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Com repúdio ou diplomacia, América do Sul recebe impeachment

Reações variam do congelamento de relações anunciado pelo governo da Venezuela até o "respeito" expresso pelos governos de Argentina, Chile e Paraguai


	Dilma: "A História ainda não terminou, e o Brasil conta com a Venezuela", disse o presidente Maduro
 (Ueslei Marcelino / Reuters)

Dilma: "A História ainda não terminou, e o Brasil conta com a Venezuela", disse o presidente Maduro (Ueslei Marcelino / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2016 às 08h46.

O impeachment de Dilma Rousseff gerou reações distintas entre seus vizinhos sul-americanos: do congelamento de relações anunciado pelo governo da Venezuela, passando pela retirada do máximo representante do Equador em Brasília, até o "respeito" expresso pelos governos de Argentina, Chile e Paraguai.

A Venezuela "decidiu retirar definitivamente seu embaixador" no Brasil, Alberto Castellar, "e congelar as relações políticas e diplomáticas com o governo surgido desse golpe parlamentar", anunciou a Chancelaria venezuelana, em um comunicado.

No Twitter, o presidente Nicolás Maduro condenou o que chamou de "Golpe Oligárquico da direita". Em maio, a Venezuela já havia convocado seu embaixador para consultas.

"Estamos em consultas porque há um governo usurpador lá, que ninguém escolheu", denunciou Maduro, garantindo que os Estados Unidos estão por trás desse "golpe".

"Hoje é um dia triste para a História do Brasil e da América Latina, porque se orquestrou um golpe de Estado agressivo da oligarquia (...) É contra a América Latina inteira e o Caribe. É contra nós, que lutamos pela justiça e pela igualdade", manifestou.

Maduro contou que conversou por telefone com Dilma Rousseff, "com muito sentimento, com muito amor", e disse a ela que a Venezuela não vai abandoná-la.

"A História ainda não terminou, e o Brasil conta com a Venezuela", disse o presidente Maduro.

Outro aliado de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Equador retirou seu encarregado de negócios, Santiago Javier Chávez Pareja, até agora seu principal representante diplomático em Brasília.

Em maio, Quito já havia convocado para consultas seu embaixador no Brasil, Horacio Sevilla. Desde então, ele não voltou ao posto e, em junho passado, foi nomeado representante permanente do Equador na ONU.

O governo do Equador disse que a embaixada ficará a cargo do terceiro-secretário. Embora não tenha mencionado o congelamento das relações, advertiu que "provavelmente tenha algum tipo de afetação à relação bilateral".

O presidente da Bolívia, Evo Morales, também convocou para consultas seu embaixador no Brasil, após condenar o "golpe parlamentar".

Na mesma linha, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) - na voz de seus membros Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua - condenou o "golpe de Estado parlamentar" no Brasil.

Segundo o representante suplente da Nicarágua, Luis Ezequiel Alvarado, isso demonstra "que as forças regressivas do hemisfério continuam trabalhando com o objetivo de desestabilizar e de provocar golpes de Estado contra os governos progressistas da região".

Respeito ao processo

Adotando uma postura mais moderada, o governo argentino de Mauricio Macri disse que "respeita" o processo de destituição de Dilma, por parte do Senado brasileiro, e "reafirma sua vontade de continuar pelo caminho de uma real e efetiva integração com base no absoluto respeito pelos direitos humanos, as instituições democráticas e o Direito Internacional".

O mesmo tom foi adotado pelo governo do Chile, que se declarou "respeitoso" quanto à decisão e manifestou sua "confiança em que o Brasil resolverá seus próprios desafios, por meio de sua institucionalidade democrática".

O Paraguai respeita a decisão tomada pelas instituições democráticas brasileiras e buscará aprofundar as relações políticas, econômicas e comerciais com a nova administração de Michel Temer, anunciou o chanceler Eladio Loizaga, em declarações à AFP.

"Para nós, foi uma decisão tomada pelas instituições democráticas brasileiras. Como tal, nós respeitamos", afirmou Loizaga, na primeira reação do governo de seu país ao .

"Agora vamos buscar o aprofundamento das nossas relações em todo sentido: econômicas, comerciais, políticas", completou o ministro das Relações Exteriores, acrescentando que o governo paraguaio "manteve relações mais do que cordiais nesse processo" com o Brasil.

O chanceler lembrou que os dois países têm empreendimentos comuns, entre eles o acordo para construir uma ponte de grande envergadura sobre o rio Paraguai.

Ao ser questionado sobre a decisão de Bolívia, Equador e Venezuela de retirar seus embaixadores de Brasília, respondeu: "São opiniões deles".

Loizaga manifestou seu desejo de que essa decisão "ajude a acelerar uma saída para a crise que temos no Mercosul para avançar adiante".

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