Merkel: os eleitores de Hesse parecem cansados das brigas internas da coalizão, em particular sobre a migração (Toby Melville/Reuters)
AFP
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 11h14.
Duas semanas depois da decepção eleitoral na Baviera, a chanceler alemã, Angela Merkel, e sua coalizão governamental estão ameaçadas por uma nova derrota nas eleições regionais de domingo, em Hesse (centro-oeste).
A chanceler parece antecipar-se a um revés com o pedido de para que a eleição local não extrapole a nível nacional.
Mas voltou a provocar especulações sobre seu futuro político com uma pequena frase que repercutiu na imprensa alemã: "Todos que tentaram organizar sua sucessão falharam completamente. E é assim que deve ser".
Mas ela demonstrou que não está indiferente à eleição de domingo. A chanceler intensificou a participação nos comícios para apoiar o atual dirigente da CDU em Hesse, Volker Bouffier.
Merkel lidera um governo de coalizão com os social-democratas do SPD a nível nacional, mas não hesita em criticar as "experiências de esquerda" ao falar sobre uma eventual aliança de esquerda com maioria.
"Seria desastroso neste período de turbulências no mundo".
Mas se a CDU perder Hesse, a situação pode ficar ainda mais desconfortável para Merkel, que em dezembro deve ser confirmada ou não como líder de seu partido.
As pesquisas mostram a mesma tendência: como a nível federal, a direita conservadora perde fôlego. Em Hesse tem 26% das intenções de voto, 12 pontos a menos que em 2013.
Como no restante da Alemanha, os eleitores de Hesse parecem cansados das brigas internas da grande coalizão que governa o país, em particular sobre a migração.
Os partidos de oposição ao governo de Merkel tiram proveito.
A Alternativa para Alemanha (AfD), de extrema-direita e criado há cinco anos, que entrou em 2017 no Bundestag (Parlamento federal), entraria, com 12% das intenções de voto, no último parlamento regional no qual ainda não tem cadeiras.
Mas os Verdes, aliados circunstanciais da CDU desde 2013, se beneficiam ainda mais da nova dinâmica.
Na Baviera já conseguiram o segundo lugar e no domingo podem superar a barreira de 20% dos votos, com possibilidade de resultado melhor que os social-democratas.
Poderia então liderar uma coalizão de esquerda e afastar da região os conservadores com seu popular líder, o alemão de origem iemenita Tarek al Wazir, atual ministro da Economia do estado regional.
Se a CDU e o SPD não conquistarem a vitória em Hesse, as repercussões devem alimentar o debate sobre a sucessão da chanceler, no poder desde 2005 e cujo mandato expira em 2021. O tema deixou de ser tabu.
Alguns, ante o avanço da AfD, querem renunciar à posição centrista e à estratégia de compromisso permanente que rendeu um grande sucesso a Merkel durante mais de uma década.
A situação é ainda mais complicada para a chanceler que, além das divisões em seu lado político, tem os social-democratas no governo, um partido que se questiona sobre a validade de permanecer na coalizão.
A eleição de Hesse se anuncia novamente desastrosa para o partido mais antigo da Alemanha.
A ideia de sair do governo para atender o desejo da base e reorganizar o partido ganha cada vez mais adeptos entre os social-democratas, o que preocupa os conservadores.