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Como está a “guerra sem vitória” dos EUA no Afeganistão

O presidente Trump anunciou mudanças estratégicas para o conflito no Afeganistão. Para especialistas, no entanto, tais não aproximam os EUA da vitória

Ataque terrorista atinge soldados no Afeganistão: governo controla apenas 70% do território do país atualmente (Stringer/Reuters)

Ataque terrorista atinge soldados no Afeganistão: governo controla apenas 70% do território do país atualmente (Stringer/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 25 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 15 de junho de 2018 às 11h52.

São Paulo – O presidente americano, Donald Trump, fez nesta semana um aguardado anúncio: revelar a sua estratégia no Afeganistão, país asiático no qual os EUA estão envolvidos em uma guerra contra grupos terroristas que já dura 16 anos.

Embora não tenha dado prazo ou qualquer outro detalhe sobre as mudanças táticas, Trump anunciou que não há data para a saída militar dos EUA e que, daqui em diante, irá ampliar a presença no país. Além disso, aumentará as cobranças sobre o Paquistão para que coopere e incluíra outros países nessa luta, como a Índia, por exemplo.

A expectativa é a de que o contingente de soldados dos EUA em solo afegão, que hoje está em 8.400, suba para 12.500, incluindo tropas de uma coalizão internacional. Segundo Trump, a saída “precipitada” poderia contribuir para que outros grupos terroristas, como o Estado Islâmico e a rede Al Qaeda preenchessem vácuos de poder em diferentes partes do país.

Estratégia

O movimento de Trump foi visto com cautela por especialistas. Primeiro, porque contraria posicionamentos de Trump, sempre favorável a saída das tropas e da redução de intervenções em outros países, em mais uma prova de inconsistências entre seus discursos e ações. Segundo, porque essa “nova abordagem” para a guerra é tudo, menos nova, pode causar efeitos opostos.

Rolf Mowatt-Larssen, diretor do Projeto de Inteligência e Defesa do Centro Belfer para Ciência e Relações Internacionais da Universidade de Harvard, lembra que o EI, por exemplo, já tem uma forte presença no Afeganistão.

“Mais preocupante é que, ao colocarmos mais tropas em solo e renovarmos a percepção de que estamos ocupando o poder ou ditando os rumos para governos, podemos atrair ainda mais militantes desse grupo ou outros grupos terroristas para a região”, alerta Mowatt-Larssen. “Esse é o padrão estabelecido nos últimos 16 anos”, pontua.

Na visão de James Der Derian, pesquisador do Centro de Estudos em Segurança Internacional da Universidade de Sydney, não há como preencher os espaços abertos no território afegão de modo a prejudicar as atividades do Talibã, o grupo insurgente que atua com força no país há décadas e controla importantes áreas.

“A não ser que você esteja disposto a comprometer 300 mil tropas, não há como preencher esse vácuo”, pontua o especialista, “essa é a dura realidade do Afeganistão e contra insurgências em geral”. Ele lembra, ainda, que o Talibã pode facilmente resistir a esse aumento. “Eles sobreviveram a coisas piores”, termina. Em 2011, o país chegou a abrigar 100 mil soldados americanos.

“O impasse irá continuar”, prevê Daniel L. Byman, pesquisador do Centro de Políticas para o Oriente Médio do Brookings Institution, “Essas tropas adicionais não vão dar aos EUA uma vitória ou nada próximo disso”, continua o especialista. Ao que tudo indica, o conflito no Afeganistão seguirá conhecido na história americana como “a guerra sem vitória”.

Abaixo, EXAME.com produziu um infográfico que monta um retrato atual do país e da intervenção americana.

- (Rodrigo Sanches)

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