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Começa na Colômbia cessar-fogo unilateral e indefinido das Farc

Processo inédito foi recebido com otimismo pelo governo da Colômbia, mas ainda gera incertezas diante das exigências da guerrilha

Símbolo da Farc (Luis Robayo/AFP)

Símbolo da Farc (Luis Robayo/AFP)

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Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2014 às 17h57.

Começou, na madrugada deste sábado, o cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado das Farc, um processo inédito, recebido com otimismo pelo governo da Colômbia, mas carregado de incertezas pois a guerrilha advertiu que o suspenderá diante de um ataque do Exército.

A trégua teve início à 00H01 local (03H01 de Brasília), anunciaram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e é a primeira de caráter unilateral e indefinido desde o começo das negociações de paz, em Cuba, em novembro de 2012.

"Hoje começou um cessar-fogo de parte das Farc, unilateral e por tempo indeterminado, mas eu espero que se torne um cessar-fogo bilateral e definitivo, e ponhamos fim a uma guerra de mais de 50 anos", disse neste sábado o presidente Juan Manuel Santos em ato celebrado em La Guajira (nordeste).

O presidente colombiano, que tinha considerado antes a trégua "um gesto positivo na direção certa", desejou também que a medida "contribua para acelerar os resultados das conversações em Havana" entre representantes da guerrilha e do governo para costurar um acordo de paz.

As Farc tinham pedido supervisão internacional para verificar o cessar-fogo e asseguraram que terminará caso suas unidades sejam atacadas pelo Exército, duas condições rejeitadas pelo presidente, que desde o início das negociações insiste em que o diálogo ocorra enquanto continua o enfrentamento armado.

Em um comunicado publicado neste sábado, a guerrilha recebeu a reação de Santos como uma "forma de ir se aproximando do tema" do fim das hostilidades e, ao ratificar o começo da trégua, pediu ao presidente que "não se interponha ao desejo de um povo que quer conhecer seu país sem o estrondo das bombas e das metralhadoras".

Mas, na véspera da trégua, as Farc mataram cinco militares em enfrentamentos com o Exército no departamento (estado) do Cauca (oeste), o que despertou críticas e incredulidade em alguns setores.

"Prometem o cessar-fogo, mas horas antes atentam contra a Colômbia, isto não é sério", afirmou o ministério da Defesa.

O analista político e professor da Universidade Externado Jairo Libreros disse à AFP que "as Farc continuem adotando uma doutrina militar do século passado com o que pretende, antes de uma trégua ou em momentos críticos do processo de paz, elevar suas ações militares".

No entanto, Liberos destacou que este primeiro cessar-fogo indefinido, decretado pelas Farc, cobra "uma importância gigantesca" na Colômbia, submetida a um conflito armado de mais de meio século.

As Farc tinham decretado, nos últimos dois anos, tréguas natalinas em dezembro durante algumas semanas, mas a declaração de um cessar-fogo indefinido surpreendeu os colombianos.

Na história colombiana, a guerrilha M-19 já decretou um cessar-fogo indefinido, mas o fez "quando já ia assinar a paz" em 1990, lembrou Libreros.

Seguindo instruções do presidente, o comandante das Forças Militares, Juan Pablo Rodríguez, assegurou na quinta-feira que nos próximos dias, a polícia e o exército continuarão realizando seu trabalho e não baixarão a guarda.

"Continuaremos cumprindo com a nossa missão constitucional de garantir a segurança a todos os nossos compatriotas", disse Rodríguez.

A trégua das Farc ocorre depois que o processo de paz sofreu uma crise, em meados de novembro, e foi suspenso temporariamente pela captura de um general do Exército.

"Ao final desta crise, contribuiu para reforçar o processo de paz", declarou um funcionário colombiano, sob a condição de ter sua identidade preservada.

Ainda que este cessar-fogo se cumpra, isto não significa o fim da violência na Colômbia.

O Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda guerrilha do país depois das Farc, poderia aproveitar para aumentar suas ações violentas, sobretudo em vista de que esta semana já sequestrou um prefeito de Chocó (oeste) e matou três policiais em um ataque no norte de Santander (leste).

O conflito armado colombiano deixou pelo menos 220 mil mortos e mais de 5,3 milhões de deslocados pela violência, segundo números oficiais.

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