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Com "linguagem da força", discurso de Obama evoca Bush

Durante discurso na ONU, presidente dos EUA passou da linguagem da acomodação para uma retórica que evoca a de seu antecessor


	 O presidente norte-americano, Barack Obama, durante o seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York
 (Mike Segar/Reuters)

O presidente norte-americano, Barack Obama, durante o seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York (Mike Segar/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2014 às 22h59.

Washington - As palavras contundentes do presidente dos EUA, Barack Obama, sobre o terrorismo islâmico representaram uma mudança marcante em seu discurso anual na Organização das Nações Unidas.

Ele passou da linguagem da acomodação para uma retórica que evoca a de seu antecessor, George W. Bush.

Obama, que seis anos atrás ganhou a eleição em parte por se opor às guerras de Bush, disse ontem à Assembleia Geral da ONU que os extremistas que são alvo dos ataques aéreos liderados pelos EUA só entendem “a linguagem da força” e culpou o conflito sectário muçulmano por “tanta miséria humana” no mundo.

“Nenhum Deus perdoa esse terror; nenhuma mágoa justifica essas ações”, disse Obama a respeito dos estupros, assassinatos e decapitações de inocentes pelo Estado Islâmico.

“Não pode haver fundamentação, nem negociação com esse tipo de mal”, disse ele. “A única linguagem que os assassinos entendem é a linguagem da força”.

Enquanto Obama falava, aviões e drones dos EUA, com assistência da França e de vários países árabes, expandiam uma campanha de bombardeamento contra posições do Estado Islâmico do Iraque à Síria.

Em determinados momentos pareciam ecos do anúncio de 2003 de Bush, da invasão do Iraque para derrubar Saddam Hussein, no qual o então presidente dos EUA prometeu que “esta não será uma campanha de meias medidas e nós não aceitaremos outro resultado que não seja a vitória”.

Obama descreveu sua meta como sendo a de proteger os americanos, enquanto a missão de Bush era mudar a classe dominante no Iraque. Contudo, disse Obama, “os Estados Unidos da América não serão distraídos ou impedidos de fazer o que deve ser feito”.

Aaron David Miller, ex-negociador de paz no Oriente Médio do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington, disse que Obama não foi tão longe quanto Bush.

‘Bravata’ de Bush

“Não são bravatas”, disse Miller. “Isso está baseado no que ele espera que seja uma estratégia que não terá uma duração tão indeterminada que o faça vítima dos mesmos problemas de seu antecessor”, como uma guerra de uma década com mais de 4.000 militares americanos mortos, gastos descontrolados e ressentimentos dos países muçulmanos vizinhos em relação aos EUA.

“Ele não está tentando consertar o Oriente Médio, ele está tentando proteger os EUA e os aliados dos EUA”, disse Miller, autor de “The End of Greatness: Why America Can’t Have (and Doesn’t Want) Another Great President” (“O fim da grandeza: por que os EUA não podem (e não querem) ter outro grande presidente”, na tradução livre).

“A linguagem dura, moralista, preto no branco” de Obama surge da ameaça representada pelo Estado Islâmico, disse Miller. “E sejamos claros: isso pode destruir sua presidência”.

Mundo muçulmano

Ao mencionar as lutas internas dos muçulmanos, Obama buscou fazer sua observação dentro do contexto colocando sobre o mundo árabe o ônus de ajudar a erradicar o Estado Islâmico.

“Não há nada de novo nas guerras dentro das religiões”, disse ele.

“O cristianismo sofreu séculos de conflitos sectários viciosos. Hoje, existe violência nas comunidades muçulmanas e ela se tornou a fonte de tanta miséria humana. Já é hora de reconhecer a destruição causada pelas guerras por procuração e pelas campanhas terroristas entre sunitas e xiitas em todo o Oriente Médio”.

É certo que alguns dos pontos que ele destacou foram típicos de Obama. “Nenhuma força externa pode provocar uma transformação de corações e mentes”, disse ele.

Rejeitar o extremismo sectário é “uma tarefa para o próprio povo do Oriente Médio”.

“Nós rejeitamos qualquer sugestão de um choque de civilizações”, disse Obama. “Os EUA não basearão toda nossa política exterior na reação ao terrorismo”.

Combatentes estrangeiros

Milhares de jihadistas dos EUA, do Reino Unido e de mais de 80 países foram para a Síria e para outros campos de batalha, disse Obama.

"As resoluções por si só não serão suficientes", disse ele. "Promessas no papel não nos manterão seguros. A retórica elevada e as boas intenções não vão parar um ataque terrorista. As palavras proferidas aqui hoje devem ser combinadas e traduzidas em ação".

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