 2020 na esperança de um futuro melhor. Agora, ele ganha a vida como entregador de comida na cidade de Leipzig, no leste alemão.

De bicicleta, uniforme e a mochila onde carrega os pedidos, Sayed trabalha 6 horas, de segunda a sexta-feira; e de meio-dia até ás 22h nos finais de semana. Ele ganha 15 euros por hora (91 reais, em conversão direta) e afirma que valor é o suficiente para pagar suas contas. O salário-minimo na Alemanha é de 9 euros por hora.

"Não tem por que ter vergonha. É um trabalho como outro qualquer. Se há emprego, é porque há uma determinada demanda e que alguém deve se encarregar de satisfazê-la", disse em entrevista para a agência de notícias AFP.

O ex-ministro afegão que trabalhou para o governo de 2016 até 2018, alega que deixou o cargo por desavenças com pessoas próximas ao ex-presidente do país – que fugiu do país assim que o Talibã tomou o poder – e por corrupção que alega que acontecia dentro do governo afegão.

Após deixar o governo, ele conseguiu um emprego como consultor no setor de telecomunicações no seu país natal. Porém, quando percebeu a escalada do Talibã, decidiu deixar o Afeganistão. 

Sayed Sadaat, ex-ministro do Afeganistão, virou entregador na Alemanha (JENS SCHLUETER/AFP/Getty Images)

Com cidadania britânica, Sayed escolheu a Alemanha por considerar que teria mais oportunidades de trabalho. Mas mesmo com sua formação, Sadaat tem lutado para encontrar um emprego na Alemanha que corresponda à sua experiência. Formado em TI e telecomunicações, ele esperava encontrar oportunidades. Mas, sem alemão, suas chances foram mínimas. "O idioma é a parte mais importante", disse.

Para conseguir um trabalho melhor, todos os dias ele faz 4 horas de alemão em uma escola de idiomas antes de começar o turno de começar realizar as entregas de comida para Lieferando. "Esse trabalho [de entregador] é por um período limitado, até que eu encontre outro emprego", diz ele.

Apesar da posição atual, Sadaat acredita que pode ser útil para o governo alemão após a retirada das forças da Otan no Afeganistão. "Posso aconselhar o governo alemão e tentar fazer com que o povo afegão tire proveito disso, porque posso dar a eles uma imagem realista do terreno", concluiu. 

A história do ex-ministro afegão ganhou destaque com o caos que se desenrolou no Afeganistão após o Talibã tomar o poder no país. O número de solicitação de asilo de afegãos na Alemanha aumentou desde o início do ano, saltando em mais de 130%, mostraram dados do Escritório Federal para Migração e Refugiados. Há anos, os afegãos são o segundo maior grupo de migrantes na Alemanha, atrás dos sírios. Cerca de 210.000 pedidos de asilo foram registrados desde 2015 no país europeu.

A agência para refugiados da ONU estima que até 500.000 afegãos podem fugir do pais até o final do ano. "Uma crise humanitária muito maior está apenas começando", disse Filippo Grandi, Alto Comissário das Nações Unidas, ao apelar que países permaneçam com fronteiras abertas.

No domingo, 29, o grupo fundamentalista afirmou em comunicado que permitirá que todos os estrangeiros e cidadãos afegãos com autorização de viagem de outro país deixem o Afeganistão.

Com informações da AFP.

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