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Candidatos a vice nos EUA fazem ataques a Kamala e Trump mas mantêm tom cordial

JD Vance e Tim Walz fizeram primeiro e único embate na TV na noite de terça-feira

Os candidatos JD Vance e Tim Walz, durante debate na CBS (Angela Weiss/AFP)

Os candidatos JD Vance e Tim Walz, durante debate na CBS (Angela Weiss/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 1 de outubro de 2024 às 22h00.

Última atualização em 2 de outubro de 2024 às 00h03.

Os candidatos a vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance e Tim Walz, fizeram um debate na noite de terça, 1º, marcado por ataques a Kamala Harris e Donald Trump, mas em tom quase sempre cordial. A tensão foi bem menor do que nos programas anteriores, em que Trump enfrentou Joe Biden, em junho, e Kamala, em setembro.

Exceções a isso foram um momento que Vance questionou uma checagem de uma declaração dele, a de que Springfield, Ohio, teria uma grande quantidade de imigrantes irregulares. As apresentadoras disseram que a informação não procedia, e Vance insistiu em retrucar, até ter o microfone cortado.

Em outro momento, Vance pressionou o rival sobre uma lei de Minnessota que permitiria o aborto até o nono mês de gravidez. O republicano insistiu que sim, mas o democrata, que governa Minnessota, disse que não era verdade.

Já em algumas outras situações, os dois candidatos concordaram parcialmente, como na necessidade de atrair indústrias de volta aos Estados Unidos. Ao falar sobre armas, Walz contou que seu filho presenciou um ataque a tiros quando tinha 17 anos e Vance se solidarizou com ele. "Eu não sabia. Fico triste por isso. Cristo tenha piedade", disse.

Ao longo do programa, Vance buscou ressaltar que Kamala faz parte do governo atual, e que não precisaria de um novo mandato para tomar medidas. Ele também buscou culpá-la especialmente pelo aumento de imigrantes irregulares no país, que bateu recorde nos últimos anos, durante o governo Biden, da qual Kamala é vice.

Walz também fez ataques a Trump em vários momentos, desde a sua primeira resposta. Questionado sobre a crise no Oriente Médio, ele culpou o republicano por ter desmontado o acordo internacional feito com o Irã para evitar que o país tivesse acesso à bomba nuclear.

"O fundamental aqui é que a liderança vai importar. Vimos há algumas semanas neste palco Donald Trump, de 80 anos, falando sobre o tamanho de multidões. Não é o que precisamos agora", disse. O democrata disse ainda que aliados de Trump disseram que ele não está apto para ser presidente.

Em sua primeira resposta, Vance fez uma breve apresentação de si mesmo antes de falar sobre Oriente Médio e disse que Trump ajudou a pacificar a região e que o respeito que ele traz ajudaria a manter o mundo em paz. O republicano ressaltou que Kamala Harris faz parte do governo e que os ataques recentes a Israel ocorreram durante a gestão atual. "A atual vice-presidente é sua companheira de chapa, não minha", disse.

JD Vance, durante debate na CBS (Angela Weiss/AFP)

Redução de emissões e imigração

Ao falar sobre os efeitos do furacão Helene, Vance criticou os democratas por quererem reduzir emissões no país e disse que retirar indústrias dos EUA para reduzir a poluição comprometerá o futuro do país.

Walz retrucou que Trump chamou as mudanças climáticas de "embuste" e que o país tem batido recordes tanto de produção de petróleo quanto de energia renovável. Questionado, Vance não respondeu se concordava ou não com a afirmação de Trump.

No terceiro tópico da noite, imigração, Vance acusou Kamala de piorar a situação na fronteira, que bateu recorde de entrada de imigrantes irregulares durante o governo atual. Walz defendeu sua companheira de chapa e disse que ela processou gangues de tráfico humano quando era procuradora-geral da Califórnia, e que os republicanos no Congresso barraram o endurecimento das regras de imigração, para dar a Trump uma bandeira de campanha.

Vance citou novamente a cidade de Springfield, Ohio, que ficou famosa após Trump dizer no debate anterior que imigrantes estariam comendo cachorros e gatos lá, sem provas. O candidato a vice não citou os pets, mas disse que a cidade é um exemplo de como o excesso de imigrantes irregulares está fazendo mal para as cidades pequenas do país. As apresentadoras corrigiram Vance e disseram que a cidade tem uma grande população de imigrantes regularizados. Vance tentou questioná-las e teve o microfone cortado após não respeitar pedidos para que encerrasse.

Tim Walz, durante debate na CBS (Angela Weiss/AFP)

Economia e falas polêmicas

No debate sobre economia, Vance culpou os democratas por estimular a saída de fábricas dos EUA rumo ao exterior e que isso ameaçou inclusive a qualidade dos remédios consumidos no país. Walz disse que concorda com a importância de trazer empresas de volta ao pais, mas acusou Trump de não ouvir especialistas em economia. Na tréplica, Vance disse que Trump confia no "senso comum" em vez de ouvir economistas que vem errando há décadas.

Na etapa seguinte, sobre suas trajetórias pessoais, Walz teve dificuldade ao ser questionado sobre uma declaração de que ele estava em Hong Kong durante os protestos que terminaram no Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, Walz disse que pode ter se confundido, pois ele estava nos EUA naquele momento e viajou para a China alguns meses depois.

Vance foi questionado por ter comparado Trump a Hitler no passado. Ele disse ter mudado de opinião, embora discorde do ex-presidente em alguns pontos.

Ao falar de outro tema decisivo para esta eleição, Walz fez uma defesa do direito ao aborto e atacou a ideia de Trump de que a decisão sobre o tema fique com os estados. Vance evitou defender uma proibição geral ao aborto, endossou a posição de que o assunto seja definido pelos estados e prometeu criar mais opções para ajudar mulheres que tiveram uma gravidez indesejada.

Vance acusou Minnessota, estado governado por Walz, de ter uma lei que permite o aborto de fetos de até nove meses e que não exige cuidados com o bebê nascido nesta condição. O democrata discordou e disse que a lei não trata disso.

Armas e inflação

No segundo bloco, os candidatos começaram falando sobre o controle de armas. Walz contou que seu filho foi baleado quando tinha 18 anos. Vance disse que não sabia e ofereceu condolências ao rival. O democrata voltou a dizer que ele possui uma arma pessoal, assim como Kamala Harris, mas que é preciso tomar medidas para evitar ataques com armas a escolas, algo que ocorre com grande frequência nos EUA.

A economia voltou a ser tema em seguida, com uma questão sobre inflação, um dos temas em que o governo Biden teve pior desempenho. Walz prometeu medidas para conter a alta de preços das casas. Vance disse que o aumento na imigração ajudou a aumentar o custo dos imóveis, e que contê-la ajudará a baixar os preços. Ele também defendeu que aumentar a extração de petróleo e baixar o preço dos combustíveis ajudará a baixar a inflação no país.

Na reta final, ambos foram perguntados se aceitarão os resultados da eleição. Vance disse que, se Walz for o próximo vice-presidente, ele ofereceria suas orações, seus cumprimentos e sua ajuda. No entanto, ele evitou responder se acredita que Trump perdeu a reeleição em 2020 e acusou os democratas de querer censurar os discursos dos rivais.

Quem são os candidatos à vice-presidente nos EUA?

Vance, 40 anos, é senador de primeiro mandato por Ohio e ficou famoso ao escrever um livro, sobre as dificuldades de uma família de classe média no interior. Ele foi apontado como uma escolha pessoal de Trump, que buscou alguém mais jovem e de opiniões firmes para compor sua chapa. Vance sofreu críticas após ter declarações antigas suas resgatadas, como quando disse que "mulheres com gatos e sem filhos" não deveriam ocupar cargos de comando no governo.

Walz, 60 anos, é governador de Minnessota, desde 2019. Antes, foi militar na Guarda Nacional, professor de ensino médio e técnico do time de futebol da escola. O candidato defende pautas progressistas, como o direito ao aborto. Assim como Vance, ele foi escolhido por Kamala para tentar atrair mais eleitores da região do meio-oeste dos EUA.

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