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Como Hillary Clinton perdeu a eleição para a presidência

A democrata ganhou no voto popular, mas isso não foi suficiente para levá-la à Casa Branca. Entenda as razões por trás da sua derrota para o republicano

 (Justin Sullivan/Getty Images)

(Justin Sullivan/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 10 de novembro de 2016 às 13h06.

Última atualização em 10 de novembro de 2016 às 13h36.

São Paulo – Um dia depois da divulgação do resultado da histórica eleição do republicano Donald Trump, o mundo olha para sua maior rival, a democrata Hillary Clinton, e se pergunta: o que foi que deu errado?

A resposta, evidentemente, é complexa e é também a mistura de uma série de fatores que começam a se desenrolar após a ratificação do resultado.

Vista por especialistas como a candidata mais preparada para a tarefa do que qualquer outro presidente que ascendeu ao cargo, o desempenho da democrata e suas qualidades técnicas não foram suficientes para bater o discurso popular e o apelo do republicano. Mas esse foi apenas um dos obstáculos que ela não superou. 

Nesta matéria, EXAME.com reúne algumas pistas que mostram os fatores por trás dessa derrota.

Resultados

Desde as convenções partidárias de julho que apontaram Hillary e Trump como candidatos oficiais, as pesquisas de intenção de voto se mostraram voláteis, porém sempre apontando uma leve vantagem da democrata. Esse cenário não estava totalmente equivocado: no voto popular, Hillary levou a melhor.

Ao todo, a ex-secretária de Estado de Barack Obama assegurou exatos 59.814,018 de votos contra 59.611,678 concedidos ao magnata. Embora a diferença seja pequena, não há dúvidas de que ela se consolidou na preferência dos milhões de americanos que foram às urnas no último dia 8 de novembro.

Pelo sistema eleitoral americano, no entanto, isso não seria o suficiente para levá-la à Casa Branca, uma vez que esse montante de votos populares não se traduziu em votos dos delegados do chamado Colégio Eleitoral, processo que, na prática, é o que elege o presidente dos Estados Unidos. (Entenda como ele funciona)

Ao abocanhar estados considerados essenciais para a contagem desses delegados, Trump, o polêmico empresário, atingiu o número mágico de 270, a quantidade necessária para garantir a sua eleição. Hillary, por sua vez, parou nos 228. Ao todo, o Colégio Eleitoral conta com 538 delegados espalhados pelos 50 estados e o Distrito de Columbia.

Estados-chave

Na visão de Márcio Coimbra, coordenador do MBA de Relações Institucionais do Ibmec e diretor do Comitê de Política Acadêmica do Institute of World Politics (EUA), a eleição 2016 dos EUA se resumiu a quatro estados: Michigan, Pensilvânia, Flórida e Ohio.

Segundo ele, entre as surpresas estão o Michigan, lar da indústria automobilística americana e poderosos sindicatos, e a Pensilvânia, estado cuja economia é baseada na siderurgia e mineração. No primeiro, a diferença de votos foi de 0,3%, levando a Trump 16 delegados, enquanto no segundo, o empresário ficou com pouco mais de 1% de vantagem e 20 delegados.

Flórida e Ohio, tradicionalmente considerados como “swing-states”, aqueles onde qualquer resultado é possível, foram outros dois que ajudaram na consolidação do resultado dessas eleições. Na Flórida, a diferença entre os votos foi de menos de 1% e deu a Trump 29 delegados. Já em Ohio, que Coimbra considera o “estado termômetro” dos resultados eleitorais e com 18 delegados, a vantagem de Trump ante Hillary foi de quase 10%.

“Todos esses estados votaram com os democratas em 2012, mas, neste ano, mudaram de lado”, analisou Coimbra. Para se ter ideia do tamanho da mudança no comportamento desses eleitores, Obama, em 2012, venceu com diferenças de 9,5%, 5,4%, 3% e 0,9%, respectivamente, ante o republicano Mitt Romney.

Em todos esses estados, Hillary conseguiu um bom desempenho nas regiões próximas aos grandes centros. Ao sair deles, no entanto, e ir para as zonas rurais, os mapas revelam uma grande onda vermelha de apoio ao candidato republicano.

Veja abaixo como ficou a Flórida, por exemplo, segundo dados do jornal americano The New York Times:

Flórida

Voto anti-establishment

A mudança de lado nestes quatro estados revela outro fenômeno essencial para a compreensão da derrota de Hillary. Segundo a avaliação de Coimbra, Trump, mais que John McCain em 2008, Mitt Romney em 2012 e Hillary em 2016, é a resposta encontrada pelos eleitores para rechaçar o establishment, a velha política que não consideram como representativa de suas vozes.

“São ondas similares onde notamos uma rejeição ao político tradicional, uma tendência de voto em pessoas de fora do espectro político. Uma renovação”, aponta Coimbra, “e Hillary representa justamente o contrário”.

Mulheres

Embora 54% das mulheres tenham votado em Hillary, a democrata perdeu feio entre as mulheres brancas. Segundo números do site FiftyThirdyEight, do consagrado matemático Nate Silver, no total, Trump levou 53% dos votos desse grupo, contra 43% de Hillary. Entre as mulheres com educação superior, ela venceu com 51% ante 45%.

Agora, quando se olha para as mulheres sem educação superior, o republicano assegurou a preferência de 62% delas e a democrata apenas 34%.  Segundo análise desse site, esse desempenho ruim foi um dos fatores por trás da sua derrota na Flórida, por exemplo.

Voto das minorias

A mudança desse comportamento, além de revelar o sentimento de raiva contra a política, trouxe à tona outros aspectos em torno do voto das minorias como latinos e negros. Esse grupo representava 31% do total de eleitores registrados e eram considerados essenciais para decidir o resultado final.

Notou-se, contudo, que Hillary enfrentou a rejeição dessas pessoas na comparação com Obama em 2012. Segundo uma pesquisa conduzida pela CNN, 88% dos negros votaram em Hillary, mas 93% em Obama. Entre os latinos, ela levou 65% dos votos, enquanto ele 71%,

Já o segundo, avaliou Coimbra, é o fato de que o voto latino não fez a diferença esperada. Embora as declarações explosivas de Trump sobre os latinos e a ameaça de construção de um muro que separe os EUA do México, 29% dos latinos votaram no republicano, percentagem maior que a observada por Romney em 2012.

Escândalos

Outro fator que machucou Hillary foi o escândalo dos e-mails . A acusação de que ela teria usado servidores privados para trocar e-mails oficiais enquanto secretária de Estado teimou em aparecer em diferentes momentos da campanha. Nos decisivos, inclusive.

Nas vésperas da eleição, ele voltou com força total. O FBI obteve um mandato para investigar os e-mails da democrata, dizendo ter novas provas de má conduta. Embora o FBI tenha decidido por não a denunciar formalmente, a confiança dos eleitores em explicações vazias sobre o tema ficou balançada. Como resultado, as pesquisas oscilaram contra Hillary.

Os problemas em torno da Fundação Clinton só agravaram o quadro e foram bem usados por Trump para desestabilizar uma confiança já fragilizada. Neste caso, alegou-se que ela teria usado a entidade num esquema de troca de favores enquanto secretária de Estado. Foi criticada até pelo jornal The Washington Post, que a acusou de “conflito de interesses”, caso fosse eleita à presidência.

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