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Clubes de maconha se integram à paisagem da velha Montevidéu

Clubes de maconha foram criados em 2013, quando o Uruguai aprovou a lei que regulou produção e comercialização de cannabis

Uruguai: clubes de cultivadores se apresentam como uma alternativa para os consumidores (PABLO PORCIUNCULA/Getty Images/AFP)

Uruguai: clubes de cultivadores se apresentam como uma alternativa para os consumidores (PABLO PORCIUNCULA/Getty Images/AFP)

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EFE

Publicado em 5 de agosto de 2017 às 11h48.

Montevidéu - Uma porta antiga, como muitas da Cidade Velha de Montevidéu, abre passagem para um dos 63 clubes de cultivo de maconha registrados no Uruguai, onde mais de 40 membros podem adquirir flores de cannabis de alta qualidade, ainda que a um custo mensal elevado.

Embora as sedes dessas associações não tenham uma identificação, o particular cheiro da planta de maconha é perceptível do lado de fora, bem como as câmeras de vigilância que controlam a entrada e saída de pessoas.

A segurança é um dos requisitos que o Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (Ircca) exige dessas instituições, que devem se registrar nesse organismo em um processo cujos trâmites burocráticos podem custar até US$ 2 mil.

O clube, cujo nome seus integrantes pedem não revelar, possui uma infraestrutura gigantesca para abastecer os 44 membros que todos os meses recebem 40 gramas de maconha a um custo de 4.300 pesos uruguaios mensais (US$ 150).

Felipe Lozano, membro desta organização, explicou à Agência Efe como é o funcionamento de um clube de maconha, algo que o Uruguai criou em dezembro de 2013, quando aprovou a inédita lei que regulou a produção e comercialização de cannabis no país.

Como primeira medida, Lozano disse que as associações devem se registrar no Ircca, que pede aos membros que detalhem as variedades de maconha que vão cultivar.

"Cada clube pode pôr suas normas gerais. Há um parâmetro sobre como cultivar, como armazenar, etc. Mas cada clube tem o seu regulamento", comentou o jovem cultivador.

Nesse sentido, Lozano acrescentou que a associação da qual faz parte só aceita membros que sejam conhecidos ou que tenham sido convidados, para assim garantir a "privacidade e segurança de todos".

Segundo a norma, os clubes podem ter entre 15 e 99 sócios, um total de 99 plantas de maconha e uma colheita que não pode ultrapassar os 480 gramas anuais por membro.

A associação de Lozano conta com integrantes de "todas as idades", que vão desde os 19 até os 65 anos.

O clube trabalha com uma base de 10 genéticas de maconha, cujo componente psicoativo varia entre 10% e 20%.

No entanto, Lozano explicou que não checa o nível de psicoatividade de todos os cultivos, porque é uma despesa "impossível de bancar" para os clubes.

"Quando experimentamos nós sabemos se são mais fortes ou mais suaves. As pessoas também têm acesso a variedades mais relaxantes, que se ajustam mais aos usos medicinais", apontou.

O cultivador deixou claro que os clubes proíbem as extrações e que só podem vender as flores de cannabis, portanto a fabricação de óleos de uso medicinal fica por conta dos usuários.

A respeito do controle estatal, Lozano relatou que não é "muito estrito", desde que os clubes se mantenham dentro da lei, referindo-se especificamente à quantidade de 40 gramas mensais que os sócios podem receber e à proibição de vender flores de cannabis a pessoas que não pertencem ao clube.

O valor da mensalidade e o grau de psicoatividade das plantas são dois fatores que ficam a critério dos clubes.

No último dia 19 de julho, o Uruguai completou a regulamentação da lei com a venda de maconha em farmácias, uma das três vias previstas na norma e a que demorou mais tempo para ser implementada.

Consultado sobre o produto que os consumidores podem comprar nas farmácias, que neste primeiro momento existe em duas variedades e com aproximadamente 2% de psicoatividade, Lozano opinou que "é para qualquer pessoa que quiser consumir cannabis e nunca o fez".

"Não vão ter um efeito muito forte, vai ser algo mais suave", considerou.

Nesse cenário, os clubes de cultivadores se apresentam como uma alternativa para os consumidores que querem adquirir a erva por meios legais e com todas as garantias de qualidade.

Lozano ressaltou que "é bom" que o país tenha tido a coragem de regulamentar, desta maneira inédita no mundo, a produção e comercialização de maconha.

"É um país que leva a bandeira de ser cada vez mais livre, que cada um tenha seu lugar na sociedade", refletiu o cultivador, embora tenha enfatizado que, ao seu parecer, a regulação posterior à aprovação "não é bem vista".

As principais reclamações são quanto à habilitação dos usos medicinais, algo que paradoxalmente ainda enfrenta vários obstáculos no país.

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