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Combates matam 66 soldados no Sudão do Sul

Mais de 60 soldados foram mortos em Juba e quase dez mil habitantes se refugiaram junto à ONU por medo da violência étnica na capital sul-sudanesa

Civis chegam às instalações da ONU no Sudão do Sul: "é fundamental que a atual onda de violência não tome dimensões étnicas", advertiu missão da ONU (George Mindruta/AFP)

Civis chegam às instalações da ONU no Sudão do Sul: "é fundamental que a atual onda de violência não tome dimensões étnicas", advertiu missão da ONU (George Mindruta/AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de dezembro de 2013 às 15h45.

Juba - Mais de 60 soldados foram mortos em Juba e quase 13.000 habitantes se refugiaram junto à ONU por medo da violência étnica na capital sul-sudanesa, onde os combates foram retomados nesta terça, no dia seguinte ao anúncio de um golpe de Estado fracassado.

Apesar do cessar-fogo, disparos e explosões foram ouvidas durante a noite às 14H30 (9H30 no horário de Brasília) em diversos bairros da capital, onde a população não saiu de suas casas, segundo um jornalista da AFP.

Os tiros continuam a ser ouvidos, mas com menor frequência.

"É fundamental que a atual onda de violência não tome dimensões étnicas", advertiu a Missão da ONU no Sudão do Sul (Minuss), exortando "todos os cidadãos e os líderes a se manter distante de todo ato incendiário ou violento contra comunidades em particular".

Segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, 13.000 pessoas buscaram refúgio em bases da organização para fugir da violência.

Ban pediu ao presidente Sava Kiir para fazer "uma oferta de diálogo" a seus adversários para acabar com a disputa iniciada no domingo, segundo o porta-voz da ONU Martin Nesirky.

A Minuss havia estimado "nesta manhã que cerca de 10.000 civis receberam proteção" em suas bases em Juba.

Um médico de um hospital militar da capital do Sudão do Sul indicou a uma rádio local que ao menos 66 soldados sul-sudaneses foram mortos durante os combates.


Durante o dia, o secretário de Estado sul-sudanês para a Saúde, Makur Korion, mencionou por sua vez ao menos 26 pessoas - civis e militares - mortos em Juba desde o início dos combates domingo à noite.

Segundo ele, 140 pessoas ficaram feridas.

De acordo com um jornalista da AFP, os tiros vêm de três direções: do quartel-general do exército no centro da cidade, do ministério da Segurança Nacional e de Gudele II, bairro onde está localizada uma caserna.

A rádio independente Tamazuj relatou confrontos envolvendo partidários do ex-vice-presidente Riek Machar.

Dinka contra Nuer

Segunda-feira, o presidente Kiir afirmou ter frustrado uma tentativa de golpe de Estado planejada por seu ex-vice-presidente e soldados leais a ele.

Os observadores expressaram dúvidas nesta terça quanto a veracidade do golpe, vendo na acusação um potencial pretexto para se livrar de Riek Machar.

Em julho, o presidente Kiir demitiu seu vice e todo o governo, em meio a rivalidades entre os dois homens e dissensões dentro do regime, formado por ex-rebeldes do sul.

Ele está no poder desde um acordo de paz assinado com Cartum em 2005, que terminou com décadas de guerra civil e levou à independência do Sudão do Sul em julho de 2011.

A população teme agora confrontos as duas comunidades Dinka e Nuer do presidente Kiir e de seu rival.

Fontes humanitárias relataram episódios de violência de militares contra membros da comunidade Nuer em Juba.


As forças de segurança patrulhavam nesta terça áreas estratégicas da capital, onde todas as lojas estavam fechadas.

"Gostaríamos de ir ao mercado para comprar comida, mas como você sair com esses tiros?", disse à AFP Kiden Jane, uma residente do distrito de Mauna.

Muitos habitantes que vivem perto de quarteis foram vistos à procura de refúgio em outras partes da cidade.

Os primeiros confrontos começaram domingo à noite, aparentemente entre facções rivais do exército sul-sudanês, perto de bases militares antes de parar no meio da noite e retomar na segunda-feira por cerca de três horas.

O enviado especial dos Estados Unidos no Sudão e no Sudão do Sul, Donald Booth, declarou nesta terça-feira à BBC que "a situação em Juba permanece claramente tensa e incerta".

"Nós continuamos a reunir diferentes elementos e peças de informação, por isso é um pouco prematuro dizer exatamente o que provocou a violência. Sabemos que há tensões crescentes, devido a divergências" dentro do partido no poder.

De acordo com fontes confiáveis​​, Riek Machar e os seus partidários se retiraram no sábado de uma reunião da executiva do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação (SPLM), dividido há vários meses.

O destino de Machar, uma figura controversa por ter se aliado a Cartum por certo tempo durante a guerra civil, permanece desconhecido nesta terça-feira.

Vários ex-ministros foram presos, segundo as autoridades. O aeroporto de Juba permanece fechado e as comunicações telefônicas são difíceis.

Atualização às 16h45 de 17/12/2013

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