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Cimento nacional tem menor emissão de CO2 que média mundial

Mas, segundo pesquisador, a emissão brasileira no setor pode e precisa diminuir ainda mais

Caminhões de cimento em frente à construção do Shopping Plaza Anchieta, em Belo Horizonte. (./Wikimedia Commons)

Caminhões de cimento em frente à construção do Shopping Plaza Anchieta, em Belo Horizonte. (./Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h47.

São Paulo - A indústria de cimento no Brasil emite menos gás carbônico (CO2) na atmosfera se comparada à média mundial. Enquanto as empresas brasileiras despejam na atmosfera 659 quilos (kg) de CO2 por tonelada (t) de cimento, a emissão mundial fica entre 800 kg e 880 kg de CO2/t.

"Nossas cimenteiras são modernas e tem um consumo de energia baixo comparado com os outros países", descreve o engenheiro José Antonio Ribeiro de Lima. Em seu estudo realizado na Escola Politécnica (Poli), ele aponta que as emissões menores em relação ao resto do mundo vem desde a década de 1990.

Mas, segundo o pesquisador, a emissão nacional no setor pode e precisa diminuir ainda mais. Segundo Lima, a recomendação de diminuição se justifica, já que a meta mundial é saber quanto os países podem reduzir percentualmente de emissão do gás. Desse modo, em países como a Índia e a China, que emitem muito CO2 e não possuem uma indústria cimenteira moderna como a do Brasil, a substituição das plantas antigas pode levar a resultados percentuais maiores do que no Brasil.

"O principal componente do cimento, o clínquer, tem alta emissão devido à grande participação do calcário em sua produção, pois parte do calcário se transforma em CO2", descreve Lima. Ele explica que a substituição deste material é difícil por ausência de materiais substitutos á altura, porque ele é barato e abundante na natureza.

O cimento é uma mistura de clínquer e adições e, no Brasil, o alto teor de adições leva à redução da emissão total de CO2. Tal medida começou a ser feita no país a partir da década de 1980, cujos resultados se observaram na década de 1990. “A indústria nacional usa alto teor de adições, como a escória de alto forno, que é um resíduo da indústria siderúrgica”, comenta o engenheiro.

No estudo, a quantidade de CO2 emitido pelas cimenteiras nacionais foi estimado com base no número de cimento produzido nos últimos anos pelas indústrias do ramo, conforme disponibilizado pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) .

Possibilidades de redução
A pesquisa fez parte da tese de doutorado do engenheiro, que foi orientada pelo professor Vanderley Moacyr John, do Departamento de Engenharia Civil da Poli. Lima estimou a emissão no cimento nacional e analisou formas de redução. Em seguida, estudou a aplicação do cimento em concreto, para avaliar como fatores específicos deste uso influenciam nas emissões.

Referente à produção de cimento, a pesquisa considerou que uma das possíveis formas de reduzir a emissão se dá pela utilização de combustíveis alternativos nas cimenteiras. A indústria nacional usa principalmente o coque, produto advindo do petróleo e muito poluente. "Poderiam ser usados combustíveis com emissão zero. Como? Com o uso de biomassa na forma resíduos de madeira, resíduos da produção de cana, ou na forma de madeira plantada, que pode ser cara", exemplifica Lima, que acrescenta que, apesar de parecer difícil, tal medida poderia ser estimulada por incentivos ou até mesmo pressão estatal.

Entretanto, o engenheiro enfatiza que não adianta as cimenteiras reduzirem as emissões se, no uso do cimento, houver desperdício. Isso acontece com aplicação de quantidades maiores do que as que são usadas em situações corretas da tecnologia do concreto.

Lima exemplifica: "Por exemplo, para produzir um concreto estrutural com determinada resistência, sem aplicação do conhecimento sobre o assunto e sem equipamentos adequados, é necessário acrescentar mais de 15% de cimento para que o concreto apresente a mesma resistência que concretos bem preparados." Ele também comenta que, mesmo para concreto bem preparado, há o desperdício na aplicação, pela fração que se perde no piso da obra, por erro nas dimensões das peças estruturais e outros fatores.

O engenheiro acredita que o País precisa de políticas públicas para a boa aplicação do cimento na obra. "Devem ser estimuladas discussões e a busca de soluções, que dificilmente poderão contemplar apenas um aspecto, e aí serão necessários indicadores como os obtidos na pesquisa, para tornar mais claro, para os participantes, do que se está falando, facilitando assim a busca de soluções."

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