Cultura de milho: “Até 2050 nós vamos ter que aumentar a produção de alimentos em 70% para suprir o aumento populacional e o equilíbrio social no planeta”, afirmou o biólogo Marcos Buckeridge. (GettyImages)
Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2013 às 17h46.
São Paulo – Em junho, um estudo publicado na revista científica Plos One causou frisson ao afirmar que em 2050 não teremos comida suficiente para alimentar a população mundial – que, segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), passará de 9 bilhões de pessoas.
O argumento é de que o rendimento das culturas agrícolas não está crescendo o suficiente, e, em alguns casos, os agricultores estão se deparando com um limite biológico que nem a genética e a biotecnologia parecem conseguir ultrapassar.
Confrontados com essa nova realidade, a tendência é de que os agricultores apelem para o desmatamento das florestas em busca de mais áreas agricultáveis. Isso representaria um aumento da emissão de CO2 na atmosfera, além de um grande risco para a biodiversidade.
Neste contexto, como garantir a segurança alimentar para uma população que não para de crescer, sem causar danos ao meio ambiente? Comer inseto, segundo a FAO, seria uma solução. Mas a transição para a entomofagia, como é chamada a dieta a base desses organismos ricos em proteínas, apesar de representar uma alternativa para reduzir a fome de forma sustentável – em comparação com a produção de carne, demanda menos quantidade de terra e outros recursos - pode parecer menos atraente que outras alternativas que, segundo os cientistas, também podem ajudar.
Agricultura familiar
Em um aspecto, parece haver um consenso geral: a agricultura familiar – que já é importante para a produção de alimentos hoje – será de vital importância para atender a demanda do crescimento populacional nas próximas décadas.
Em 2009, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura familiar já ocupava quase 85% dos estabelecimentos agropecuários do país. Além disso, em 2006 ela era responsável por grande parte da alimentação básica dos brasileiros, originando 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, e 38% do café.
Mas a demanda vai crescer. “Até 2050 nós vamos ter que aumentar a produção de alimentos em 70% para suprir o aumento populacional e o equilíbrio social no planeta”, afirmou Marcos Buckeridge, biólogo e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol. Segundo ele, o Brasil é o único lugar do planeta que possui área agricultável em ambiente com estabilidade política.
“O próximo lugar é a África, mas a região ainda tem uma série de problemas políticos. Nós, brasileiros, já estamos tentando ajudar. A Embrapa já está lá, e nós estamos estudando todo esse processo, porque só com o Brasil não vai ser possível”, explicou o especialista.
Alimentos geneticamente modificados
Buckeridge defende ainda a aplicação de tecnologias como a de organismos geneticamente modificados (OGMs). “O milho geneticamente modificado, por exemplo, pode produzir até 30% mais. Nós vamos ter que entrar nessa era”, afirmou o biólogo. Além disso, ele vê com bons olhos o melhoramento das espécies botânicas para que elas resistam às mudanças climáticas, que avançam cada vez mais rapidamente sobre o planeta.
A introdução de transgênicos na natureza entretanto está cercada de polêmicas. Ambientalistas argumentam que tal prática expõe nossa biodiversidade a sérios riscos, como a perda ou alteração do patrimônio genético das plantas e sementes e o aumento no uso de agrotóxicos mais fortes.
Alimentos orgânicos
Defensor de outra saída, Paulo Kageyama, engenheiro agrônomo e colaborador do Ministério do Meio Ambiente, diz que o país deve explorar sua biodiversidade natural.
Kageyama trabalha em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), desenvolvendo estudos e pesquisas em assentamentos agroecológicos.
Em Apiaí, no Vale do Ribeira, em São Paulo, o modelo de agricultura sustentável e produção de alimentos orgânicos foi adotado para conciliar o desenvolvimento socioeconômico das famílias assentadas com a preservação e recuperação ambiental.
“Trabalhamos com modelos que sejam mais sustentáveis, levando em conta a biodiversidade. Se temos uma grande quantidade de terras, vamos derrubar tudo e plantar uma só espécie, como um transgênico? Nós plantamos de 20 a 30 espécies diferentes, sem usar agrotóxicos”, explica o engenheiro.
Segundo dados do especialista, se compararmos o plantio de tomate orgânico e convencional em Apiaí, percebemos que a produção orgânica demanda mais terras que a tradicional. Contudo, enquanto o plantio de alimentos convencionais inclui 36 aplicações de agrotóxicos – o que corresponde a 80% do custo de produção, segundo Kageyama -, o cultivo orgânico é livre de qualquer componente químico, sendo mais benéfico à saúde humana. Além disso, protege a qualidade da água, a fertilidade do solo e a vida silvestre, conservando a biodiversidade.