Síria: os habitantes convivem novamente com os bombardeios diurnos e noturnos (SANA / Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2016 às 14h14.
Os combates foram retomados na Síria, onde um bombardeio provocou a suspensão dos comboios de ajuda humanitária da ONU um dia após o fim da trégua por falta de um acordo entre Washington e Moscou.
Em Nova York, no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, fez um novo apelo para "colocar fim aos combates" na Síria e pelo início das negociações.
Horas antes, a ONU se viu obrigada a suspender o fornecimento de ajuda humanitária por via terrestre após um ataque mortífero contra um comboio, o mais grave desde o início da guerra, em 2011.
Bombardeios aéreos destruíram ao menos 18 de 31 veículos que entregavam alimentos e medicamentos aos habitantes de Orum al-Kubra, uma cidade do norte do país. Vinte civis e um funcionário do Crescente Vermelho sírio morreram, segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV).
"É um dia muito, muito triste para os trabalhadores humanitários na Síria e no mundo", declarou em Genebra o porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, em inglês), Jens Laerke.
"Se ficar demonstrado que este ataque impiedoso teve como alvo deliberado" um comboio humanitário, "então isso equivale a um crime de guerra", declarou Stephen O'Brien, chefe das operações humanitárias da ONU.
Ele não indicou a nacionalidade dos aviões que realizaram o ataque, mas o regime sírio e seu aliado russo negaram com veemência nesta terça-feira qualquer participação.
"Nem a aviação russa, nem a síria realizaram nenhum ataque aéreo contra um comboio humanitário da ONU no sudoeste de Aleppo", declarou o general Igor Konachenkov, porta-voz do ministério da Defesa. Segundo Konachenkov, não se trata de um ataque aéreo.
Para a Rússia, a destruição dos caminhões coincidiu com uma importante ofensiva dos rebeldes, que não dispõem de uma aviação de guerra, cujo alvo é Aleppo.
Sem acusar diretamente Moscou, o porta-voz do departamento de Estado, John Kirby, disse que os "Estados Unidos estão chocados" pela atitude da Rússia, aliada do regime de Damasco.
"O regime sírio e a Federação russa conheciam o destino deste comboio", disse Kirby.
Trégua 'não está morta'
No resto do país, de Aleppo até o subúrbios de Damasco, os habitantes convivem novamente com os bombardeios diurnos e noturnos. Muitos ficaram em seus lares depois de desfrutar durante uma semana de uma frágil trégua.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), ao menos 27 barris de explosivos foram lançados sobre Aleppo na manhã desta terça-feira. Na cidade e na província, ao menos 39 civis morreram desde o anúncio do exército sírio de que a trégua havia terminado.
Em Nova York, a crítica situação na Síria era o centro de interesse de uma reunião do grupo de apoio à Síria, que reúne 23 países e organizações internacionais, presidido por Estados Unidos e Rússia.
Ao término da reunião, e depois de um encontro bilateral com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou em breves declarações à imprensa que o acordo de cessar-fogo na Síria "não está morto" e que as negociações continuarão nesta semana.
Washington quer acreditar que nem tudo está perdido. Pouco antes, Kerry havia insistido que o mais importante é que Moscou, que assinou o acordo de trégua, "controle (o presidente sírio Bashar) al-Assad".
Mas, para Moscou, a possibilidade de retomar a trégua é "muito fraca", disse o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
Para Moscou, as condições para retomar a trégua "são muito simples": "os terroristas devem deixar de atacar o exército sírio", disse.
Esta nova tentativa de alcançar o fim dos combates e iniciar negociações de paz na Síria, após cinco anos de guerra, não havia despertado grandes expectativas.
A oposição e os grupos rebeldes não haviam dado seu acordo, já que faltavam, segundo eles, garantias sobre seu respeito por parte do regime.
O conflito na Síria provocou a morte de mais de 300.000 pessoas, segundo o OSDH, e obrigou milhares a fugir de suas casas. A quantidade de refugiados saturou a capacidade de acolhida nos países vizinhos, assim como na Europa.