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Como a África pode salvar o mundo de uma pandemia sem fim

Qualquer pessoa no mundo desenvolvido que pense não ser afetada por grandes grupos não vacinados na África precisa reavaliar sua opinião

Vacinação em Ruanda: começo somente na semana passada (Jean Bizimana/File Photo/Reuters)

Vacinação em Ruanda: começo somente na semana passada (Jean Bizimana/File Photo/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 9 de março de 2021 às 17h37.

Última atualização em 9 de março de 2021 às 17h51.

Enquanto o resto do mundo se prepara para um retorno à normalidade com a vacinação nos próximos meses, no centro de saúde comunitário de um bairro pobre e operário da Cidade do Cabo, Andrea Mendelsohn teme a chegada de abril e maio: é quando o clima ficará mais frio e os casos de coronavírus tendem a aumentar.

Poucas pessoas na África do Sul — além da equipe médica como Mendelsohn — estarão vacinadas até lá. Em outras partes do continente, mesmo profissionais de saúde não terão sido vacinados, tornando a África um grande reservatório do vírus que infectou quase 117 milhões de pessoas no mundo todo e matou mais de 2,5 milhões.

“A chegada das vacinas terá impacto zero na terceira onda, mas pelo menos posso ter certeza de que não morrerei quando for trabalhar”, disse em entrevista Mendelsohn, médica sênior do Departamento de Saúde da província do Cabo Ocidental. “Tenho certeza de que os profissionais de saúde no Malaui e na Tanzânia desejam ter o mesmo alívio.”

A maioria dos países da África ainda não começou a vacinar seus cidadãos. Enquanto países desenvolvidos se apressaram em vacinar suas populações contra a covid-19, menos de meio milhão de pessoas foram vacinadas na África Subsaariana, uma região de 1,1 bilhão de pessoas. Em contraste, os Estados Unidos, com população de cerca de 330 milhões, administraram mais de 90 milhões de doses de vacina, enquanto mais de 30% dos 67 milhões de habitantes do Reino Unido receberam pelo menos uma dose.

Mas qualquer pessoa no mundo desenvolvido que pense não ser afetada por grandes grupos não vacinados na África precisa reavaliar sua opinião, diz Phionah Atuhebwe, oficial médica de introdução de novas vacinas no continente para a Organização Mundial da Saúde. Enquanto a pandemia continuar a se alastrar entre populações não vacinadas, gerando novas cepas mais virulentas e resistentes à vacina, ninguém estará seguro, disse.

“O vírus definitivamente sofrerá mutação e continuará mutando; quanto mais tempo mantivermos o vírus, mais mutações veremos”, disse Atuhebwe em entrevista concedida em Brazzaville, na República do Congo. “Se a África não for vacinada e formos uma fonte de mutações, colocamos o mundo inteiro em risco.”

A vacina desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford se mostrou em grande parte ineficaz na prevenção de casos leves de uma cepa do coronavírus identificada pela primeira vez na África do Sul. Essa mutação se espalhou para pelo menos 48 países, incluindo Reino Unido e Estados Unidos.

Nações ricas pagaram antecipadamente por suas vacinas e também se organizaram mais rápido, deixando países da África disputando os restos. A compra de vacinas pelo mundo rico foi caracterizada em janeiro pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, como uma “falha moral catastrófica”. Apenas dez países administraram 75% de todas as vacinas, disse em fevereiro o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, chamando-a de “extremamente desigual e injusta”.

Um relatório do grupo de combate à pobreza One revelou no mês passado que os países mais ricos do mundo devem acumular mais de 1 bilhão de doses além do necessário para vacinar totalmente suas populações, acrescentando que o excesso de doses por si só seria suficiente para imunizar toda a população adulta da África.

John Nkengasong, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África, disse que a “covid não será derrotada até que seja derrotada em todos os lugares.”


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