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Clima: só um acordo global salva o planeta?

Mais uma COP termina sem definir ações urgentes de combate ao aquecimento global; para especialistas, acordos entre países-chave podem ajudar a resolver a crise climática

Bonequinhos de gelo derretem em ação do WWF sobre aquecimento global, na Alemanha. (Getty Images/Exame)

Bonequinhos de gelo derretem em ação do WWF sobre aquecimento global, na Alemanha. (Getty Images/Exame)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 12 de dezembro de 2011 às 08h27.

São Paulo - Todos os anos, a Organização das Nações Unidas (ONU), com seus 193 estados-membros, se reúne em algum lugar do mundo para discutir as mudanças climáticas e, principalmente, tentar chegar a um acordo global para redução das emissões de gases efeito estufa. Todos os anos (com exceção de Kyoto, em 1997), o intento é frustrado. Embora não pareça, a sina se cumpriu novamente nas negociações da COP17, que terminou neste domingo, depois de 16 dias de intensos debates na África do Sul.

Apesar de ter sido elogiado positivamente por muitos governos, incluindo o do Brasil, o desempenho da Cúpula de Durban ficou aquém do esperado. Em vez de chegar a um novo acordo legalmente vinculante para cortes de emissões capaz de envolver todas as nações do mundo e de substituir o Protocolo de Kyoto, que expira ano que vem, a reunião fixou apenas um roteiro de médio e longo prazo para um pacto global, adiando as medidas urgentes e decisivas de combate ao aquecimento do planeta. A reunião terminiu com a promessa de criar até 2015 um novo pacto, que entraria em vigor em 2020, um intervalo de tempo considerado perigoso pela ciência. 

Para os ambientalistas, o encontro foi um "fracasso", não apenas pelo adiamento de um novo pacto global, mas pela falta de empenho das partes para criação do fundo climático de US$ 100 bilhões prometido na conferência de Copenhague, há dois anos, que ajudaria os países mais pobres a enfrentar a mudança climática. Mesmo o que tem sido apontado como resultado positivo da COP17 - a aprovação da extensão do Protocolo de Kyoto, único acordo de caráter legalmente vinculante de corte de emissões que entrou em vigor em 2005 - pede um olhar mais atencioso.

"O Protocolo só teve impacto sobre os países da Europa. Eles cumpriram boa parte das metas, mas não tudo. No entanto, para o resto do mundo, o acordo foi irrelevante", afirma Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e um dos maiores especialistas em negociações climáticas do país.


Sem a adesão de grandes poluidores, como Estados Unidos e China, a extensão de Kyoto por mais cinco anos, como previsto em Durban, não promete conquistas determinantes de combate ao aquecimento, principalmente porque a União Europeia já reduziu consideravelmente suas emissões. Aprovada no último dia do encontro, em plena madrugada de domingo, a extensão do Protocolo pode ser encarada como um ato de desespero da Cúpula para evitar mais um fracasso da reunião do clima da ONU.

Para Katharine Hayhoe, climatologista americana da Universidade do Texas, em cada conferência sobre o clima desde Kioto, os países se comprometem em reduzir emissões de carbono, mas na prática sempre colocam os seus próprios interesses nacionais e econômicos em primeiro lugar. "Obviamente, as possibilidades de progresso dentro deste modelo parecem bastante limitadas", critica.

Diante deste cenário de ceticismo e descrença em relação às negociações climáticas da ONU, uma pergunta se torna inevitável: Só um acordo global pode combater o aquecimento e salvar o planeta? Os especialistas ouvidos por EXAME.com respondem que não e apontam outros meios.

Steve Zebiak, diretor geral do Instituto Internacional de Pesquisa em Clima e Sociedade, da Universidade de Columbia, diz que um tratado abrangente global não é o único caminho, nem mesmo a forma mais prática, para enfrentar o desafio das alterações climáticas no presente. "Pode ser mais fácil e eficaz se concentrar em acordos entre os países-chave para abordar questões específicas dentro da agenda da mudança climática", diz.


Viola, da UNB, defende essa ideia há tempos. Para o especialista, o caminho mais claro e consistente para se alcançar um novo acordo global sobre o clima deveria ser discutido nas relações bilaterais entre potências ou dentro do G20, grupo que concentra os maiores emissores de carbono do planeta e que possui mais recursos para financiar ações de mitigação às mudanças climáticas.

"Um acordo dentro do G20 torna tudo mais fácil", defende. "O problema é que, no curto prazo, vejo o mundo preocupado com uma recessão econômica e pouco dedicado à solução dos problemas climáticos", ressalva. Em seguida, tem-se um segundo estrato de emissores relevantes, que inclui Rússia, Índia, Brasil, Japão e México, que também podem negociar entre si. Há ainda um terceiro grupo, que engloba países como Coreia do Sul, África do Sul, Nigéria, Irã, Arábia Saudita, Tailândia, Egito, Turquia e Ucrânia.

Mas há um acordo em especial capaz de redesenhar o rumo das discussões climáticas e o destino do planeta. O pacto de maior potencial de combate ao aquecimento global seria um entre China e Estados Unidos, no qual os dois maiores emissores de gases efeito estufa se comprometessem à reduzir suas emissões.

Um acordo como esse poderia garantir a transferência de tecnologia nuclear dos EUA para a China, que fecharia suas usinas termelétricas à carvão, o grande vilão da poluição chinesa. O pacto também poderia inserir inserir a variável "carbono" no comércio bilateral e nos investimentos entre os dois países. "Aí o mundo mudaria de fato", diz Viola.

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