Segundo a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, Humala está fortemente vinculado ao governo venezuelano, com financiamento direto de Hugo Chávez (Pilar Olivares e Mariana Bazo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2011 às 06h16.
Lima - Os comícios finais dos candidatos Keiko Fujimori e Ollanta Humala puseram fim à campanha política mais disputada da história peruana, já que ambos estão tecnicamente empatados nas pesquisas a apenas dois dias das eleições presidenciais.
O nacionalista Humala e a populista Fujimori escolheram praças do centro da capital peruana separadas só por poucas quadras e por vários contingentes de policiais para fazer seus comícios.
O público de ambos era procedente sobretudo dos "cones", bairros pobres da periferia de Lima, e boa parte dele chegou em ônibus fretados pelos partidos dos candidatos.
Foi possível perceber algumas diferenças: enquanto os simpatizantes de Keiko receberam abundante material de propaganda (bonés, camisas, cachecóis e canecas), além de comidas diversas, os seguidores de Humala contavam apenas com material confeccionado em casa por eles mesmos.
"Aqui viemos por convicção, e não por um prato de comida", disse orgulhoso Alfredo Barrantes, um idoso que veio de San Martín de Porres para votar pelo "candidato honesto, que vai trazer a mudança".
Ollanta Humala elegeu como palco a Praça Dois de Maio, habitual fórum da esquerda peruana, repleta com mais de 10 mil pessoas de todas as idades.
O comício foi "aquecido" primeiro por Álvaro Vargas Llosa, filho do Prêmio Nobel, e pelo ex-presidente Alejandro Toledo, que recebeu calorosos aplausos do público presente quando afirmou que "em momentos difíceis não se pode dar as costas à pátria".
Usando jeans e uma camisa azul, Humala subiu ao palco junto com sua esposa Nadine e suas duas filhas (uma imagem que cultivou durante toda a campanha) para relatar seu projeto de "diminuir a brecha da desigualdade".
O nacionalista destacou suas principais propostas sociais para melhorar as condições de idosos, mães trabalhadoras e estudantes, além das que tinham como tema a educação e o combater ao crime.
"É a justiça social que esperamos não de agora, mas há 500 anos", disse Humala, que se encarregou de avivar o sentimento patriótico com frases como "A pátria não se vende, a pátria se defende, mas o outro projeto (em referência a Keiko Fujimori) vai vendê-la em pedaços".
Ollanta Humala lembrou que o projeto nacionalista visa "acabar com as discriminações", mas "as elites e poderes econômicos pressionaram e confundiram, apoiando um projeto corrupto e imoral".
Quanto a Keiko, que começou seu discurso imediatamente após Humala para que pudesse ser assistida pela televisão, dedicou seu comício principalmente a atacar seu rival.
Segundo a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, Humala está fortemente vinculado ao governo venezuelano: "sabemos que recebeu financiamento direto de Hugo Chávez", afirmou, acusando-o também de ter aceito subornos do narcotráfico quando trabalhou como militar.
A candidata ressaltou que o eleitorado tem que escolher entre "um único plano de governo" (o seu) ou "quatro que se contradizem", em alusão às remodelações que Humala fez em seu projeto original.
Fujimori prometeu que vai duplicar o salário dos professores, que seu governo fornecerá melhores refeições aos estudantes da rede pública, e que dará um bônus de proteção alimentícia à população em pobreza extrema.
O fechamento de campanha de Keiko contou com o respaldo do ex-candidato presidencial Pedro Pablo Kuczynski, que se dirigiu ao público para lembrar de Alberto Fujimori.
"Quem acabou com o terrorismo? E quem acabou com a hiperinflação?", perguntou o ex-ministro de Economia, recebendo como resposta: "O chinês!", apelido pelo qual o ex-presidente preso é conhecido em seu país.
As pesquisas feitas nos últimos dias, que não podem ser divulgadas por lei, mostram índices muito próximos, dentro da margem de erro, o que torna impossível prever um resultado.
"Temos um país polarizado e dividido em partes iguais; é uma concorrência nunca antes vista no sistema eleitoral peruano", afirmou em entrevista coletiva Fernando Torra, diretor do Instituto de Opinião Pública.