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Civilização extinta salva vidas e gado na Amazônia boliviana

Conhecimentos de uma civilização extinta da Amazônia boliviana salvaram das últimas inundações mais de dez famílias e centenas de cabeças de gado


	Amazônia: habitantes identificados por cronistas do século XVI foram capazes de construir uma labiríntica rede de canais e colinas para dominar a cheia dos rios
 (Wikimedia Commons)

Amazônia: habitantes identificados por cronistas do século XVI foram capazes de construir uma labiríntica rede de canais e colinas para dominar a cheia dos rios (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2014 às 10h17.

La Paz - Os conhecimentos de uma civilização extinta da Amazônia boliviana salvaram das últimas inundações mais de dez famílias e centenas de cabeças de gado graças às colinas artificiais montadas com técnicas ancentrais dos misteriosos habitantes da região.

Aqueles habitantes dos "Llanos de Moxos" foram identificados por alguns cronistas espanhóis do século XVI como os senhores do Paititi, o fabuloso Eldorado no qual se refugiaram os últimos incas, e foram capazes de construir uma labiríntica rede de canais e colinas para dominar a cheia dos rios.

Estas milenárias infraestruturas hidráulicas foram descobertas nos últimos anos, para surpresa de arqueólogos e pesquisadores. Agora, com apoio da ONU, os atuais habitantes de Moxos recuperaram esses conhecimentos e lidaram com as devastadoras inundações que a cada ano tiram dezenas de vidas no leste da Bolívia.

Neste ano, pelo menos 60 pessoas morreram no país e 60 mil famílias foram afetadas pelas chuvas, que se estendem de outubro a março.

O projeto das colinas dos Moxos é promovido pela Unidade de Emergência e Reabilitação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) na Bolívia, em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Graças a este apoio, habitantes do departamento (estado) boliviano de Beni ergueram colinas para a proteção de gado, ou seja, pequenas plataformas retangulares cimentadas com o solo da região que salvaram mais de uma dúzia de famílias e cerca de 300 cabeças de gado bovino.

Em entrevista à Agência Efe, o coordenador nacional desta unidade da FAO, Einstein Tejada, explicou que a iniciativa visa resguardar as vidas dos que habitam naquela que é uma das maiores áreas de inundação das terras baixas americanas.

"Utilizamos os conhecimentos ancestrais e as boas práticas de antigamente para adotá-las de novo e aplicá-las à pecuária", explicou.

Recentemente foram descobertas nos Llanos de Moxos extensões de terras com trabalhos que datam do período pré-colonial e que formavam um sofisticado sistema de controle hidráulico.

Entre elas, destacam-se essas colinas artificiais, montadas por acumulação de resíduos orgânicos.


Estes trabalhos permitiram ao povo "moxeño" lidar com as limitações ambientais da região para a agricultura: as inundações estacionais e um solo pobre em nutrientes.

Segundo Tejada, a construção das atuais colinas de resguardo de gado foi viabilizada após uma árdua pesquisa sobre estes antigos conhecimentos.

As elevações foram construídas apenas em terras onde habitam criadores de gado que não tenham mais de 30 cabeças por família, e com isso visa ajudar as pessoas mais desfavorecidas economicamente.

O coordenador lembrou que a chegada dos jesuítas à Bolívia durante a colonização das Américas mudou todo o enfoque produtivo de Beni e fez da pecuária a principal atividade econômica.

A economia criadora de gado prevalece em Beni desde então, e por isso a prioridade do programa era proteger a vida das cabeças de gado.

Desde que começaram as chuvas, morreram nesse departamento mais de 200 mil animais. No entanto, perante a gravidade da situação neste ano, as famílias utilizaram as colinas de resguardo de gado para sua própria segurança, como faziam os antigos moxeños.

Tejada afirmou que, atualmente, com o apoio financeiro de diferentes instituições, já foram construídas quase dez colinas, e esta ideia "quer ser repetida pelos próprios criadores de gado de maneira particular" para salvar seus animais.

Cada colina pode abrigar até 800 cabeças de gado e, para erguê-las, foram escolhidos os lugares nos quais, segundo os registros históricos, as inundações foram recorrentes.

"Também são priorizadas terras que não afetem áreas de floresta e onde haja uma comunidade próxima que tenha um sistema de pecuária de subsistência", acrescentou Tejada.

As cidades nos quais foram construídas as colinas são as de Loreto, Camiaco, Argentina, San Pedro Nuevo, Fátima, San Lorenzo de Moxos, San Andrés, San Juan de Mocovi e Santa Ana de Yacuma, um dos lugares mais afetados pela devastação das chuvas.

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