(Dimitar DILKOFF / AFP)
Redação Exame
Publicado em 7 de maio de 2025 às 16h06.
Última atualização em 8 de maio de 2025 às 12h43.
O conclave, processo de eleição do novo Papa, começa nesta quarta-feira (7) após a morte de Francisco, aos 88 anos.
A Igreja Católica – uma das mais antigas do mundo, com uma vasta multidão de fiéis – possui uma estrutura hierárquica bem definida, que perdura por séculos. Entre padres, cardeais e arcebispos, como realmente funciona a hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana?
No cargo mais alto, encontra-se o Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, a quem Jesus confiou a liderança da Igreja. Ele tem a missão de conduzir espiritual e administrativamente toda a Igreja Católica. O Pontífice toma decisões relacionadas à doutrina e à disciplina da Igreja, além de nomear bispos e criar cardeais. Ele também assume a posição de chefe do Estado da Cidade do Vaticano e tem a autoridade para declarar santos, em um processo denominado canonização.
Tradicionalmente, o Papa permanece no cargo até a morte, como foi o caso de Francisco e São João Paulo II e da maioria de seus predecessores. Contudo, o Código de Direito Canônico prevê a possibilidade de renúncia, um direito exercido, por exemplo, por Bento XVI, que alegou motivos de saúde. Após a morte ou renúncia válida de um Papa, o Colégio de Cardeais se reúne em conclave para eleger seu sucessor.
Um aspecto menos conhecido da Igreja Católica Universal é sua composição como uma comunhão de 24 Igrejas autônomas (sui iuris): a Igreja Latina (a maior) e 23 Igrejas Católicas Orientais.
Cada uma possui suas próprias tradições litúrgicas, teológicas, espirituais e disciplinares, todas em plena comunhão com o Romano Pontífice, o Papa.
Patriarcas Orientais: Muitas dessas Igrejas Orientais são lideradas por Patriarcas (ex: Maronita, Greco-Melquita, Copta, Caldeu). Um Patriarca é um bispo que preside uma Igreja Patriarcal sui iuris, eleito pelo sínodo dos bispos dessa Igreja e que solicita a comunhão eclesiástica (communio) ao Papa. Ele tem autoridade sobre todos os bispos, clero e fiéis de seu rito específico, mesmo fora de seu território patriarcal, com certas prerrogativas e limitações definidas pelo direito.
Arcebispos Maiores: Lideram Igrejas Orientais sui iuris que ainda não alcançaram o status de Patriarcado (ex: Ucraniana, Siro-Malabar). Sua autoridade e modo de eleição são muito semelhantes aos dos Patriarcas.
Patriarcas Latinos: Na Igreja Latina, o título de Patriarca é hoje, em sua maioria, honorífico (ex: Veneza, Lisboa). Uma exceção com jurisdição é o Patriarca Latino de Jerusalém.
Abaixo do Papa, existem os cardeais, título conferido a alguns bispos ou arcebispos. Estes sacerdotes, selecionados pelo Pontífice, têm como missão aconselhá-lo ao longo de seu papado e integram o Colégio de Cardeais. São eles também que votam para eleger o próximo Papa, em um rito chamado conclave. Entretanto, somente os cardeais com menos de 80 anos estarão aptos para votar.
Os cardeais podem ter diferentes funções: alguns lideram importantes dioceses (geralmente arquidioceses) ao redor do mundo, enquanto outros trabalham na Cúria Romana, que é o conjunto de dicastérios e organismos que auxiliam o Papa no governo da Igreja Católica.
O arcebispo é um bispo titular de uma arquidiocese, que é a diocese principal de uma província eclesiástica. Embora muitos arcebispos sejam também cardeais, o título de arcebispo em si não denota uma posição hierárquica sacramentalmente superior ao episcopado, mas sim uma função de liderança sobre uma arquidiocese. Um arcebispo metropolitano, que preside uma província eclesiástica, tem certas responsabilidades limitadas de supervisão e uma precedência honorífica sobre as dioceses sufragâneas (vizinhas e pertencentes à mesma província eclesiástica). A arquidiocese do Rio de Janeiro, por exemplo, é composta por 57 paróquias distribuídas em 38 bairros da capital. Ela é comandada pelo cardeal Orani Tempesta, que estará apto a votar no conclave que elegerá o próximo Papa.
Já a arquidiocese de Niterói, também na região metropolitana do estado do Rio, compreende 14 municípios e é formada por 73 paróquias. A província eclesiástica é dirigida pelo arcebispo José Francisco Rezende Dias.
O bispo diocesano governa uma diocese, que é uma porção do povo católico. Tanto o bispo diocesano quanto o arcebispo (que é o bispo de uma arquidiocese) possuem a plenitude do sacramento da Ordem. A distinção principal reside na jurisdição e no papel metropolitano do arcebispo, que preside uma província eclesiástica e tem precedência honorífica e funções limitadas de supervisão sobre os bispos das dioceses sufragâneas, sem interferir no governo ordinário dessas dioceses.
Dentro do catolicismo, os bispos são considerados os sucessores dos apóstolos que acompanharam Jesus Cristo. Os bispos são os ministros ordinários dos sacramentos da Crisma (Confirmação) e da Ordem (pela qual são ordenados diáconos, padres e outros bispos). Segundo dados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de 2025, existem 316 bispos na ativa e 172 eméritos no Brasil. A eles cabe orientar os padres e fiéis dentro de sua jurisdição.
Os bispos diocesanos podem ser auxiliados por Bispos Coadjutores (com direito à sucessão) e Bispos Auxiliares.
Os padres (ou presbíteros) são colaboradores dos bispos e são ordenados para pregar o Evangelho, celebrar os sacramentos (especialmente a Eucaristia, a Reconciliação, o Batismo, o Matrimônio e a Unção dos Enfermos) e pastorear os fiéis, geralmente servindo a uma paróquia local. Ao padre responsável por comandar uma paróquia é dado o nome de pároco. Há também o vigário, que cuida da igreja na ausência do pároco.
Assim como os demais cargos, a função de diácono é restrita aos homens. Existem dois tipos de diáconos, os transitórios e os permanentes. Os primeiros são aqueles que estão em formação para se tornarem padres, sendo o diaconato o último estágio antes da ordenação presbiteral. Já os permanentes são homens (podem ser solteiros ou casados – se casados, devem sê-lo antes da ordenação diaconal) com mais de 35 anos (ou 25, se celibatários) e que têm forte ligação com a paróquia local, dedicando-se ao serviço da caridade, da Palavra e da liturgia. O diácono ajuda padres e bispos a realizar as cerimônias e rituais da Igreja.
Eles não podem presidir a Eucaristia (Missa), nem administrar o sacramento da Reconciliação (Confissão) ou da Unção dos Enfermos. Contudo, podem administrar solenemente o Batismo, assistir e abençoar o Matrimônio em nome da Igreja, presidir exéquias, proclamar o Evangelho, pregar a Palavra de Deus e distribuir a Sagrada Comunhão.
Para auxiliar o Papa no governo da Igreja, existe a Cúria Romana. Trata-se de um complexo conjunto de instituições que coordenam e executam as políticas da Santa Sé. Inclui:
Secretaria de Estado: Com duas seções, uma para Assuntos Gerais e outra para Relações com os Estados e Organismos Internacionais.
Dicastérios: Equivalentes a ministérios (ex: para a Doutrina da Fé, para as Igrejas Orientais, para os Bispos, para o Clero, para a Evangelização, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, etc.), cada um liderado por um Prefeito (geralmente um Cardeal).
Tribunais: Penitenciaria Apostólica, Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e Tribunal da Rota Romana.
Conselhos Pontifícios e Ofícios: Com funções específicas de promoção e serviço.
Núncios Apostólicos e Delegados Apostólicos: São Arcebispos titulares que representam diplomaticamente o Papa junto aos Estados e às Igrejas locais.
Vigários Gerais e Episcopais: Colaboradores diretos do bispo diocesano no governo da diocese.
Prelados: Podem governar Prelazias Territoriais ou Pessoais (como a Opus Dei, que é uma prelazia pessoal).
Administradores Apostólicos: Nomeados para governar temporariamente uma diocese vaga ou em situações especiais.
Monsenhor: Um título honorífico concedido pelo Papa a certos clérigos por seus serviços à Igreja.
Para além da hierarquia de ordens sagradas, a Igreja Católica também conta com outras formas de vida e serviço importantes:
* Com Agência O Globo