Patrimônio da Coroa: Estabelecido em 1760, tem £ 17 bilhões (R$ 102 bilhões) em ativos (Christopher Furlong/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 19 de setembro de 2022 às 10h07.
A morte da rainha Elizabeth II está provocando uma reestruturação total das finanças da família real. Com origens que remontam a 1337, os diversos condados, ducados, terrenos, castelos e bens de todo tipo que ajudaram a sustentar a monarquia britânica vão agora servir a uma nova geração dos Windsors. Nesta segunda-feira, o funeral da rainha vai durar nove horas.
Não é uma divisão de herança qualquer. É uma fortuna reunida numa intrincada hierarquia que destina para cada membro da família real os direitos sobre um conjunto de propriedades tão díspares como escritórios em Londres, estádios esportivos, os direitos à exploração do solo oceânico do Reino Unido e até mesmo uma prisão.
O rei Charles III, de 73 anos, agora tem direito como soberano da Grã-Bretanha a uma pequena parcela de renda da maior entidade de investimentos ligada à monarquia do Reino Unido, o patrimônio da Coroa, e também poderá usufruir dos rendimentos de uma entidade privada, o Ducado de Lancaster.
Enquanto isso, seu filho mais velho William, 40, herdou o Ducado da Cornualha, depois de suceder seu pai como Príncipe de Gales e próximo na linha de sucessão ao trono.
O patrimônio da Coroa e os ducados reais supervisionam os ativos totais de cerca de £ 18,2 bilhões (o equivalente a R$ 109 bilhões). E, na última década, tiveram valorização de cerca de 70% em média, segundo dados compilados pela Bloomberg, refletindo uma forte alta nos preços dos terrenos no Reino Unido.
Estabelecido em 1760, o patrimônio da Coroa tem entre os seus ativos mais famosos o Palácio St. James em Londres. E, ainda, a Regent Street, uma das maiores ruas comerciais de Londres repleta de butiques de modas sofisticadas, e a loja de brinquedos Hamleys. É o maior das entidades de investimento monárquicas, com £ 17 bilhões (R$ 102 bilhões) em ativos.
Já o Ducado da Cornualha, agora do príncipe William, remonta ao ano de 1337 e tem patrimônio avaliado em £ 1 bilhão (R$ 6 bilhões). A prisão de Dartmoor e o Oval, estádio oval de críquete de Londres, são algumas de suas propriedades.
- É todo um conceito de negócios - resume David Haigh, chefe executivo da consultoria Brand Finance.
São três entidades principais que reúnem o patrimônio e sustentam a família britânica. Uma delas pública - o patrimônio da Coroa - e outras duas privadas, os ducados da Cornualha e de Lancaster. Conheça, abaixo, os ativos mais famosos de cada um.
Patrimônio da Coroa: Estabelecido em 1760, tem £ 17 bilhões (R$ 102 bilhões) em ativos. Suas propriedades mais famosas são a Regent Street, o centro de Londres, os direitos sobre o solo oceânico do Reino Unido, o palácio St.James.
Ducado da Cornualha: Sua história remonta a 1337. Com patrimônio avaliado em £ 1 bilhão (R$ 6 bilhões), é dono do Oval (estádio de críquete) da zona ao sul do Rio Tâmisa em Londres (South London) e da prisão de Dartmoor.
Ducado de Lancaster: Datado de 1351, com £ 653 milhões em bens (R$ 3,9 bilhões), tem entre os seus ativos o Castelo de Lancaster e terras rurais na Inglaterra e no País de Gales
As mudanças seguem os antigos arranjos financeiros da monarquia britânica, que operam de maneira completamente diferente das tradicionais disputas por herança.
Para começar, os ativos mais valiosos nem são de propriedade dos membros da realeza. O monarca tem a posse dos bens, incluindo as joias da Coroa e a Royal Art Collection. Mas esses bens não são considerados sua propriedade privada e não podem ser vendidos pelo monarca. O chefe de Estado do Reino Unido não paga imposto de herança sobre esses bens.
O subsídio para o ano até março de 2023 é de £ 86,3 milhões (R$ 517 milhões), sem alterações em relação ao período de 2022, quando a maior parte da arrecadação foi para a manutenção de palácios reais e pagamento dos salários dos funcionários.
Os lucros do Ducado de Lancaster, que possui 18.481 hectares de terras na Inglaterra e no País de Gales, fornecem renda para o soberano do Reino Unido e tem ajudado a financiar outros membros da realeza britânica, como o príncipe Andrew, 62, o segundo filho da rainha.
O Ducado da Cornualha — que tem cerca de 53.000 hectares de terra principalmente no sudoeste da Inglaterra, assim como a prisão de Dartmoor — fornece um arranjo de renda semelhante para o príncipe de Gales e sua família. Antes de se tornar rei, Charles sustentou o príncipe Harry, 38, e Meghan Markle, 41, com milhões de libras antes do casal abdicar de suas atribuições monárquicas e se mudarem para os EUA.
Os ducados e o patrimônio da Coroa publicam relatórios anuais sobre suas finanças, mas sem detalhar os arranjos de remuneração para membros específicos da família real. Segundo dados compilados pela Bloomberg, os ducados distribuíram um total de £430 milhões (R$ 2,58 bilhões) na última década.
- A verdadeira questão é se há de fato uma vantagem econômica para o Reino Unido, diante do custo de sustentar a família real - disse Haigh, cuja empresa estimou que a monarquia traz mais de £ 1 bilhão (R$ 6 bilhões) por ano para sua nação.
- Eles parecem estar orquestrando muito bem a transição de um ponto de vista da propaganda, criando muita empatia por Charles e Camilla, assim como William e Kate, acrescentou.
A rainha também teve sua própria fortuna pessoal, em parte por bens herdados de seus pais, incluindo sua residência em Balmoral, na Escócia, onde faleceu. Ela tinha um patrimônio líquido de cerca de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões), abrangendo uma das maiores coleções de selos do mundo e estábulos, além de seus imóveis, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
Como monarca, o rei Charles está isento do imposto sucessório sobre bens que ele recebe no testamento de sua mãe. No entanto, ele e a rainha pagam imposto de renda e ganhos de capital sobre fundos de suas propriedades. Mas apesar da monarquia ser centenária, esses tributos só começaram a ser cobrados há duas décadas, após um acordo com o governo britânico mediante uma pressão popular sobre quem pagaria a conta da restauração do Castelo de Windsor após o incêndio de 1992.
Assim como acontece com outros membros da realeza, os detalhes sobre o destino da fortuna pessoal da rainha provavelmente permanecerão em segredo.
Um juiz de Londres tem guardado num cofre mais de 30 envelopes com os testamentos de membros da família real britânica datando de mais de um século. A vontade do príncipe Philip, o marido da rainha que morreu no ano passado aos 99 anos, deve permanece selada por quase um século.
- As autoridades fiscais do Reino Unido “vão ver os detalhes” de qualquer arranjo financeiro no testamento da rainha. Já o público britânico não vai - disse Dan Neidle, fundador da empresa de consultoria sem fins lucrativos Tax Policy Associates.
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