Mundo

Coalizão bombardeia Estado Islâmico perto de cidade curda

Coalizão voltou a bombardear os jihadistas do Estado Islâmico na Síria, em batalha que provoca violência na Turquia

Curdos observam da Turquia a fumaça resultado de combates na cidade de Kobane (Aris Messinis/AFP)

Curdos observam da Turquia a fumaça resultado de combates na cidade de Kobane (Aris Messinis/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2014 às 11h50.

Mursitpinar - A coalizão internacional voltou a bombardear nesta quarta-feira os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), em apoio às forças curdas, na cidade síria de Kobane, uma batalha que tem provocado violentos distúrbios na vizinha Turquia.

Os confrontos no sudeste da Turquia entre as forças de segurança e manifestantes curdos que denunciavam a inércia de Ancara diante do avanço dos extremistas islâmicos na Síria deixaram pelo menos 18 mortos.

Pela primeira vez em vinte anos, as autoridades de Ancara decretaram toque de recolher em seis províncias do país onde população é majoritariamente curda para tentar restabelecer a calma.

Os jihadistas do EI entraram na noite de segunda-feira em Kobane, depois de quase três semanas de combates nas proximidades da cidade, que fica muito perto da fronteira com a Turquia. Desde então, os combates ganharam as ruas, com as YPG (Unidades de Proteção do Povo Curdo) em menor número e com menos armas em uma resistência desesperada ao avanço do grupo islamita.

Novos ataques da coalizão internacional foram realizados nesta quarta-feira, segundo um jornalista da AFP. Uma densa coluna de fumaça podia ser observada sobre uma colina da zona leste da cidade, cenário de combates nos últimos dias entre os chamados "peshmergas" curdos e as forças do EI.

Graças a esses ataques, "as YPG obrigaram os integrantes do EI a abandonar alguns bairros no leste da cidade", afirmou nesta quarta-feira Idriss Nahsen, um líder local.

Mas esses bombardeios não foram suficientes para impedir os jihadistas de lançar uma nova ofensiva nesta manhã.

"Violentos combates são travados depois que o EI lançou uma ofensiva para retomar as zonas que havia perdido", informou o diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

De acordo com a ONG, pelo menos 412 pessoas morreram nos combates, mas esse número pode ser muito maior.

O presidente americano, Barack Obama, deve se reunir nesta quarta-feira com os comandantes das Forças Armadas de seu país para discutir os ataques aéreos no Iraque e na Síria.

Ruas "cheias de corpos"

O barulho de morteiros e disparos podia ser ouvido a partir da fronteira turca nesta quarta-feira de manhã, de acordo com uma equipe de AFP no local.

Mustafa Ebdi, militante e jornalista de Kobane, afirmou em sua conta no Facebook que "as ruas de Maqtala", no sudeste da cidade, estavam "cheias de cadáveres de combatentes do Daesh", sigla em árabe do Estado Islâmico.

Mas centenas de civis permanecem na cidade, segundo ele, que acrescentou que a situação humanitária é "difícil, porque as pessoas precisam de comida e água".

É muito difícil avaliar o número de civis que continuam na cidade. Algumas fontes relatam uma fuga total da população, enquanto outras, como Ebdi, afirmam que ainda há moradores.

Durante a noite, de acordo com Idriss Nahsen, 350 pessoas atravessaram a fronteira turca, mas os serviços de inteligência turcos os detiveram por suspeita de ligações com os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Esses civis estão em dois edifícios em uma aldeia na fronteira, e serão transferidos para prisões nas cidades de Diyarbakir e Sanliurfa.

"Se eles não forem libertados, vão se imolar", acrescentou Nahsen, dizendo que alguns já haviam incendiado cobertores durante a noite.

Dilema turco

Apesar de os ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos terem ajudado os combatentes curdos a retomar posições dos jihadistas, não são suficientes para salvar a cidade, segundo vários especialistas. Uma intervenção militar terrestre, árabe ou turca, é a única saída para inverter esta tendência, acreditam.

O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, fez um apelo por "uma ação imediata" para salvar a cidade dos jihadistas. "A comunidade internacional tem o dever de defendê-la. A comunidade internacional não pode tolerar que mais uma cidade caia nas mãos do EI", alertou De Mistura em Genebra.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ressaltou na terça-feira a importância de uma operação militar terrestre, mas a descrença é crescente em relação à possibilidade de ver tropas turcas cruzarem a fronteira.

Apesar de o Parlamento turco ter aprovado na semana passada uma intervenção militar contra o EI, Ancara não se envolveu até o momento na defesa de Kobane.

Se Kobane cair, as negociações de paz iniciadas há dois anos entre Ancara e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) chegarão ao fim, alertaram os curdos.

O conflito chegou à Alemanha, onde pelo menos 23 pessoas ficaram feridas em confrontos na noite de terça-feira envolvendo membros das comunidades curda e yazidi e militantes islamitas em Hamburgo e Celle (norte da Alemanha).

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEstado IslâmicoEuropaIslamismoOriente MédioSíriaTurquia

Mais de Mundo

Mais de R$ 4,3 mil por pessoa: Margem Equatorial já aumenta pib per capita do Suriname

Nicarágua multará e fechará empresas que aplicarem sanções internacionais

Conselho da Europa pede que países adotem noção de consentimento nas definições de estupro

Tesla reduz preços e desafia montadoras no mercado automotivo chinês