Sede da NSA: revelações sobre as operações da NSA "apontam para um país, mas há espionagem em toda parte", afirmou Patrick Pailloux, diretor da ANSSI (AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2013 às 14h31.
Paris - A espionagem eletrônica entre países, inclusive aliados, é algo comum e inevitável para defender o ciberespaço, que se tornou um campo militar como qualquer outro, afirmam especialistas.
Há vários meses, as revelações do ex-consultor da agência de segurança americana NSA Edward Snowden mostram a magnitude do Prism, o programa americano de espionagem em massa mundial.
As revelações também criam tensões entre aliados, como ocorreu na segunda-feira, quando França e México reagiram com indignação ao descobrirem através do jornal Le Monde que a NSA havia espionado milhares de comunicações telefônicas e todo tipo de mensagens nesses países.
Estas práticas são inaceitáveis, insistiu nesta terça-feira o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
A ministra francesa de Economia Digital, Fleur Pellerin, havia feito críticas parecidas na véspera, embora tenha reconhecido que este fenômeno sempre existiu.
Essa opinião é compartilhada por especialistas.
As revelações sobre as operações da NSA "apontam para um país, mas há espionagem em toda parte", afirmou recentemente Patrick Pailloux, diretor da Agência Francesa de Segurança de Sistemas de Informação (ANSSI).
"A NSA tem meios financeiros enormes, o que necessariamente serve para algo. Houve uma ingenuidade fingida por parte de certos Estados, mas se seus próprios serviços secretos pudessem falar...", comentou recentemente Bernard Ourghanlian, diretor de técnica e segurança da Microsoft France.
Espionar outro Estado ou as estruturas importantes de empresas de outro país é uma prática conhecida. Em meados deste ano, "todos perceberam que não estamos num mundo de anjinhos e que ninguém se priva de espionar países 'aliados'", afirma Loic Guezo, diretor técnico no sul da Europa da empresa japonesa Trend Micro.
Zona de guerra como qualquer outra
Seja com fins econômicos e de concorrência (recuperar dados industriais), com objetivos ideológicos (espionagem diplomática) ou simplesmente por capacidade técnica, "todos os Estados são ciberespiões cujas motivações variam, mas que utilizam as mesmas técnicas", sustenta Laurent Heslault, diretor de estratégias de segurança da empresa Symantec.
"Atualmente, qualquer conflito tem seu ciberconflito. O ciberespaço é um novo campo militar, como são a terra, o ar e o mar", afirma.
Os ataques contra os sistemas informáticos são cada vez mais obra de grupos patrocinados por Estados, como o Exército Eletrônico Sírio ou grupos chineses, "que todos sabem que têm permissão oficial do governo", afirma Guezo.
Na China, foram identificados 200 grupos ligados ao governo, segundo a empresa americana FireEye, que publicou na segunda-feira um relatório sobre as características dos ciberataques, de acordo com os continentes e os países.
"O ciberespaço é uma zona de guerra completa na qual os tiros são disparados muito antes do início das operações militares clássicas no campo de combate. Mas um míssil pode ser identificado, enquanto é muito difícil saber quem está por trás de um ciberataque", afirma Denis Gadonnet, executivo da Fireeye na Europa.