Soldados patrulham uma rua de Bangui, na República Centro-Africana: "recolhemos mais de 130 corpos", disseram fontes da Cruz Vermelha (Sia Kambou/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2013 às 08h48.
Bangui - Mais de 130 pessoas morreram nos combates entre as milícias e as forças de segurança que aconteceram ontem em Bangui, a capital da República Centro-Africana (RCA), confirmou à Agência Efe nesta sexta-feira a Cruz Vermelha desse país.
"Recolhemos mais de 130 corpos até a noite passada. Ainda não visitamos todas as áreas em que ocorreram ontem os combates. Por enquanto, não podemos fechar a lista (de mortos)", disseram à Efe fontes da Cruz Vermelha.
Esse número supera amplamente o divulgado na quinta-feira pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que falou de pelo menos 50 mortos e cerca de 100 feridos, enquanto as autoridades estimam que os mortos são, pelo menos, mais de 100.
A manhã da sexta-feira começou com alguns incidentes violentos em distritos do sul de Bangui, enquanto também foram registrados distúrbios durante a noite em outros lugares da cidade, conforme constatou a Efe.
A situação continua complicada na capital, apesar de o presidente da França, François Hollande, ter anunciado ontem à noite o início de uma ação militar "de forma imediata", após receber o apoio do Conselho de Segurança da ONU para que as tropas francesas possam intervir no país junto com uma força africana.
Várias testemunhas do norte, oeste e sul de Bangui garantiram à Efe que membros do grupo rebelde Séléka -cujo líder, Michel Djotodia, é presidente interino da RCA- estão cometendo abusos nessas áreas.
"Os militares franceses ainda não entraram em ação nesta manhã. Nosso bairro foi invadido no começo da manhã por homens da Séléka. Eles roubam, sequestram jovens, matam e todos estamos fugindo", disse à Efe Patrick Zoumaya, morador do distrito de Fátima.
Enquanto isso, no mosteiro "Marie Mére du Verbe", no quarto distrito de Bangui, a situação humanitária de milhares de pessoas que fugiram dos combates nesta quinta-feira começa a ficar difícil.
"Não temos água, nem lugares para a higiene. Não podemos sair em busca de comida, porque os homens da Séléka estão sempre presentes em nossa vizinhança", comentou à Efe Jacques Ouilikon, um dos refugiados no mosteiro.
Apesar de tudo, Djotodia garantiu ontem à noite que a situação estava sob controle após decretar um toque de recolher das seis da tarde até as seis da manhã em todo o território nacional.
O Ministério da Segurança Pública, por outro lado, anunciou o fechamento das fronteiras com a República Democrática do Congo, desde ontem até um novo aviso.
Os ataques das milícias "Anti-Balaka" levaram Bangui ao caos ontem, onde ocorreram intensos tiroteios com artilharia pesada.
Os enfrentamentos, iniciados por esses milicianos cristãos partidários do presidente deposto François Bozize, ocorreram antes que a ONU autorizasse a intervenção militar da França, junto com uma força africana, para restabelecer a ordem nesse país.
As Forças de Segurança fizeram frente às milícias cristãs, apoiadas por membros da Séléka.
Nas últimas semanas, ocorreram enfrentamentos entre partidários da Séléka e das milícias de autodefesa "Anti-Balaka" ("anti-facão" em sango, a língua nacional), que atacaram civis muçulmanos, religião dos membros da Séléka, mas minoritária no país.
A crise da República Centro-Africana começou quando, no dia 24 de março deste ano, a capital foi tomada pelos rebeldes da Séléka, que assumiram o poder no país após a fuga de Bozizé para o exílio.