O presidente colombiano, Juan Manuel Santos: ex-generais reformados do Exército expressaram seu ceticismo sobre a pertinência das negociações (©AFP/Presidencia de Colombia / César Carrión)
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2012 às 18h16.
Bogotá - A classe política colombiana e grupos sociais expressaram nesta terça-feira seu majoritário apoio às negociações de paz com as Farc confirmadas pelo presidente Juan Manuel Santos, mas que foram recebidas com receio por setores militares e personalidades ligadas ao ex-presidente Álvaro Uribe.
As reações políticas se dividiram entre os que confiam na capacidade de Santos para lidar com esta espinhosa questão e os que, ressaltando seu apoio à busca pela paz, manifestaram suas dúvidas diante da breve informação fornecida pelo presidente em seu anúncio na noite de segunda-feira.
O ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998) saudou a discrição de Santos e elogiou especialmente sua disposição em não repetir "os erros do passado".
Esta postura sugere "que o próximo processo deve ser muito mais discreto, que não é o mesmo que um segredo, e que deve ser curto. O país não pode se expor a um processo muito longo pelos custos que estão sendo pagos em direitos humanos", afirmou Samper em uma entrevista à AFP.
As últimas negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, comunistas) se desenvolveram por quatro anos em uma zona desmilitarizada de 42.000 km2 na região do Caguán (sudeste), até sua ruptura, em fevereiro de 2002.
Em sua mensagem à nação, Santos informou que seu governo realiza "negociações exploratórias" visando a um diálogo de paz com a guerrilha mais antiga do continente, que estão sendo realizadas sem a interrupção das operações e com a presença militar em todo o território.
O presidente não confirmou o roteiro do processo nem os temas que serão discutidos.
Em Washington, o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, saudou nesta terça-feira "o avanço que esta aproximação representa" e ofereceu o apoio de sua instituição.
Também ofereceram seu apoio a Santos o presidente do Congresso, Roy Barreras - do governista Partido de la U - e os líderes do Partido Liberal, além das formações de esquerda Pólo Democrático Alternativo e movimento Progressistas.
Também apoiaram o presidente a Confederação Geral do Trabalho (CGT), representantes da Igreja Católica e de ONGs, como a Colombianos e Colombianas pela Paz (CCP), liderada pela ex-senadora liberal e mediadora com as Farc Piedad Córdoba, que pediu o apoio da "comunidade internacional, dos Estados Unidos, à União Europeia, passando pela Unasul".
De acordo com versões jornalísticas, a mesa de negociações entre o governo e a guerrilha seria montada no mês outubro em Oslo (Noruega) e depois iria para Cuba, embora essa informação não tenha sido confirmada por Santos nem pelos dois governos estrangeiros.
Dentro do Partido de la U, que reúne seguidores de Santos e Uribe, algumas vozes exigem do presidente mais especificidade a respeito do conteúdo dos diálogos e advertem que a sociedade colombiana não está disposta a assumir a impunidade para guerrilheiros responsáveis por crimes contra a Humanidade.
"Se os colombianos sentem que, para conseguir o que se chama de paz, temos que assumir que pessoas que violaram os direitos humanos fiquem impunes, acredito que lamentavelmente vamos a um segundo Caguán", declarou o parlamentar do Partido de la U Miguel Gómez, referindo ao fracassado diálogo de uma década atrás.
O ex-presidente Uribe, muito crítico em relação à política de segurança de seu sucessor, rejeita os diálogos e defende a intensificação da ofensiva militar contra os rebeldes diante do aumento da violência observado no país, embora até agora não tenha reagido ao anúncio de Santos.
Ex-generais reformados do Exército também expressaram seu ceticismo sobre a pertinência das negociações, no momento em que as Farc, diante de sua acentuada perda de controle territorial nos últimos anos, desenvolveram uma nova estratégia de ataques seletivos com explosivos que causam estragos entre as forças de segurança e a população civil.
O general reformado Harold Bedoya afirmou na segunda-feira à emissora Caracol Radio que, caso seja aberta uma negociação neste momento, ela será feita sob as condições impostas pela guerrilha.