24 July 2022, Poland, Rzeszow: MIM-104 Patriot short-range anti-aircraft missile systems for defense against aircraft, cruise missiles and medium-range tactical ballistic missiles are located at Rzeszow Airport. Photo: Christophe Gateau/dpa (Photo by Christophe Gateau/picture alliance via Getty Images) (Christophe Gateau/picture alliance/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de dezembro de 2022 às 09h02.
Última atualização em 22 de dezembro de 2022 às 09h25.
Na primeira viagem internacional do presidente da Ucrânia desde o começo da invasão russa ao país, em fevereiro, Volodmir Zelenski conversou com o presidente dos EUA, Joe Biden, discursou no Congresso dos EUA e recebeu a promessa de um envio de US$ 2 bilhões em ajuda, além do importante sistema antiaéreo de mísseis Patriot.
A visita e o envio dos armamentos, o mais avançado que o Ocidente mandou para a Ucrânia até agora, foram vistos pela Rússia como um sinal de agressão. Nesta quarta-feira, 21, antes mesmo do encontro entre Zelenski e Biden, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que seu país continuará desenvolvendo seu potencial militar e que vai deixar suas forças nucleares “prontas para o combate”. Em uma coletiva de fim de ano, com participação de quase 15 mil oficiais, o presidente disse que as novas entregas de armas à Ucrânia agravarão o conflito. Também anunciou que a Marinha terá novos mísseis de cruzeiro hipersônicos Zircon no início de janeiro, desenvolvidos nos últimos anos por Moscou.
A visita de Zelenski aos Estados Unidos ocorre quando a guerra está perto de completar 10 meses e será acompanhada de uma nova ajuda “significativa” de Washington a Kiev, que incluirá um sistema antiaéreo Patriot. Semanas atrás, o anúncio da medida provocou reação do Kremlin, que prometeu ataques preventivos contra os carregamentos americanos, sem deixar claro se tentariam destruir os mísseis ainda em posse dos americanos, antes da chegada deles ao país do Leste Europeu.
Em discurso no Congresso, Zelenski foi aplaudido de pé pelos parlamentares. O líder ucraniano citou o Natal como um símbolo da situação dos ucranianos. “Celebraremos o Natal, talvez à luz de velas. Não porque seja romântico, mas porque os russos cortaram a eletricidade”, afirmou.
Os sistemas de mísseis Patriot são considerados um dos melhores sistemas de escudo antiaéreo do mundo. Analistas militares consideram o envio um “ponto de virada” na guerra - algo que o presidente ucraniano busca há meses para aumentar as defesas aéreas de seu país. Mas especialistas em armamentos bélicos e sistemas de defesa alertam que a eficácia do sistema é limitada e sua operação é complexa
Cada bateria do Patriot consiste em um sistema de lançamento montado em caminhão com oito lançadores que podem conter até quatro interceptadores de mísseis cada, um radar terrestre, uma estação de controle e um gerador. O Exército americano disse que atualmente tem 16 batalhões Patriot. Um relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de 2018 descobriu que esses batalhões operam 50 baterias, que possuem mais de 1.200 interceptadores de mísseis.
O sistema Patriot “é um dos sistemas de defesa de mísseis aéreos mais amplamente operados, confiáveis e testados que existe”, e a capacidade de defesa de mísseis balísticos pode ajudar a defender a Ucrânia contra mísseis fornecidos pelo Irã, disse Tom Karako, diretor do Missile Defense Projetct do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Ao longo dos anos, o sistema Patriot e os mísseis utilizados por ele foram continuamente modificados. O atual míssil interceptador para o sistema Patriot custa aproximadamente US$ 4 milhões (R$ 21,3 milhões) por disparo e os lançadores custam cerca de US$ 10 milhões (R$ 53,3 milhões) cada, informou o CSIS em seu relatório de defesa antimísseis de julho. A esse preço, não é rentável ou ideal usar o Patriot para abater os drones iranianos, muito menores e muito mais baratos, que a Rússia tem comprado e usado na Ucrânia. “Disparar um míssil de um milhão de dólares contra um drone de US$ 50.000 é uma proposição sem sentido”, disse Mark Cancian, coronel da reserva aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais e conselheiro sênior do CSIS.
Os Estados Unidos tomaram outras medidas para melhorar as defesas aéreas ucranianas, incluindo o envio de dois Sistemas Nacionais Avançados de Mísseis Superfície-Ar (NASAMS), no mês passado, e a assinatura de um contrato de US$ 1,2 bilhão (aproximadamente R$ 6,4 bilhões) para construir e fornecer mais seis nos próximos dois anos.
No início do conflito, as autoridades americanas também ajudaram a intermediar um acordo com a Eslováquia, um aliado da Otan, para enviar seu único sistema de defesa aérea S-300 para a Ucrânia em troca de unidades Patriot.
Mas não foi o suficiente. Os bombardeios russos, incluindo aqueles que utilizaram drones de fabricação iraniana, tornaram-se uma das maiores ameaças para a Ucrânia, destruindo boa parte de sua infraestrutura - a mais preocupante delas, a infraestrutura energética, com a aproximação do inverno. Com isso, a pressão pelo Patriot aumentou.
A desconfiança da capacidade técnica das tropas ucranianas utilizarem os equipamentos modernos, contudo, preocupa Washington, e foi apontada por analistas militares.
“Este será o equipamento mais desafiador que a Ucrânia recebeu até hoje”, disse Mark Cancian, cuja pesquisa durante a guerra se concentrou em suprimentos de armas. “Se os ucranianos tivessem um ou dois anos para absorver o Patriot, isso não seria um problema. … Meu palpite é que o Pentágono está muito nervoso com isso”.
Cancian disse que o Pentágono está “correndo um grande risco” ao implantar o sistema Patriot. “Acho que eles decidiram isso porque a necessidade de defesa aérea era tão grande, que eles estavam dispostos a correr um risco que não era o caso no passado.”
O sistema Patriot conta com um radar sofisticado para detectar ameaças recebidas e dispara mísseis de longo alcance para interceptá-las. Seus lançadores ficam em um chassi de caminhão e são altamente móveis. Cerca de 90 soldados são designados para um batalhão Patriot típico, que inclui até oito lançadores, cada um contendo entre quatro e 16 mísseis prontos para disparar, dependendo do tipo de munição.
Embora seja necessária uma equipe de apenas três pessoas para operar o sistema depois de implantado, geralmente é necessário uma ampla rede de apoio - o sistema foi projetado para ser usado em nível de batalhão, com cada um deles incluindo um quartel-general, empresa de manutenção e especialistas em comunicação.
Os mísseis lançados pelo Patriot podem atingir altitudes de até 79.000 pés, com alcance operacional, dependendo do tipo de munição utilizada, de até 160 km, para uso contra mísseis balísticos e de cruzeiro, bem como aeronaves.
Um obstáculo fundamental será o treinamento. As tropas dos EUA terão que treinar as forças ucranianas sobre como usar e manter o sistema. Soldados do Exército designados para batalhões Patriot recebem treinamento extensivo para serem capazes de localizar um alvo com eficácia, mirar com o radar e disparar.
O Departamento de Defesa americano trabalha agora nos parâmetros de um programa de treinamento, provavelmente na Alemanha. Em circunstâncias normais, o treinamento pode levar mais de seis meses. Outra autoridade dos EUA disse que as armas virão de estoques dos EUA, e não de unidades operacionais.