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Como derrubar o governo do Irã sem usar armas, segundo um general da reserva americano

Joseph L. Votel comentou opções para tentar minar o regime dos aiatolás, que resiste após bombardeios feitos por EUA e Israel

Imagem do líder do Hezbollah Hassan Nasrallah, exibida em Bagdá durante homenagens a membros da Guarda Revolucionária mortos durante ataques de Israel, em 28 de junho (Murtadha Ridha/AFP)

Imagem do líder do Hezbollah Hassan Nasrallah, exibida em Bagdá durante homenagens a membros da Guarda Revolucionária mortos durante ataques de Israel, em 28 de junho (Murtadha Ridha/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 30 de junho de 2025 às 19h02.

Última atualização em 30 de junho de 2025 às 19h31.

Os bombardeios contra o Irã, feitos por Israel e Estados Unidos, atrasaram o programa nuclear iraniano — embora se discuta a extensão do ataque. A administração do presidente Donald Trump logo disse que foi um ataque pontual e que não estava em discussão a queda do governo iraniano. Horas depois, Trump sugeriu que uma troca de governo, dominado por um regime islâmico desde 1979, poderia ocorrer como consequência dos ataques. 

Mas, em um debate virtual do Middle East Institute, um think tank com sede em Washington, o general da reserva Joseph L. Votel foi perguntado o que poderia ser feito para tentar derrubar o regime iraniano sem uma invasão direta. 

E trouxe um passo a passo detalhado de como derrubar o regime no país.

“Se realmente fôssemos tentar fazer isso, eu gosto da ideia de tentar manipular e colocar pressão sobre o poder da liderança atual, tornar as coisas difíceis para o líder supremo e para a elite no poder ao redor dele”, disse o general.

Votel, 67 anos, é um general da reserva de 4 estrelas. Ele teve carreira militar de quatro décadas e chegou ao posto de comandante do Comando Central dos EUA, de 2016 a 2019. O órgão controla as operações militares americanas no Oriente Médio, Ásia Central e Sudeste Asiático.

"Uma das maneiras de fazer isso, e não pode ser feito rapidamente, é por uma espécie de campanha de guerra irregular, onde procuramos e identificamos um grupo que pode agir em nosso favor", afirmou Votel. 

O general explicou que este grupo poderia "agir em uma variedade de ações, como sabotagens e várias coisas internas, para criar problemas para o governo e minar sua autoridade e controle sobre o aparato estatal".

Em 1979, um grupo de revolucionários islâmicos deu um golpe e tomou o poder no Irã. Desde então, o país é comandado por um líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que supervisiona o trabalho dos demais poderes do país. 

Desde o início, os aiatolás adotaram uma postura contrária aos Estados Unidos, a quem chamam de "grande Satã", por seu apoio ao governo anterior do Irã, do xá Reza Pahlevi.  

Apesar dos ataques retóricos aos EUA, os americanos nunca tentaram invadir o Irã, como fizeram em países próximos, como o Iraque e o Afeganistão. Neste mês de junho, o presidente Donald Trump fez bombardeios diretos ao país, mas descartou uma invasão por terra, dado o alto custo que uma guerra total com o Irã custaria, especialmente em termos de vidas americanas. 

Ali Khamenei, líder supremo do Irã, em imagem de arquivo

Ali Khamenei, líder supremo do Irã, em imagem de arquivo (AFP)

Além do Exército

"O líder supremo e a elite governante se beneficiam do fato de controlarem todos os mecanismos do país. Por isso, não vimos necessariamente uma revolta popular bem-sucedida contra o líder supremo, embora provavelmente haja milhões de iranianos que gostariam de vê-lo ir embora", prosseguiu

Votel ressaltou, no entanto, que um processo assim é demorado e precisa ser feito aos poucos. "É preciso desenvolver parceiros em campo. Nós os apoiamos e nos comprometemos com eles. Não é apenas o Exército. É a comunidade de inteligência. São nossos diplomatas, é o poder da nossa informação", afirma.

O general disse que um dos instrumentos para isso é a Voice of America, um serviço de notícias e outros conteúdos, mantido pelo governo americano e transmitido em línguas locais, por rádio e pela internet. 

“Sei que há muitas críticas a isso, mas esses são os tipos de ferramentas que precisamos desenvolver para realmente travar uma campanha eficaz se quisermos minar o regime. Essa é a abordagem mais regular para minar regimes”, disse. 


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