Mundo

Como a China pode ajudar a limpar a Olimpíada do Rio

Os 416 atletas chineses são um símbolo de esperança em meio a um turbilhão sem precedentes de acusações de doping e corrupção

Uniforme de mulher da delegação olímpica da China, no Rio de Janeiro: durante três décadas, a China adotou a Olimpíada como um indicador da grandeza nacional (David Ramos/Getty Images)

Uniforme de mulher da delegação olímpica da China, no Rio de Janeiro: durante três décadas, a China adotou a Olimpíada como um indicador da grandeza nacional (David Ramos/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2016 às 17h43.

Quando a tocha olímpica for acesa na sexta-feira no Rio de Janeiro, haverá 416 atletas chineses presentes, o maior contingente já mandando pelo país ao exterior.

É um símbolo de esperança em meio a um turbilhão sem precedentes de acusações de doping e corrupção. E parece uma metáfora muito adequada.

Durante três décadas, a China adotou a Olimpíada como um indicador da grandeza nacional. Conquistar mais medalhas -- e a China tem muitas -- parecia equivaler à ascensão de seu status no mundo.

Parecia até aumentar a autoestima racial: em 2004, o barreirista Liu Xiang disse à imprensa que sua inesperada medalha de ouro provava que “atletas de pele amarela podem correr tão rapidamente quanto os de pele negra ou branca”.

No entanto, enquanto o investimento político e financeiro nos Jogos Olímpicos crescia, os jogos em si só se tornaram mais sujos: as revelações de enormes trapaças da Rússia na Olimpíada de 2014 em Sochi são apenas as mais recentes a manchar a integridade da competição que o governo chinês tanto estima.

A China teve sua parte de problemas com doping, é claro. No início dos anos 1990, sua equipe feminina de maratonistas estabeleceu uma série de recordes mundiais impressionantes, apesar de não ter nenhum histórico de sucesso no esporte.

O treinador atribuiu esse êxito a elixires tradicionais feitos com vermes e tartarugas, mas a verdade era talvez muito mais banal: duas atletas declararam que foram obrigadas a usar estimulantes.

Mais recentemente, o desempenho dos chineses que bateram recordes de natação na Olimpíada de 2012 em Londres gerou desconfiança entre competidores, treinadores e comentaristas.

Uma pessoa denunciou que as autoridades haviam acobertado testes positivos de nadadores chineses e estavam permitindo que um treinador banido por doping trabalhasse com os atletas em Tianjin. Em abril, a Agência Mundial Antidoping suspendeu o laboratório antidoping chinês.

Para a China, esses casos não são apenas motivo de constrangimento, são problemas políticos.

As acusações de doping na Olimpíada de 2008 em Pequim poderiam manchar um evento que o governo glorifica como um momento fundamental da projeção internacional da China.

Trapaças entre atletas olímpicos são especialmente espinhosas porque o governo está tentando erradicar a corrupção em todos os outros setores -- do serviço público às suas tão difamadas ligas de futebol.

E isso, na verdade, é um motivo para ter esperança. Nos últimos anos, a China passou a ter muita influência na Olimpíada. Em julho de 2015, Pequim foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 devido, em grande parte, à sua capacidade de bancá-los – apesar de a cidade praticamente não ter neve e não ter tradição com os esportes de inverno.

Do mesmo modo, o patrocínio de empresas chinesas se tornou um meio de importância crescente para o financiamento dos jogos. E o valor dos direitos de transmissão chineses está aumentando rapidamente à medida que a enorme população do país começa a ficar sintonizada.

Tudo isso significa que a China é capaz de acabar com a deterioração do valor da conquista olímpica. E poderia começar em casa, fazendo finalmente uma campanha pública para erradicar fraudes.

Por exemplo, poderia exigir que todos os atletas do sistema estatal sejam cobertos por “passaportes biológicos” que monitoram mudanças fisiológicas de longo prazo no sangue.

Essa tecnologia deveria ser adotada universalmente, mas a China -- talvez mais do que qualquer outro país -- é capaz de abrir o caminho.

Isso combinaria com a iniciativa do presidente Xi Jinping de melhorar a moralidade pública com medidas anticorrupção e seria uma declaração de confiança em um programa de esportes que se classifica facilmente entre os melhores do mundo, mesmo sem o uso de drogas.

Também seria um gesto poderoso se a China quiser pressionar o Comitê Olímpico Internacional a fazer mais reformas para limpar os jogos.

Talvez isso pareça pouco provável. Mas poucos países têm o compromisso que a China tem com o esporte como um símbolo da grandeza nacional.

No mínimo, lutar contra fraudes seria um modo de elevar seu status no mundo -- independentemente de quantos atletas do país subirem no pódio.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinacidades-brasileirasEsportesMetrópoles globaisOlimpíada 2016OlimpíadasRio de Janeiro

Mais de Mundo

Grupos armados bloqueiam distribuição de ajuda humanitária em Gaza

Assembleia da França decide sobre acordo UE-Mercosul nesta terça em meio a protestos

Israel se pronuncia sobre acordo de cessar-fogo com o Hezbollah

Presidente do Chile, Gabriel Boric é denunciado por assédio sexual; político nega: 'infundado'